XXIII

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Eu acordo com a maior dor de cabeça do mundo, e não é a dor de cabeça de quem bebeu todas. É daquelas chatas de quem pensou muito antes de dormir, fritou o cérebro realmente. Sinto meu corpo doer como se tivesse passado por um grande estresse. E passou.

Sento na cama, eu me sinto pesado. Olho para minha janela fechada pela cortina e reflito sobre o dia anterior. Olho para o espaço vazio ao meu lado na cama e penso na mulher que deixei dormindo no meu quarto. Depois que ela terminou de colocar tudo para fora na calçada, voltou a ficar sonolenta. A acomodei no banco do carro, passei a dirigir para casa. Meus seguranças olham para o carro, mas nada falam, apesar fecham o portão e voltam a escolta. Tiro Giovanna, caminho com ela até meu quarto, a deixo na minha grande cama. Tiro seus saltos, libero os primeiros botões na parte de trás do vestido para que ela respirasse melhor.

Tudo isso enquanto sentia as lágrimas caírem por meu rosto. Eu me derrubei na cama, mas não conseguia dormir.

E o resultado estava nessa baita dor de cabeça. Levanto a trancos e barrancos, vou até o banheiro o ligo o chuveiro. Já tinha separado uma roupa na noite anterior para não atrapalhar Giovanna.

Depois de vestido, me pego olhando no espelho.

Não reconheço quem eu me tornei.

Eu jamais me apaixonei. Sentia o gosto amargo desse sentimento no pior cenário de minha vida, tudo por culpa minha. E se eu tivesse contato tudo desde o começo? Teria mudado alguma coisa? Eu não consigo ver outro cenário se não Hakam matando o pai dela, talvez cometendo alguma coisa coisa contra ela.

Saio do quarto devagar, passos leves para não fazer barulho na madeira. Me aproximo da minha porta, abro, a vejo sentada na cama, ela tentava tirar o vestido, parecia tão exausta quanto eu, mas com a coordenação bem mais comprometida.

— Giovanna, quer ajuda? — eu falo entrando no quarto, firme, tentando ser o que um dia eu fui.

Ela me olha surpresa. Não fala, mas eu me aproximo e tento ajudá-la. Giovanna se afasta de mim.

— Me deixa, Alexandre. — ela resmunga.

— Me deixa te ajudar, caramba. — eu rebato, tentando me aproximar de novo.

— Você vai me ajudar se sair desse quarto.

Eu bufo, saio do quarto e fecho a porta com força. Seria impossível continuar assim, eu precisava entender em que pé estávamos. Sento no corredor, olhando para porta dela. Escuto ela se mover pelo quarto, abrindo o armário. Lembro de todos os dias que passamos movendo as coisas dela para cá, separando um cantinho para Pamuk, o coitado chegaria e encontraria um clima tão estranho entre nós.

Marco em minha mente a necessidade de comprar sachês.

Eu tinha que ter ao menos Pamuk do meu lado.

Não sei quanto tempo se passa, mas quando ela abre a porta, usando uma calça e moletom cinza e uma regata de alças finas, os cabelos molhados, posso ver a surpresa em seu olhar. Levando logo, e antes que ela tente passar por mim, seguro seu braço.

— A gente precisa conversar, eu não vou tolerar esse silêncio, Giovanna.

— Sobre o que vai mentir para mim?

— O que eu disse, repito: tudo que Hakam falou é verdade, mas tudo teve um motivo. Seu pai te usou como moeda de troca, eu não podia te colocar em risco, Giovanna.

— Estou morando sob o mesmo teto que um agiota, não sei se estou no lugar mais seguro do mundo.

— Eu jamais de colocaria em perigo, muito pelo contrário. — rebato sério. — Se for para vivermos assim, por que diabos casou comigo?

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