Capítulo 43

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O avião privado cortava o céu noturno com uma suavidade que contrastava com a turbulência que todos nós sabíamos que estava prestes a chegar

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O avião privado cortava o céu noturno com uma suavidade que contrastava com a turbulência que todos nós sabíamos que estava prestes a chegar. Eu estava sentado num dos bancos de couro perto da janela, a observar as nuvens iluminadas pela luz do nascer do sol.

- Estou com fome. - Marly diz com a cabeça para trás. - Quando voltarmos a Nova Iorque, só quero paz e sossego. Talvez dormir umas vinte e quatro horas seguidas.

- Queres que vá buscar comida? - Ela olha para mim com o rosto exausto.

- Agradecia. - Ela sorri fraco. Levanto-me e vou até à cozinha, pego nalguns morangos e dois croissants com chocolate, faço um cappuccino de baunilha, que sei que é o seu favorito e levo tudo para o nosso lugar.

Ela olha para a comida e vejo um sorriso crescer no seu rosto. Ela pega no copo de cappuccino e fica confusa.

- Como sabes que amo cappuccino de baunilha? - Pergunto, estranhando.

- A tua boca sabe sempre a baunilha e de manhã, quando chego à cozinha tem um forte cheiro de cappuccino de baunilha. Eu sei que amas baunilha. - Ela sorri a olhar para o copo e pela primeira vez, sem ser em contexto sexual, vejo o seu rosto corar.

- Obrigada. - Ela bebe e encolhe as pernas, ficando mais confortável, enquanto olha pela janela. O ambiente leve entre nós foi interrompido quando Mathilde apareceu na cabine. Aproximou-se com passos rápidos.

- Don Kyle, preciso de falar contigo.

Levantei-me imediatamente, seguindo-a até ao corredor estreito do jato. Ela parou junto à porta que dava para a cabine do piloto.

- Alguém está a tentar localizar-nos. Estamos a captar sinais de um rastreamento constante no radar. Precisamos de mudar de rota antes que nos descubram completamente.

Não era inesperado, mas a velocidade com que nos encontraram significava que Nikolai já tinha os olhos postos em nós antes mesmo de pisarmos em solo russo.

- Quem é? - perguntei.

- Não sabemos ao certo, mas não podemos correr riscos. O piloto já está a preparar uma nova rota. Vai adicionar meia-hora à viagem, mas evitaremos as zonas de vigilância. - Mathilde olhou para mim, esperando a minha reação.

Sem perder tempo, peguei no telemóvel, que comprei ontem depois da reunião. Liguei diretamente para os meus homens que estavam a caminho da Rússia para nos apoiar.

- Precisamos de mudar de rota. Foram detetados sinais de rastreamento. Mantenham-se na retaguarda e ajustem a vossa rota para coincidir com a nossa nova direção.

- Entendido, senhor. Quanto tempo de atraso?

- Mais meia-hora. Certifiquem-se de que estão a seguir-nos, mas sem chamar a atenção.

- Compreendido. Manteremos o plano em andamento.

O som abafado do motor do jato parecia mais pesado agora, como se o ar dentro do avião estivesse carregado de tensão. Mathilde voltou para a cabine do piloto para coordenar a mudança de rota, enquanto eu voltei para o meu lugar ao lado de Marly.

Ela notou a mudança na minha expressão imediatamente.

- O que se passa?

- Estamos a ser seguidos. Mudamos de rota. A viagem vai demorar mais.

Marly arqueou uma sobrancelha.

- Claro que estamos a ser seguidos. Estás a lidar com Nikolai, o tipo não vai facilitar.

A nossa viagem para a Rússia agora estava estendida para doze horas, mas isso significava apenas que teríamos mais tempo para planear e preparar-nos para o que estava por vir.

À medida que o avião mudava de rota, afastando-se do rastreamento, o peso da missão começou a assentar ainda mais nos nossos ombros.

...

O jato aterrou suavemente no pequeno aeródromo, às seis e meia, e o céu já se começava a tingir de laranja e roxo com o pôr do sol. O frio era intenso, um vento cortante que parecia atravessar as camadas do casaco que eu vestia. Ao sairmos do jato, três carros estavam estacionados à nossa espera, o que era um bom sinal, mas a ausência de qualquer outra alma por perto deixava-me na defensiva.

Antes de deixarmos o jato, os seguranças de Ian realizaram uma ronda completa pelo local, verificando se não tínhamos sido descobertos.

Mathilde e Marly pareciam surpreendentemente calmas. Era como se estivessem numa reunião social, enquanto eu e Ian estávamos visivelmente tensos, estamos preocupados com as nossas irmãs e queremos proteger Marly e Mathilde do perigo que estávamos prestes a enfrentar. Elas estavam diretamente envolvidas na missão, a quilómetros de distância de onde estaríamos e isso não me deixa confortável, saber que Marly poderá estar em perigo preocupa-me.

Enrico e Joseph estavam no controlo, responsáveis por acompanhar toda a missão através das câmaras e dar indicações em caso de movimentações suspeitas por parte dos russos. A confiança que eles transmitiam era reconfortante, mas a realidade era que eu estava a sentir o peso da responsabilidade. Se algo corresse mal, não eram apenas as vidas de Marly e Mathilde que estavam em jogo, as nossas irmãs também estavam na linha de fogo.

Gustavo e Matteo entraram num dos carros com Enrico e Joseph, rapidamente organizaram o equipamento na parte de trás.

Antes de entrar no carro, fui até Marly, que estava a observar algumas das armas que Mathilde trouxera.

- Tens a certeza disto? - perguntei, fazendo-a olhar para mim.

- Absoluta, Erick. Não é a primeira vez que mato alguém. - respondeu com calma, passando as mãos por uma Glock 19.

- Mas esta é a primeira vez que terás de te defender. E matar com vários tiros seguidos, correndo o risco de levar uma bala na testa.

- Isso não é um problema, Erick. - disse, com um ar desdenhoso.

Segurei-lhe no braço, trancando o maxilar e fazendo-a olhar nos meus olhos.

- É sim um problema, Marly! Eu não vou sair daqui sem estares ao meu lado.

- O que realmente importa é que a tua irmã saia sã e salva. - disse Marly, com um olhar sério. - Tu sabes que o plano pode correr mal e, se isso acontecer, estamos todos em perigo. Mas eu estou disposta a correr esse risco.

- Eu não estou! - retorqui, sentindo a frustração a subir em mim. - Não se trata apenas de um plano que pode falhar, trata-se da tua vida.

- Erick, não sejas irracional. A missão é vital, e é mais do que apenas nós dois.

- Não me importa a vida de mais ninguém, Marly! - exigi, a voz a saiu mais alta do que o desejado. - O que importa para mim é que tu estejas viva. Se houver uma escolha a fazer, eu escolho-te a ti.

Ela olhou para mim, perplexa, a tensão aumenta entre nós.

- Não digas isso, Erick. A vida da tua irmã está em jogo!

- E a tua também! - gritei com os punhos cerrados ao meu lado.

Marly fez uma pausa, a expressão muda para uma mistura de determinação e preocupação.

- Então vamos fazer com que as duas vidas importem. - disse ela finalmente, a voz mais suave. - Mas para isso, precisamos de estar focados. Não podemos deixar que as emoções nos impeçam de agir.

- Vamos garantir que isso aconteça. - murmurei, soltando o braço e permitindo que ela continuasse a examinar as armas.

Respirei fundo, sabendo que, por mais difícil que fosse, não havia retorno. O plano estava trançado e tínhamos de seguir em frente. A vida de Hannah e Ivy dependia de nós. Eu não sei o que faria se Marly ficasse no meio da explosão.

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