XXXIX

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— Isso não importa para você, Nero. — Canan me responde na lata.

— Me importa, me importa, sim. Eu quero saber se há a mínima possibilidade de Emir ser meu filho.

— Ele não é.

— Então por que não posso saber quando ele nasceu?

— Porque não! — ela se exaltou. — Porque você não tem esse direito de aparecer na vida da minha filha depois de anos para reivindicar qualquer coisa, Nero. Você a mandou embora, lembra? Sem que ela pudesse ao menos te ver, a mandou embora como se fosse um cachorro.

— Eu fiz para protegê-la!

— Ela só queria você! Giovanna quase morreu, Alexandre. Ela quase não aguentou de tanto desgosto, demorou para minha filha de recuperar.

— Não tanto assim, afinal ela conheceu alguém e teve um filho, não é?

— Nero...

— Se Emir for meu... se ele tiver o meu sangue... eu vou querer saber, Canan.

— Para mandar ele embora da sua vida também? Afinal, alguma coisa na sua vida mudou? Seus inimigos morreram? Minha filha quase morreu duas vezes por sua culpa, Alexandre. Vai fazer isso com Emir também?

Eu fico calado.

A verdade é que se Emir for meu filho, a simples possibilidade, me enche de felicidade e muito medo. Talvez um pouco de raiva por ter sido excluído da vida dele, mas acima de tudo medo de perder outro bem tão precioso quanto Giovanna.

Eu olho para ele se divertindo com os amigos e me dá vontade de vomitar só de imaginar Hakam descobrindo sobre a existência dele.

Olho de volta para Canan e vejo um traço de compaixão em sua feição.

— Ele não é seu filho, Alexandre. Aceite isso e deixe minha filha em paz, nós estamos bem.


Eu olho para Emir sentado na mesa de jantar com Kemal, concentrado na lição de casa, e tento acalmar minha mente com tudo que Canan me fala. Nero estava com Emir hoje, pegou sorvete para a turma toda, conversou com meu filho. Eu não sabia que a minha vida podia piorar, mas a presença de Alexandre conseguia ser peça chave nisso.

— Eu neguei tudo, querida, mas ele estava fissurado na possibilidade da paternidade.

Sinto meus olhos queimarem de raiva e de lágrimas. Olho para Canan com leve desespero.

— Emir é meu filho, eu crio ele sozinha. Ele... acha que Alexandre tomaria meu filho de mim?

— O que? Não! Querida, imagina, isso nunca aconteceria.

— Alexandre é rico, ele...

— Eu me permiti procurar mais sobre ele na internet. — Canan me interrompe. — Ele não tem mais toda aquela fortuna, a justiça tomou tudo. Ele está começando do zero. O que ele tem é o suficiente para viver, mas não para manipular pessoas como ele fazia.

— Mas ele é influente.

— Apesar de tudo, eu acredito que ele jamais faria algo tão grande assim para te ferir.

Eu me apoio na pia, fico de costas para o campo de visão de meu filho e de meu tio. Sinto as mãos de Canan em meu ombro, acariciando como se pudesse me passar força.

— Talvez tenha chegado a hora de enfrentrar seus demônio, minha filha.

— Eu não sei se consigo.

— Quanto antes fizer isso, melhor vai ser para você. Vai poder viver em paz e realmente seguir sua vida.

Olho para Canan e penso em como ela está certa.

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