Deitada no chão do quarto, fecho os olhos quando os raios de sol atravessam a janela e banham meu rosto. Se disser que dormi essa noite, estarei mentindo. Hector conseguiu mexer com meus neurônios, passei cada segundo esperando que ele abrisse aquela porta.
Mentiria também se dissesse que não queria que fizesse isso, talvez em vez de julga-lo tanto, tenho que começar a entender que ele desgraçou minha cabeça. No fundo, é a única dose de amor que recebo no dia a dia, estudando o que eu estudo, não deveria aceitar mais esse tipo de relação.
Mas o que nos leva a aceitar algumas coisas? O que limita realmente o que é aceitável ou não? Deixar sentimentos fluírem e viver nossas vidas, já que só temos uma, ou lutar pela racionalidade e viver do jeito que é ditado correto?
Abro os olhos e encaro o display piscando ao lado da porta, assim como Hector, ninguém havia aparecido aqui ainda. Levanto com uma disposição irracional, sendo que não descansei nada.
Fito o celular em cima da cama e puxo o ar profundamente, lembrando das 32 vezes que tentei ligar para Nico nessa madrugada, mas fui direcionada para caixa postal em todas elas. Chego perto da tela brilhante para ver a notificação de Matilde, o café da manhã já estava pronto.
Vou para o banheiro fazer minha higiene, suspiro tocando o absorvente limpo fora, nada de sangue. Deve ter sido um escape. Visto um abrigo de moletom rosa, faço uma trança nos cabelos para que ficasse para dentro da touca, talvez conseguiria me esconder do mundo assim.
Caminho pelos corredores varrendo todos os cantos daquela casa com os olhos, nenhum sinal do padre. Chego na cozinha vendo Matilde na pia, Benjamin escorado em um dos armários e Hector sentado na ilha. Engulo em seco parando na entrada, fitando suas costas com a jaqueta preta, seu cabelo estava devidamente alinhado para trás e seu cheiro tomava conta do lugar.
Baixo o olhar e me direciono para ilha, puxo uma cadeira e qualquer conversa que estava tendo com o segurança é interrompida quando me ve chegar.
— Bom dia, ovelhinha.— Encontro meus olhos com os seus que brilhavam, mas de um jeito trágico.
— Não me chame assim!
— Tudo bem, acho melhor então... te chamar de senhora Santini. Melhorou?
Encaro Benjamin que nos fitava por cima dos óculos escuros, Matilde caminha até a ilha depositando a xícara de café em minha frente, retorno meu olhar para o padre respondendo sua pergunta.
— Lilith Bianchi, pode me chamar assim.— Aquele sorriso covarde se abre em seu rosto, deixa todos os dentes a mostra se divertindo com a situação.
— Que anel bonito, gostou de ficar com ele pelo visto, Bianchi.
Desço o olhar para meus dedos, ainda usava o anel de noivado, fecho os olhos respirando com calma para não perder a paciência, isso que ele queria. A tensão era palpável naquela cozinha, e antes que responda, Matilde me chama.
— Mocinha, tem que comer, ficará fraca deste jeito.
— Esses enjoos estão me tirando o apetite.
— Isso Matilde! Muito bem! Ela precisa comer, se não como meu herdeiro irá se desenvolver?— Rapidamente olho para Hector com sua afirmação, abro a boca e semicerro o olhar querendo voar na sua cara.
Seu corpo se recosta na cadeira rindo como se fosse o melhor piadista existente, fixo o olhar no volume na sua cintura vendo que estava armado. Mas que caralhos Hector andaria armado dentro de casa?
O olhar de Benjamin e Matilde alternam entra o padre e eu, incrédulos talvez, achando que eu realmente estava grávida.
— Não estou grávida! Para MINHA felicidade, menstruei ontem, mas parou...
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O Pior de Mim
Romance⸸Em uma cidade esquecida na Itália, Lilith vive sua vida no campo sem muitos devaneios. Com apenas um amigo fiel e um padrasto superprotetor, Lilith Bianchi oscila entre a excitação e o tédio, a rotina e o inesperado, já que nunca experimentou plena...