— Dona moça?
— Oi Matilde, estou no banho, já irei sair.
— Tudo bem! Vim avisar que o jantar está pronto.
— Já desço, obrigada!
Ouço a porta do quarto bater e solto um longo suspiro. Salto para fora da hidro e enquanto me secava as palavras do padre não desgrudavam da minha mente. Ele não havia ido embora, não havia consentido com as acusações que lhe foram impostas, estava lutando por mim, por sua inocência.
As noites em que chorei achando que simplesmente o havia perdido, que tinha saído por aquela porta e não haveria mais nada a ser resgatado. Nunca em hipótese alguma perdoaria uma traição, mas e se... Hector não me traiu realmente?
Meu corpo explodia com todas as possibilidades e confusões, razões e sentimentos dançavam aqui dentro, e tentar entender porquê alguém tentaria nos atingir de uma maneira tão pessoal, me desestabilizava. Tinha ciencia de Hector tinha alguns possíveis inimigos, mas afetar nossa relação, a que fim isso daria? Já éramos perturbados o suficiente, com uma terceira ou quarta pessoa junto tentando arruinar tudo, seria como colocar a cereja em cima do bolo.
Visto uma calça de moletom preta e a camiseta que roubei do closet do padre, sentir seu cheiro me acalmava e mesmo a réstia da minha sanidade gritando para eu não agir igual uma criança, eu a ignorava.
Caminho distraída pelos corredores alisando as partes onde tinha me beijado, por incrível que pareça ainda formigavam, fecho os olhos relembrando do calor dos seus lábios. Tentar me apaixonar por outra pessoa e o deixar para trás seria um inferno, qualquer toque que tínhamos, química explodia por nossos poros, queria entender em que momento fiquei tão dependente da sua pele com a minha.
— A entrada ao sul será a mais segura...
Volto para realidade e fito a porta entreaberta do escritório de Hector, desde que foi embora não havia entrado mais ali. Ouço um pedaço de uma possível conversa, talvez seja Benjamin.
Dou alguns passos transpassando a cabeça para dentro da sala.
— Sim... Já estou lidando com essa parte, não terão imprevistos, eu garanto.
Avisto o quadro das montanhas da Costa aberto, o quadro onde se escondia o cofre. O cofre onde o padre guardava todos seus documentos... nossas posses!
Arqueio a sobrancelha e tento dar passos silenciosos, vejo somente a cintura de Benjamin a mostra por baixo da moldura.
— Conseguir isso irá demorar mais...
— Confie em mim, quero a mesma coisa que vocês.
Chegando ao seu lado, a mão do segurança agarra a moldura do quadro o fechando, seus olhos encontram os meus e logo abaixa o celular desligando a tal ligação. Seu rosto continua pacífico mas de branca sua pele se torna vermelha.
— Hã... oi senhorita.
— Estava no cofre?
— Sim.
— E falava com quem?
— Que desconfiança é essa? – Benjamin cruza os braços me encarando de soslaio.
— Não sabia que tinha acesso a essas coisas.
— Sou o braço direito dos Santini, tenho acesso porque preciso, não que eu quisesse.
— Hector não está aqui.
— Por isso mesmo, a vida continua, não? – Os pelos dos meus braços se eriçam. Benjamin e Hector lidavam com coisas que nunca imaginei em minha vida, sou leiga em tudo e sem ele aqui, como esses assuntos se resolveriam?
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O Pior de Mim
Romance⸸Em uma cidade esquecida na Itália, Lilith vive sua vida no campo sem muitos devaneios. Com apenas um amigo fiel e um padrasto superprotetor, Lilith Bianchi oscila entre a excitação e o tédio, a rotina e o inesperado, já que nunca experimentou plena...