XLIII

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Quando Giovanna me ligou naquela manhã, eu queria estar com menos ressaca. Ela disse que Emir queria me ver, que me chamava para tomar café. Eu só tive tempo de concordar antes dela desligar, fui incapaz de formular qualquer outra frase. Existiam perguntas que eu queria fazer, sobre como o que ele gostava de comer, o que gostava de fazer, qual era a cor favorita dele.

Eu levanto da cama, todo um banho gelado. Me arrumo com a melhor roupa, ajeito o cabelo do melhor jeito, dou uma aparada na barba. Passo um perfume porque de repente impressionar a mãe de Emir também é extremamente importante.

Eu não consigo esquecer o beijo.

Não consigo superar o reencontro com a boca dela.

Eu achei que tivesse passado. Esquecer, nunca. Mas passado, virado uma coisa crônica que se trata com remédio mas você sabe que não cura, só adormece.

— Omar, Omar... estou dizendo, ela vai me enlouquecer.

Um filho, Nero! Que loucura!

Ele é a cara dela, inteligente e educado.

Tem que trazer o menino para conhecermos, sua mãe vai ficar maluca.

— Minha mãe... droga, como vou explicar para ela. Até hoje me critica pelo que fiz, imagina quando souber que fiz tudo com ela estando grávida.

Esquece isso, vai aproveitar o seu filho e quando voltar para Istambul você resolve as coisas.

Eu estaciono o carro na frente da casa e respiro fundo. Me olho no espelho de novo, olho o horário no celular. Um pouco mais cedo do que tínhamos combinado, mas espero que não seja um problema.

Respiro fundo o ar italiano, e então escuto risadas vindas do jardim. Vou me aproximando devagar entre os arbustos até ter a mais linda visão. Giovanna cortava mangas frescas ao lado de Emir, dava alguns pedaços na boca dele, que reagia com o italiano mais exagerado de seu coração.

Eles pareciam tão sintonizados que eu queria fazer parte de tudo aquilo.

— Mama, corte mais.

— O que aconteceu com anne? Sabe que eu prefiro que fale turco em casa, meu bem.

— Ah, mama...

— Sem mama... você nasceu em Izmir!

— Mas nunca me levou lá! Tem que me levar lá para eu ver se... me pareço com o lugar.

— Emir Can, Emir Can... vá, pegue os copos, ele deve estar chegando.

Eu aproveito quando o menino se afasta para sair do meio do mato. Giovanna olha em minha direção ao ouvir o barulho. Sua postura falha, mas ela sorri pra mim.

– Bom dia, Nero. Existem jeitos de entrar na casa de alguém sem ser invadindo o jardim.

— Vim guiado pela risada de Emir.

Eu me aproximo sem jeito, me apoio na cadeira.

— Ele está bem melhor, acho que ele só precisava de um tempinho.

— Assim espero.

O sorriso dela foi simpático e eu me senti acolhido. E isso eu não esperava depois de ontem.

— Canan e Kemal não estão?

— Meu tio a levou para passar o dia em Florença, voltam só a noite.

Desvio o olhar, já imagino o porque de Kemal não querer estar em casa. Ela não fala nada, e o assunto se encerra com a chegava de Emir. Quando ele me vê, sorri aberto, e essa era a única reação que me importava.

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