XXV

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Eu senti o momento em que ela acordou pois começou a se desvencilhar devagar. Era óbvio que ela jamais assumiria isso, e eu honestamente não diria nada também. Eu só poderia ir até certo limite, não forçaria qualquer coisa com relação a isso tudo que acontecia, o no momento em que ela estivesse pronta, sentaríamos para conversar e nos resolver.

Essa era minha esperança.

Escuto ela levantar da cama, abro levemente os olhos e posso vê-la caminhar até a janela. Por achar que ainda estou dormindo, não se cobre com o roupão. Vejo ela espiar pela cortina, atenta como uma criança que descobre as coisas. Era linda com os raios de sol em seu corpo.

Já tive essa visão antes em minha casa, na casa dela, enquanto Pamuk subia na cama para me vigiar, todas as vezes eu pude dizer o quão linda ela era, mas aqui eu tive que me conter.

Me contenho apenas porque se eu falar algo, acabarei trazendo-a para a cama, matando a saudade que eu tinha de ser corpo e de seus gemidos.

Volto a fechar meus olhos quando ela sai da cortina e caminha até o armário, pegando uma roupa e indo para o banheiro, se trancando lá com seu entusiasmo. Me permito levantar, ainda sentindo o cheiro dela ao meu redor. Eu também pego uma roupa mais casual, meus planos para hoje envolvem trabalho e mais trabalho.

Quando Giovanna sai do banho, eu já estou abrindo o meu notebook na mesa ao lado da janela. Ela me olha estranho, mas disfarça com um sorriso.

— Vai ficar trabalhando?

— Vou aproveitar para adiantar alguns processos da empresa, adiantar o pedido de alguns materiais.

— Por ser o dono eu achei que tinham pessoas que faziam isso tudo para você.

— Eu gosto de ver tudo de perto, como você disse, eu já não construo nada mesmo, então...

— Você construiu o meu ateliê. — ela fala como se precisasse lembrar.

— Foi uma boa obra.

— Foi. — eu sinto que em sua boca tem mais palavras do que essas que ela me disse.

Mas ela se cala. Volta a seus planos como se nossa interação nunca tivesse acontecido. Depois de alguns minutos ela reúne sua bolsa, seu celular e sua carteira. Termina de se arrumar na frente do espelho, e eu a admiro em silêncio. Nunca pensei que fosse de admirar calado, mas descobri essa nova faceta desde que a conheci. Amava vê-la se arrumando, passando batom, colocando um brinco.

Ela se volta para mim.

— Bom, eu vou sair então.

— Claro. — eu me levando da cadeira e vou até minha mochila de viagem, pegando um cartão de crédito.

Me aproximo dela e estendo.

— Aqui, use como quiser, para o que quiser. Não passe vontade se quiser comprar alguma coisa.

Ela olha desconfiada, mas pega. O que era meu, também era dela.

— A senha é o seu aniversário.


Aquilo me pega de surpresa, assim como a realização de que aquele cartão era novo e tinha meu nome nele. Agradeço em tom baixo e saio do quarto, me dando conta de que meu coração estava acelerado. Me recomponho, saio para andar.

Eu comeria na rua, e se eu fosse esperta o bastante só voltaria no fim da tarde. Pego um táxi que já estava parado na frente do hotel e abro o guia que Alexandre fez para mim. Um dos lugares mais próximos do hotel era o Museu de São Marcos.

Lá tinha uma linda pintura de Beato Angélico, chamado Anunciação. Como o nome já dizia, fazia referência a anunciação que o arcanjo Gabriel fez a Maria. Quando eu chego no local para comprar o bilhete, a moça pede meu documento.

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