16 - Duas Versões

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Minha mente começava a se despertar, mas meu corpo queria ficar na cama mais um pouco. Estava totalmente relaxada, como se fosse a primeira vez que dormisse após uma semana. Viro para o outro lado e antes que adormeça novamente, meu cérebro finalmente liga, rebobinando tudo que tinha acontecido antes que eu apagasse, antes que eu fosse desmaiada, na verdade.

Sento na cama atordoada, tentando processar de novo o que o mascarado tinha feito comigo, o que fizemos juntos. Já estava começando a me acostumar em quase todos os dias não saber o que estava se passando em minha vida, ficar mais perdida que cego em tiroteio.

Noto que estou vestida, e talvez... de banho tomado? Mas que mania... simplesmente ele me desmaia e faz o que quer! Sou uma boneca para ele? Não poderia deixar isso ficar se repetindo sem eu nem ter a noção de quem seja essa pessoa. Ele é um assassino! Me recordo de Hector, e imagino como ele reagiria se soubesse essa... loucura que acontece comigo.

Pego o celular e confiro as horas, 11:16... – Meu Deus, eu definitivamente apaguei, dormi demais. – digo enquanto colocava os pés para fora da cama. Antes que consiga levantar, fito o chão do quarto e ele estava... cheio de pétalas. – Mas... o que aconteceu aqui? – me pergunto quando pego algumas na mão, meu coração descompassa quando vejo que são pétalas de margaridas, minha flor favorita.

Um papel chama minha atenção na bancada que fica ao lado da cama, o pego e desdobro, reconheço a letra cursiva remetendo a escrita antiga:

Olhe pela janela.

Confiro o verso da folha e estava em branco, o mascarado não escreveu mais nada além disso. – Lilith, você vai enlouquecer até o fim deste mês...- murmuro enquanto caminhava entre as pétalas do chão, em direção a janela.

A visão que eu sempre tive olhando o quintal pelo meu quarto era da macieira que mamãe e eu gostávamos de descansar, passar nossas tardes. Mas hoje... haviam margaridas, muitas, várias margaridas plantadas em volta da árvore! Mas como... ele conseguiu fazer isto?! Ele fez isso?! Tantas perguntas rodavam em minha cabeça, várias emoções se chocavam entre si.

Vou correndo procurar algo para calçar, passando em frente ao espelho noto que estou vestindo uma camisola. Era branca, de seda, tapava a maior parte da minha pele, tinha uma manga que ia até o pulso, mas chegando no cotovelo o tecido se alongava, formando uma calda. Ela terminava antes de chegar nos joelhos e tinha um laço na cintura com um decote em V.

Simplesmente parecia que estava sonhando, pois não me lembrava de absolutamente nada como ele tinha posto essa roupa em mim, mas era linda... nunca tive contato com um tecido tão maravilhoso. Após alguns minutos me fitando, calço o chinelo e desço as escadas rapidamente, passo pela cozinha e corro para a saída de casa. Em segundos eu chegava perto do meu novo jardim de margaridas.

Lágrimas começavam a brotar dos meus olhos instantaneamente pois em ver tantas flores, ali junto da macieira... era como ter mamãe comigo novamente, tudo que amo hoje foi ela que me ensinou e mostrou, as margaridas também eram suas preferidas.

Recostado ao pé da árvore, há outro bilhete. Sento no chão dentre as flores e confiro o papel:

Há sempre o outro lado da moeda.

- Me sinto a maior burra nesse momento, o que você quis dizer com isso?! – me questiono enquanto segurava o recado em minhas mãos. Em uma noite sou sequestrada e torturada, nessa noite sou praticamente invadida, e hoje... flores.

Meu coração grita por Hector, e com todas nossas confusões e desejo, entre nós nasceu uma paixão. Mas agora, tem esse mascarado lunático que... despertou outra parte de mim, que eu nunca imaginei que poderia existir.

Recostada sobre o tronco da árvore observava o movimento das flores com a brisa que passava. Por algum tempo em muitos dias, consegui sentir paz. Pude desligar-me de qualquer coisa externa e... respirar, livremente.

Estou vivendo coisas que a semanas atrás não imaginaria que poderiam acontecer. Tenho a certeza que dois passos que dou para frente, volto dez. Não posso me deixar levar pelo sentimento que estou nutrindo por Hector, meu desejo sempre foi sair desta cidade que agora... tem um assassino que me visita quando quer, e no final me da um campo de flores.

Não posso deixar isso se estender mais, essa loucura sem pé nem cabeça. Questionei minha fé, duvidei de Deus e seus ensinamentos, estão me transformando em outra pessoa.

Me levanto e em passos decididos retorno para meu quarto. Tiro a camisola e vou tomar um banho, preciso firmar essa ideia em minha cabeça. Noto as novas marcar em meu corpo, mordidas! Perna, ombro, costas... e sentia uma dor suave lá atrás! Como ele pode?! Como eu pude querer isso também?

Após longos minutos imersa na banheira, saio me visto e vou a procura do celular. Quando o acho há 1 ligação e 2 mensagens de Hector:

"Espero que esteja bem."

"Me responda quando puder, não quero que a nossa última experiência seja a única."

Não respondo, não posso permitir que as emoções tomem espaço agora. Busco o número de Nico e escrevo a mensagem:

"Preciso de você, pode passar aqui em casa? Urgente..."

O Pior de MimOnde histórias criam vida. Descubra agora