— Senhorita? Está tudo bem? Me desculpa! Fala comigo!
A voz de Sofia estava em algum lugar muito distante, petrificada em sua frente só via sua boca mexer e possíveis palavras de perdão surgiam em meus ouvidos. Meu corpo em modo automático de defesa começa a dar passos para fora daquele quarto.
Meus olhos passam por Hector mais uma vez que continuava apagado. Dou meia volta e procuro apoio na parede do corredor, um pé, após o outro, mais um passo... depois mais outro.
Lama poderia ser vista trancando meu caminhar, minha respiração. Lodo poderia ser sentido preso em minha traqueia, enquanto um punhado de cabeços loiros me acompanhava, gesticulando em meu lado mas não seria capaz de lhe responder.
A cada batida doída que meu coração dava, litros de sangue era expulso das fissuras que se abriram, Hector rasgou meu coração, nem para bombear o líquido e fazer o seu papel de órgão ele serviria mais.
Chego nas escadas e desço apenas com Deus me amparando, como um robô que fora programado a fugir para algum lugar, sem destino.
Meus ouvidos não funcionavam, como se um longo bip junto com chiado de uma televisão estragada se fizesse presente, estava surda, cega e atrofiada.
Chego no andar de baixo vendo Benjamin aparecer em minha frente, seria ele realmente? Meu cérebro só repassava as palavras de Sofia e Hector nu na cama, reconhecer alguém seria impossível.
Apoio minhas mãos na ilha da cozinha, tentava controlar o oxigênio que meus pulmões imploravam, tentava focar afastando a tontura, o formigamento da pele e os tremores nas mãos. A ansiedade, a maldita ansiedade se fez presente, já não bastava a dor de uma traição, a minha pior doença veio me cumprimentar como uma velha amiga.
Um copo de água foi pousado em frente aos meus olhos, movimentos de corpos eram percebidos entre o desfoque da minha visão, em câmera lenta, todo o mundo se comportava ao meu redor.
Inspiro...Suspiro...
Como se fosse puxada de dentro do fundo de uma piscina, a audição volta aos poucos e meus olhos já não estão mais cobertos com a grande quantidade de água que sufocava, encaro Sofia ao meu lado direito, gesticulando com aquela camisa branca... A camisa de Hector abraçando seu corpo.
— Senhorita? Por favor, eu preciso desse emprego. Não sabia que tinham algo, vocês não eram casados...
"Vocês não eram casados..."
Uma, duas, três vezes, a cabeça da vadia bate contra a bancada da cozinha, com a mão esquerda livre, junto o copo com água que se estilhaça em seu rosto e corta minhas mãos. Dor? Nada seria pior do que sentia no peito.
O sangue jorra do seu nariz junto com os cacos do vidro que se cravam em seu rosto. Meus dedos quase adentravam a carne da sua cabeça quando bato mais uma vez contra o mármore que antes era claro e agora esta vermelho.
— Porra Lilith, para!
Sinto mãos me envolverem e libertarem os cabelos loiros de mim, gritos misturados com choro saem da garganta de Sofia, Matilde a ampara antes que caia no chão e um sorriso diabólico surge em meus lábios quando o gosto da vingança dança em minha língua.
— Lilith? Fala comigo! Lilith?! —Agora fitando os olhos verdes de Benjamin, noto que estou em completo transe e como uma ânsia de vomito, a lava começa a queimar em minha barriga.
O empurro fazendo que cambaleie para trás me libertando, talvez tudo faça sentido de que o ser humano em momentos insanos, adquira uma força fora do normal.
Em passos firmes me direciono para escada, mataria Hector, rasgaria seu peito e arrancaria seu coração de lá, colocando em um vidro com formol para decorar a estante da MINHA casa, com o MEU dinheiro, com os MEUS bilhões de euros!
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Pior de Mim
Romance⸸Em uma cidade esquecida na Itália, Lilith vive sua vida no campo sem muitos devaneios. Com apenas um amigo fiel e um padrasto superprotetor, Lilith Bianchi oscila entre a excitação e o tédio, a rotina e o inesperado, já que nunca experimentou plena...