Capítulo 3

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Não me surpreende que o meu irmão esteja envolvido numa máfia

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Não me surpreende que o meu irmão esteja envolvido numa máfia. Desde pequenos, os sinais estavam todos lá, embora eu, na minha ingenuidade, nunca os tenha interpretado corretamente. Ele sempre foi o rebelde, o que não seguia as regras, o que achava graça em desafiar a autoridade.

Lembro-me das vezes em que ele chegava em casa tarde da noite, com um brilho nos olhos que só podia ser de excitação ou perigo. Sempre foi bom em esconder as suas verdadeiras intenções, mas eu conhecia-o bem demais para não perceber que algo estava errado.

A partir dos meus 13 anos, o seu comportamento tornou-se mais reservado, mais sombrio. As noites que passava fora aumentaram e os telefonemas secretos tornaram-se rotina. Era evidente que ele estava envolvido em algo grande, algo que ultrapassava as brincadeiras de adolescente.

Quando revelou a sua profissão, assim por dizer, não me surpreendeu. Ele sempre foi atraído pelo perigo, pela adrenalina. A diferença é que agora ele estava a brincar com fogo e eu temia pelas consequências.

Apesar de tudo, ele é o meu irmão. E, por mais errado que esteja, não consigo evitar a necessidade de o proteger. Porque, no fundo, ele continua a ser aquele garoto rebelde que só quer encontrar o seu lugar no mundo, mesmo que para isso precise atravessar o caminho mais escuro e perigoso.

Eu quero muito contar-lhe sobre o meu segredo, sobre o meu prazer em matar, mas eu não posso. Há algo de libertador em tirar uma vida, em sentir o poder absoluto nas minhas mãos, em ser o árbitro do destino de alguém. É uma sensação que não consigo explicar, algo que consome os meus pensamentos dia e noite.

O meu irmão é a única pessoa em quem confio plenamente, a única pessoa que talvez pudesse entender a escuridão que habita em mim. Porém, a máfia em que ele está envolvido é impiedosa e qualquer deslize meu pode ser fatal. Não posso arriscar que ele veja a monstruosidade em mim, que perceba que somos feitos da mesma matéria sombria.

A cada dia que passa, o peso desse segredo cresce. É uma carga pesada, sufocante, que me separa cada vez mais do mundo normal. Tento disfarçar, fingir ser alguém que não sou, porém o desejo é sempre mais forte, mais intenso. E ele, com a sua perspicácia, já deve ter notado algo. Talvez perceba nos meus olhos, no meu comportamento, mas nunca me diz nada.

Há momentos em que quase me deixo levar, quase lhe conto tudo. No entanto, lembro-me das consequências, do risco que corro não só para mim, mas para ele também. Não posso arriscar perder o único vínculo verdadeiro que tenho. Então, guardo o segredo para mim, alimentando-o nas sombras, enquanto o mundo continua a girar alheio à minha verdadeira natureza.

Ele pode estar envolvido com criminosos, mas eu sou um monstro. E monstros, por mais que desejem, não podem revelar-se sem perder tudo o que têm.

Ele não sabe dos abusos que sofria dos meus pais, quando mais nova. Sempre escondi por medo, por vergonha, por acreditar que ninguém entenderia ou se importaria. O meu irmão sempre esteve lá, mas nunca soube a verdadeira extensão do meu sofrimento.

Eu carreguei estas cicatrizes em silêncio, a tentar ser forte, a tentar ser invisível para evitar mais dor. Aprendi a mascarar a minha tristeza com sorrisos forçados e a enterrar o meu pavor embaixo de uma máscara. O meu irmão, ocupado com os seus próprios demónios, nunca suspeitou das noites de terror que eu enfrentava sozinha.

Agora, vendo-o envolvido na máfia, sinto uma estranha conexão com ele. Entendo o que é ser consumido pela escuridão, pelo desespero de encontrar uma saída, por mais perigosa que seja. Contudo, ainda assim, não lhe consigo contar a verdade. O medo de ser vulnerável, de quebrar a imagem de força que construí, é maior do que a necessidade de partilhar o meu passado.

Há dias em que quase deixo escapar. As memórias são tão vívidas, tão dolorosas, que quase desabam sobre mim. Todavia vejo o olhar cansado do meu irmão, as preocupações que ele já carrega e decido guardar o meu segredo por mais um dia. Ele tem os seus próprios problemas. Não preciso adicionar mais peso aos seus ombros.

No fundo, temo que, ao revelar o que passei, ele se sinta obrigado a tomar medidas drásticas, a buscar vingança, a mergulhar ainda mais fundo no abismo. E isso é algo que não posso permitir. Então, continuo a esconder a verdade, a carregar o fardo sozinha, enquanto o mundo à nossa volta desenrola-se com todas as suas imperfeições e sombras.

...

Acordei às cinco da manhã e, ao adentrar na cozinha, reparei que era a única que estava acordada. Aproveito a tranquilidade e decido fazer umas panquecas. O cheiro doce e acolhedor começou a preencher o ar, trazendo um pouco de conforto à manhã silenciosa.

Depois de comer, senti a necessidade de gastar energia e dirigi-me ao ginásio. Ao abrir a porta, dou de caras com quem menos esperava: Erick. Ele treinava intensamente, os seus músculos moviam-se num ritmo preciso e controlado.

Por um momento, fiquei paralisada, observando-o sem que ele me notasse. Erick sempre foi uma figura enigmática para mim, alguém que parecia estar em total controle de si mesmo, diferente do caos interno que eu carregava.

Comecei a treinar e logo senti o seu olhar nas minhas costas. Era impossível ignorar a intensidade com que ele me observava. Cada movimento meu parecia ser cuidadosamente analisado por Erick.

Tentei manter a concentração nos exercícios, mas a consciência da sua presença tornava tudo mais difícil. Cada gesto meu parecia amplificado, cada respiração mais pesada. Sabia que ele estava acostumado a ter controle sobre tudo e todos ao seu redor, e perguntei-me o que ele estaria a pensar ao ver-me ali.

Virei-me para encontrá-lo a olhar diretamente para mim, os seus olhos, que costumam ser verdes, estavam num tom escuro, fixos nos meus. A troca de olhares durou apenas alguns segundos, mas foi suficiente para sentir a eletricidade no ar. Sem dizer uma palavra, ele transmitiu uma mensagem clara: estava interessado, talvez curioso e, definitivamente, ciente da minha presença.

Continuei o meu treino, tentando ignorar a tensão que se instalara no ambiente. Mas, a cada movimento, sentia mais a presença de Erick. Ele era um enigma perigoso e irresistível e eu não me podia deixar levar por essa mínima atração.

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