XXVII

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Eu senti alguns beijos nas minhas costas. Foi assim que eu acordei. A barba roçava na minha pele, deixando um rastro vermelho e um arrepio. Meu corpo foi despertando, mas minha mente já estava a milhão.

Me entreguei.

Eu tinha a resistência de um galho seco.

Mas também sabia que por dentro meu coração estava quente. Eu era sua esposa, afinal. Eu sonhei com isso, com a nossa noite de núpcias, e mesmo atrasada, ela foi linda. Intensa, quente, molhada, barulhenta, porque nada que fazíamos era inocente, tudo era indecente. Com línguas, tapa, arranhão, puxão de cabelo. Uma intimidade desvendada só com ele.

Mas a luz do dia ia entrar nessa quarto, ia expor nossas feridas.

As cortinas ainda estavam fechada. 

Aos poucos fui me virando, ficando de frente para ele. Seu corpo se colocou sobre o meu, sua mão acariciou meu rosto. Ele estava calado, estava sério, acho que em sua mente se passava a mesma coisa que se passava pela minha. 

E agora? 

— Não precisa falar nada. — a voz rouca dele foi a primeira coisa a romper o silêncio. 

Toquei seu braço devagar, não desviei meu olhar. Eu devia estar em pânico. 

— Vamos viver isso daqui, e então, se quiser o divórcio em Istambul, conversamos, está certo? — ele se inclinou e beijou minha boca como se não aceitasse outra resposta se não o 'sim'. — Por favor, me deixe ter isso aqui. 

Como eu poderia negar qualquer coisa para esse homem? 

Eu o beijo mais uma vez só porque aqui dentro eu posso. O envolvo pelo pescoço, puxo seu corpo para o meu, ele se entrega ao beijo sem reservas alguma. Desde o primeiro dia, eu sei, se entregou para mim sem reservas alguma. 

O destino pregou essa peça. Ele caiu. 

Nos afastamos e eu viro meu rosto. 

— Vou tomar um banho. — falo, me enrolando com o lençol. — Pode pedir o café? 

Ele concorda, se jogando de novo na cama, levando as mãos ao rosto. Eu seguro um sorriso ao perceber a ereção por baixo do lençol que cobria o corpo dele da cintura para baixo. Vou até o banheiro rapidamente. Tranco a porta para não ser interrompida. Enquanto o chuveiro esquenta, me olho no espelho. 

Minha pele está vermelha em alguns pontos, irritada pela barba dele, e de alguma forma pedindo pela boca gostosa como alívio. No meu pescoço, um pequeno chupão que eu teria que cobrir com maquiagem. Viro de costas, me olhando. Mordo o lábio ao perceber uma marca na minha bunda, resultado das investidas que eu mesma pedi na noite passada. Fico de frente novamente.

Estico meu braço até ver minha aliança no campo de visão. 

Eu penso no primeiro dia que o vi, no cheiro de cigarro e no sorriso charmoso maldito que ele tinha. Convencido. Eu lembro de mim, de como eu era, das coisas que passavam pela minha mente. Quando me olho no espelho de novo, não me reconheço. 

A mulher que eu era não existia mais. 

Essa aqui era apaixonada pelo homem com quem se casou, a quem disse sim no altar querendo que ele sofresse até o fim dos dias. 

E ela sumia com o vapor que consumia o vidro. 



Quando Giovanna sai do banho, a primeira coisa que sinto é seu cheiro fresco. Ela se aproxima de mim e sorri. Eu tinha arrumado a mesa que tinha vista para o duomo com tudo que cabia, e deixei o carrinho com as outras coisas que o funcionário do hotel trouxe. Ela senta na minha frente, usava o roupão assim como eu, e a simples constatação de que ela estava nua por baixo já me deixava maluco. 

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