27 - Um Presente

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A noite chegou e juntei todas minhas forças para não estragar nossa comemoração. Nico estava com um olhar de raiva ainda, mesmo eu pedindo para esquecer e focar no seu dia. Havia decidido que voltaria para Barletta pela manhã. Mesmo estando com ele, não queria ficar mais um minuto nessa cidade. Nico entendeu mas protestou por não poder ficar perto mais um pouco, me apoiar.

A manhã chegou em um piscar de olhos. Não dormi a madrugada toda me sentindo quebrada e sufocada, destruída novamente. Me despedi de seus pais e Nico levou-me para o embarque no ônibus.

— Sempre que precisar, me ligue, me chame, tenho carro agora, pego ele e vou onde você estiver. – sua mão pousava em meu rosto enquanto nos despedíamos.

— Eu sei... se precisar de mim, farei a mesma coisa. – Sem esperar, sinto seus lábios nos meus. Um beijo calmo e suave, ele se afasta e sem tirar os olhos de mim, entra no carro.

Não sabia o que pensar sobre isso, mas talvez fosse só nosso jeito de amar e cuidar um ao outro. Intensificamos nossa amizade e arranjamos mais uma maneira de demonstrar o afeto.

Mesmo cansada, não consegui dormir em todo trajeto. Aproveitaria os dias que ficaria em Santa Luzia para recuperar a réstia da minha sanidade em casa.

Entro na quitinete exausta carregando minhas malas, vou direto para a janela abrindo e deixando o sol entrar. Precisava me distrair, o que era para ter sido leve foi como se uma rocha tivesse caído em cima da minha cabeça. Não sei o que aconteceu com Victor, e nem quero saber. Nicolau insistiu para deixa-lo retornar lá e expulsa-lo de casa, querendo ou não, era minha. Mas pedi para que esquecesse isso, e jurasse que não faria nada quando eu fosse embora.

Iniciei os estudos de Psicologia talvez para tentar me compreender mais. Se algo me magoasse, me ferisse, eu fugia. O sumiço e quanto mais longe eu estivesse do problema, resolviam tudo para mim.

Tirando meus tênis ouço o telefone tocar, ligavam da recepção quando precisavam avisar algo.

— Alô?

— Srta. Bianchi? Tem uma encomenda para você, posso levar?

— Hã... sim, claro.

Encomenda? Era nova aqui e ninguém sabia meu endereço, somente Nico e sua família. Deve ter sido engano, avisarei quando o moço da portaria subir.

Abro a porta e Leo segurava uma caixa média, embalada em um papel preto.

— Olá, Leo. Conferiu se é para esse endereço mesmo? Creio que seja engano.

— Sim, Srta. Lilith Bianchi, e o endereço está correto.

— Tudo bem... obrigada.

Pego a caixa me despedindo de Leo, fecho a porta e a deposito na mesa da cozinha. Não era muito pesada, verifico o endereço e estava realmente certo, sem informações de quem enviou. Busco por uma tesoura e rasgo o papel, abro a caixa de papelão e dentro havia outra caixa em isopor. Fico surpresa pois cada vez  parecia mais estranho. Ao lado do isopor havia um envelope branco, o verifico e nada estava escrito no verso.

Retiro o isopor e apoio sob a mesa, a tampa estava lacrada e tive que rasgar as fitas com a tesoura também. Me livro da tampa e minha respiração vai junto, dou dois passos para trás e choco meu corpo contra a bancada da cozinha. Não conseguia desviar meus olhos do que tinha dentro da caixa, mesmo o nojo e a vontade de vomitar tomando conta de mim.

— Meu... Deus... só pode... ter sido ele. – a dificuldade de pronunciar aquelas palavras demonstravam o quão desconcertada eu fiquei. Como sabia onde eu estava? Isso que dizer que poderia aparecer aqui, ele sempre soube que eu estava aqui!

O Pior de MimOnde histórias criam vida. Descubra agora