14 - Pecar ou Não Pecar?

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Paro antes que Hector consiga me levar para o banheiro. Lembro das cicatrizes e a marca deixada pela faca daquele lunático, não posso deixar que ele veja, não tenho como contar e... o que ele pensaria de mim?

— Na... não! Eu prefiro ir sozinha. – digo segurando em sua mão, ele para e me olha confuso.

— Está com vergonha? Lilith, acho que você conseguiu notar o quanto te desejo.

— Mas são coisas diferentes, nunca fiz isso antes e esse contato com algum homem é diferente para mim.— minto, não ao todo, em parte era verdade mas não poderia arriscar.

Ele confirma com a cabeça e se afasta, me dando passagem para o banheiro. Fecho a porta, tiro meu vestido e abro a ducha. A água quente relaxa minha tensão, em parte. Estou atônita com tudo que acabou de acontecer. Hector realmente me desejava, declarou seu coração para mim. Mas... ele é um padre! Eu cometi essas coisas em sua igreja!

O desespero começa a tomar conta de mim, isso é inviável, como vou assumir meus sentimentos para um padre? Não poderemos ter família, na verdade ele nem podia ter esse contato com mulheres nem ninguém! Tudo de errado e sujo nós fizemos juntos. Ninguém poderia saber dessa relação, a cidade nos expulsaria sendo totalmente católica e devota. Eu queimaria no inferno.

Após me limpar, ainda com pensamentos rodando em minha cabeça, pego uma toalha que estava em meu alcance, visto meu vestido e saio para o quarto. Hector estava deitado, com a cabeça escorada na cabeceira da cama e os olhos fechados. Seu feito subia e descia suavemente, os arranhões eram evidentes em sua pele, descansava como um anjo, ainda não havia me acostumado com sua beleza.

Ele houve meus passos e abre os olhos, me fita como se algo queimasse dentro dele, o próprio inferno queimava nele, impossível de apagar.

— Está tudo bem? Posso ir ao banho agora?

— Sim, já terminei. Hector... – dou mais dois passos para perto de onde estava, ele se inclina e senta na cama me observando atentamente.

— O que fizemos... não entendo, eu não deveria ter feito isso, foi totalmente errado, pela segunda vez ainda...

— Lilith, eu não tinha feito isso antes porque imaginei que você sentiria o peso da culpa. Mas não posso mais evitar e tentar esconder o que sinto, nem você. — ele se levanta e para em minha frente, tenho que olhar para cima para continuar o encarando. Enorme...

— Eu... eu não estou evitando! Preciso casar, sonho em ter uma família, estamos na casa de Deus! Você é um padre, não deveria achar isso normal! – Hector coloca as duas mãos em sua cintura, olha para cima e bufa fechando os olhos, sinto a raiva tomar conta do seu corpo. Abaixa a cabeça e me fita de um jeito sério.

— Eu quis você porque vi, enxerguei que realmente era pura. Diferente de todo esse povo que se esconde atrás de uma bíblia, você não sabe Lilith quais são as verdadeiras maldades. – sua voz tinha levantado e sentia a tensão aumentar entre nós.

— Mas quem é você para julgar ou não as maldades? Um padre deveria seguir a bíblia, palavras de Deus! – Digo indo mais em sua direção, não o deixaria me intimidar.

— Aaah, agora eu sou um padre? Quando gemia meu nome você tinha esquecido disso. Não seja hipócrita Lilith, não seja alienada, eu acreditei que você fosse diferente, assuma suas vontades! — meu coração já batia forte com a alteração que surgiu ali, o misto de sentimentos entre o certo e o errado. Ele aponta o dedo em minha direção e continua.

— Eu não escondo o que sou, há partes de mim que você não conhece ainda, mas eu farei questão de te mostrar mas para isso, você tem que se aceitar primeiro. – Ele jogando em minha cara que o desejei, só fez surgir uma raiva dentro de mim. Não estava certo, mesmo eu querendo de carne e alma, não poderia!

— Me leva para casa, por favor. – digo e saio do quarto, vou em direção ao salão da igreja e fico sentada em um dos bancos o aguardando.

Após alguns minutos, Hector aparece. Estava com o cabelo molhado e vestia uma calça simples e uma camiseta. Nunca o vi com aquelas vestes normais, não parecia ser um padre, apenas Hector, meu Hector...

Sem dizer uma palavra ele se direciona a porta da igreja e a abre, segurava outro molho de chaves e me olha para que eu o acompanhe, nos direcionamos a uma construção mais ao lado de onde estávamos e me deparo com um Mercedes preto. Ele vai em direção a porta do passageiro e a abre.

— Por favor... – faz sinal para que eu entre no carro.

Quando estamos os dois no veículo, ele o liga e me olha de soslaio. — Não pergunte, acredito que agora não queira mais me conhecer, então não precisa saber como um padre tem esse carro. — diz fitando a estrada em sua frente.

Chegamos em frente a minha casa, ele desliga o carro e recosta-se no banco, faço menção de sair mas segura minha mão. Meu corpo corresponde ao mínimo contato com ele, o arrepio percorre minha pele.

— Sei que foi tudo novo para você, e para mim também. Eu sou um padre realmente, mas sei que sou diferente, mas isso não muda que não tive contato, talvez 2, com mulheres. — aproxima minha mão do seu peito, o olhava com atenção. — Só quero que sinta seu coração.

Nossas respirações já embaçavam o vidro do carro, suas palavras me confundiam cada vez mais!

— Me empresta seu celular. – ele pede e eu alcanço, digita alguma coisa e me entrega. — Salvei o número que pode falar comigo, e já dei um toque para salvar o seu, caso queira fugir de mim. – Ele desce do carro, e abre minha porta, ficamos frente a frente, depois de longos segundos nos observando, da meia volta e vai embora.

Caminho perdida para varanda de casa, em minha mente só teria duas opções, Deus ou Hector.

Chego na cozinha e vou a procura de um copo de água, me sirvo e vou tentando me acalmar enquanto bebo. Ouço passos e sei que é Victor já que vem da direção do seu quarto.

— Quem trouxe você? Sabe que horas são? – ele fala em um tom calmo, mas sarcástico, sinto que queria controlar muitas coisas dentro de si.

— O Padre Hector fez questão de me trazer. Ficamos... conversando bastante sobre religiosidade. – os ensinamentos do padre foram bem diferentes quando recordo das minhas mãos em volta do seu... pisco algumas vezes para me livrar desses pensamentos.

— Hum. Ta certo. Já é uma mulher, tem vontades e necessidades, não irei me envolver mais. – Victor vai dando passos para traz enquanto me olhava, estava debochando.

— Boa noite! – digo sustentando seu olhar. Com as novas coisas que estavam acontecendo, eu estava aprendendo a não me rebaixar, minha vida era rodeada de homens e... se não tivesse pulso firme seria dominada!

Subo para meu quarto, tiro meu vestido e me jogo na cama, fico nua mesmo, preciso de conforto. Algum tempo fitando o teto uma lágrima escorre pela minha bochecha. A sensação de querer e não poder, a confusão do certo e errado me invadem. O sequestro... tudo me deixou muito sensível, os erros e pecados que estou cometendo, pesa. Aos poucos o cansaço me vence e adormeço.

Sinto mãos apertarem meu pescoço, acordo em um sobressalto e me deparo com a pior visão, a última que gostaria de ter visto. Montado em cima de mim, vejo uma mascara branca com buracos mal feitos nos olhos.

— Xiii, dormindo sem roupas ovelhinha, achou que eu não sentiria seu cheiro?  

O Pior de MimOnde histórias criam vida. Descubra agora