Kalbimde bir yerde bir orman yanıyor
Uma floresta está queimando em algum lugar do meu coraçãoEu gostava de dizer que na vida eu era muito bem controlado quanto os meus sentimentos. Desde muito cedo aprendi a segurar as pontas dentro de casa, principalmente a medida que a doença de meu pai começava a aparecer nos detalhes. Eu aguentei os primeiros delírios, aguentei as primeiras falhas de minha mãe, aguentei o divórcio, aguentei a ida dela para os Estados Unidos e a ida de meu pai para um asilo. Aguentei a empresa, aguentei os negócios obscuros.
Mas eu não podia controlar minha fúria ao dar de cara com esse homem completamente apagado na porta de casa, segurando uma garrafa de bebida vazia na mão, roncando como um porco.
Quando Omar me falou o sobrenome, tive que me segurar. Podiam existir outros Antonelli's no mundo, é claro, mas algo dentro de mim gritava, berrava assim que coloquei meus olhos sobre ele.
De repente a melancolia que vi no olhar dela no dia da graduação fazia todo sentido.
Meus óculos escuros não disfarçavam o desgosto. Dou dois chutes leves nas costelas do homem, como quem testa se está vivo mesmo. Ele acorda, tenta tapar a claridade com a mão.
— É assim que o porco nos recebe. Pede nossa ajuda, e é assim que nos recebe. — eu digo, mexendo no masbaha em minha mão direita.
Era de meu pai, e sempre que preciso de paciência, mexo nele.
Omar levanta o homem pela camisa surrada, o coloca de pé a força, dá dois tapinhas na cara dele.
— É assim que vai provar merecer nosso dinheiro, homem? — ele fala alto.
— Eu... eu não sabia que os senhores vinham hoje.
— Quero ver sua casa. — eu falo logo, ansioso.
O homem abre a porta aos trancos. Entramos em um espaço pequeno, com uma geladeira velha, duas bocas de fogão por indução. Em outro canto, um sofá caindo aos pedaços, uma televisão, uma estante. Vejo fotos ali e me aproximo devagar. Lá está ela. Linda, brava, posando ao lado daquele velho miserável. Olho para ele, o vejo com medo de mim, e acho que ele deveria estar mesmo, porque estou a ponto de cometer uma loucura.
— É sua filha? — pergunto e ele acena que sim.
Vejo o homem desabar de chorar, esfregar os olhos com as mãos. Me aproximo dele o suficiente para ele me olhar no rosto.
— Chorar não vai resolver suas merdas agora, Selim. Omar me disse que envolveu sua filha nisso tudo, como fez isso?
— É uma vergonha, senhor. Deveria me matar agora mesmo. Deus nunca vai me perdoar.
— Fala, Selim. — rebati em um tom sombrio, com medo da resposta.
— Eu... investi muito em um negócio que parecia promissor. Prometo que era promissor! Até o senhor ia querer apostar tudo ali!
— Fala, Selim! — eu grito, o agarrando pela camisa.
— Eu dei uma garantia de que iria pagar. Eu dei meu nome, minha vida. E... a mão de Giovanna.
Eu dou um passo para trás. As palavras daquele miserável saindo em mim como começo de chuva, daquelas que demora para pegar mesmo. Olho para Omar, que me olha atento de volta. Solto uma risada.
— Você fez o que?
— Senhor...
— Vendeu sua filha, Selim? Vendeu sua filha para Hakam Golçapk?
