IX

425 39 10
                                    



Sinto que se eu falasse mais alguma coisa eu estragaria o momento. Sinto também que meus sentimentos ficam descontrolados perto dela. Eu sempre pensei melhor do que isso, eu nunca tomei atitudes impulsivas, e eu era bom em ver o potencial em todas as coisas. Nisso aqui, nessa relação torta que eu estava construindo com Giovanna, o fim era um só e era trágico.

Quando vejo o olhar dela suavizar, quando vejo seu corpo confiar em mim, sabia que o diabo estava fazendo uma cama para mim do lado dele.

Ela limpou a lágrima, riu, pediu desculpa, tudo ao mesmo tempo, e então me olhou de maneira doce e disse que deveríamos voltar a comer, e que depois deveria ir para casa. Eu fiquei hipnotizado pelo simples fato de que ela botou fé em mim bem aqui.

— Eu te devolvo o vestido depois. — ela falou quando entramos no carro para que eu a levasse para casa.

— Imagina, é seu. Ficou lindo em você, e o verão está aí.

— Você pretende viajar? — ela perguntou genuinamente curiosa, engajando uma conversa casual.

— Não sei, acho que não. Costumo fazer negócios nessa época do ano, acabo sempre ficando em casa ou no escritório. E você?

— Esqueça, vou procurar um emprego de verão para conciliar com o Ataturk.

— Diz isso por causa do seu pai?

— É lógico, preciso resolver isso o quanto antes.

— E se... e se eu cuidasse disso para você?

— Diz me emprestar dinheiro? Não, eu não poderia.

— Seria um presente de formatura, o que acha? E eu trataria esse assunto com seu pai, uma mulher como você jamais deveria ter que lidar com essa gente.

As palavras saíram amargas de dentro de mim. Nessa lógica, ela não poderia sequer ligar comigo. Giovanna só riu.

— Uma mulher como eu? O que tem eu?

Eu dou um sorriso, olho para fora, seguro o volante do carro com mais força. É como se a maldita não soubesse o poder que tem. Resolvi ir para o clichê.

— Uma mulher delicada e bonita não apode se expor a esse tipo de situação.

— Eu sei me virar, senhor. Sou uma mulher que mora sozinha em uma cidade grande.

— Eu sei que pode se virar sozinha. Só digo que não precisa mesmo.

Ela me olhou desconfiada, mas eu via o sorriso dela. Sigo dirigindo pela cidade, a minha mente calma ao lado dela. Eu tinha certeza que se fosse qualquer outro homem, tudo isso assustaria, algo assim tão repentino não era pra qualquer um. Giovanna não era para qualquer um.

Ela vai me guiando pelas ruas, sempre com um comentário e outro sobre um lugar e outro. Fazia sol, o verão tomava conta do país aos poucos.

— Já andou de barco? — eu pergunto de repente.

— O que? — ela rebate confusa, já que eu a interrompi. — Já, com Naz e Asya em uma das férias da faculdade, por que?

— Podíamos organizar um fim de semana em Bodrum, leve suas amigas, tenho um barco que podem aproveitar.

— Você sempre é assim? Sempre oferece suas coisas? Sente que isso compensa alguma falha sua?

Pego no pulo.

— Talvez, mas pelo menos você aproveita a parte boa. — eu brinco.

lado a lado Onde histórias criam vida. Descubra agora