Naquela noite eu decidi que iríamos jantar num lugar especial. Depois que sai do banho comuniquei que ela deveria se arrumar um pouco mais elegante. Tudo parecia muito bom para ser verdade, mas eu pagaria para ver. Fecho meu notebook e caminho até o armário para pegar minha carteira. Passo por ela e me sinto um pouco atordoado pelo seu cheiro. Respiro fundo, me controlo.Depois de pronto, eu tinha certeza que teríamos uma noite agradável. O cheiro dela dominava o quarto, e a encontrei prendendo as tiras do salto. Dou um sorriso, a espero enquanto arrumo meu relógio. Quando ela se levanta, está magnifica.
— Vamos?
No taxi a caminho do restaurante, eu só consigo pensar na sorte dessa trégua entre nós. São tantos lugares que quero ver com ela, e eu confesso que estava me corroendo com a possibilidade de perder todas as descobertas de Giovanna.
— Sabe que você é o primeiro com quem eu faço isso? — ela me diz em uma voz rouca de tanto gemer meu nome.
Eu aberto meu abraço ao redor dela, balanço a cabeça em negação, olho para ela. Toco seu rosto com carinho.
— Não quero que se sinta pressionada a nada comigo.
— Não senti. Eu quis. — ela sobe mais no meu peito, vem cheirando meu pescoço. — Eu amo o seu gosto.
— Gio...
— Nem acredito que demorei tanto para provar você. — ela fala contra minha boca e eu a beijo com vontade, sentindo meu gosto na boca dela ainda, uma mistura deliciosa de tudo que somos juntos.
Seguro sua nuca e a afasto do meu beijo, ela sorri, safada como vem se mostrando ser por trás de toda a seriedade de mulher.
— Obrigado por confiar em mim. Quero que todas as suas primeiras vezes comigo sejam especiais.
Quando ela me olha, eu tento disfarçar. Mexo na manga da camisa branca que uso, olho para janela, converso com o motorista. Logo que chegamos, a ajudo a descer do carro. Giovanna olha para o restaurante encantada, era um dos mais finos de Florença, e disso eu não abriria mão. Em Istambul teríamos mexilhões no Bósforo, aqui eu queria tudo do melhor para a melhor pessoa do mundo.
O teto do restaurante tem algumas pinturas, coisas que foram restauradas de anos passados, onde eu e ela não imaginávamos nascer e estarmos casados. Ela olha tudo encantada, agradece o homem que nos acompanhou até a mesa. Quando sentamos, vejo que ela não consegue parar de olhar para o teto.
— Vai ficar com torcicolo desse jeito. — eu falo enquanto pego a carta de vinhos.
Ela me olha e sorri. Por Deus, como senti falta desse sorriso.
— É tudo muito lindo, como pode essa cidade existir?
Eu paro por um tempo, concordo com ela.
— Essa cidade combina com você. Respira arte, assim como você.
Ela desvia o olhar para o cardápio. Eu peço um vinho, ela escolhe o que quer comer, e de repente esquecemos das dores que nos cercam e começamos a falar sobre arte. Tudo que ela viu hoje, as coisas que prestou atenção, as mensagens em cada pintura e cada escultura. A cada garfada era um comentário diferente, e quando vejo, acabamos com a garrafa de vinho. Ela está vermelha, mas longe de ser pelo abuso de álcool. É animação e vida que pulsa por suas veias.
— Quem sabe se inspira a pintar um quadro, então? — eu falo enquanto pego meu cartão do banco com o garçom.
— Bom, ou sairei inspirada, ou assombrada por nunca ser capaz de reproduzir coisas tão lindas.
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