LII

312 32 16
                                    

Eu não sei exatamente  em que momento os tiros pararam, mas via  as pessoas vindo até mim para saber se eu estava bem, assim como abordavam outras pessoas que estavam na entrada do Ataturk. Escutava o barulho da ambulância, mas ao mesmo tempo era como se os tiros não tivessem parado, ainda soavam em minha mente como se estivesse acontecendo agora mesmo. Eu tinha um medo nessa vida, medo que surgiu depois que virei mãe. Temia deixar meu filho sem mãe. Eu me cuidava, fazia meus exames, evitava ficar doente, evitava me colocar em perigo sem necessidade. Senti algo quente escorrendo por meu rosto, toquei devagar enquanto abria meus olhos e me dava de cara com duas senhoras tentando me acodir. Toco minha pele devagar e sinto o pegajoso do sangue, meu rosto está cortado e não sei onde.

— Menina, a ambulância já está vindo! Allah! O que foi isso? — uma delas perguntou exasperada, tensa, trêmula.

Hakam. Hakam.

Eu não preciso ser muito inteligênte para saber o que estava acontecendo, isso tudo somada a ligação desesperada de Alexandre. Só podiam ser péssimas notícias, e penso no meu filho. Tento me levantar, mas a adrenalina me deixa dura, não consigo ficar em pé.

— Giovanna! — escuto a voz do meu cavaleiro de armadura reluzente.

É Omar quem me vê primeiro, no chão perto da pilastra e rodeada de vidro quebrado. Alexandre vem até mim rapidamente, se ajoelha do meu lado, me puxa para os braços dele, me prende tão forte que sinto o ar faltar. Eu me agarro com a mesma intensidade.

— Meu coração, meu amor... — ele sussurrava contra meus cabelos, pouco se importando que o sangue do meu rosto sujava sua blusa.

Quando os paramédicos chegaram, eu não sabia explicar onde doía além da minha cabeça, eu estava confusa e acharam  melhor me levar ao hospital para exames  mais completos. Protestei, mas Alexandre não ia aceitar, entrou na ambulância comigo e mandou Omar voltar para casa. Quando olhei para a cintura de Omar, de relânce  vi uma arma. A porta da ambulância fechou e olhei assustada para Nero.

— Por que Omar está carregando uma arma, Alexandre? Por que? — eu pergunto levemente desesperada, pouco me importando com o profissional que estava ao meu lado.

— Calma, meu amor. Omar... É nosso segurança, é normal, esqueceu? — ele pediu compreensão com o olhar, mas eu tinha desespero em cada célula.

— Emir, onde está o Emir, com quem ele está?

— Ele está em casa com a minha mãe e os seguranças, ele está seguro. Já pedi para ela distraí-lo, não deixá-lo perto da televisão.

Eu tento levar a mão ao rosto, mas o paramédico segura, pedindo que eu ficasse parada para que ele pudesse pegar um acesso em minha mão.

— Isso não pode estar acontecendo de novo... não pode.

Alexandre toca meu rosto ensanguentado e me faz olhar para ele.

— Tem fé, meu amor? Você tem fé?

— Tenho.

— Então deposite um pouco em mim. Vou resolver isso.


Desligo o telefone com Omar mais uma vez, depois de mais um vez perguntar se está tudo  bem. Entendo que estou sendo repetitivo, mas enquanto Giovanna não sair do exame de imagem, sinto que não vou sossegar. Espero em um hall do andar quando vejo Mert chegar com um colega. Fico ansioso, nervoso.

— E então?

— A polícia não achou o autor do ataque. A placa da moto era fria.

— Inferno!

— A parte boa é que o procurador aceitou a denúncia, vai fazer uma investigação, o problema é que ele só vai achar o que nós achamos em um primeiro levantamento: que tudo que Hakam faz hoje é legal.

lado a lado Onde histórias criam vida. Descubra agora