43 - Acredite

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Estava com o rosto afundado em um livro por mais de 2 horas. A última prova do semestre seria daqui alguns minutos e faria online. Quase deitada na poltrona da mamãe, me acomodava no estofado cheia de livros no colo e o notbook ao lado esperando para dar inicio a avaliação.

Comecei estudar na capela, estar perto dela me reconfortava, o ambiente havia ficado perfeito. Delicadeza nos detalhes e nas luzes fariam qualquer pessoa relaxar, e o silêncio era reconfortante. Afastava a ideia de que Hector havia feito tudo aquilo, e de como tudo que tocava, parecia perfeito pra mim, mas não era mais, depois de tudo.

Benjamin estava sentado no chão ao lado das minhas pernas enquanto revisava as perguntas que tinha feito sobre as matérias, me ajudando a estudar.

Mergulhar nos estudos foi um bom passatempo e uma bela maneira de não enlouquecer de vez, novamente mantive meu dia ocupado para esquecer as dores, um jeito tóxico de lidar com as situação, eu sei, mas não via outra maneira de continuar vivendo.

Uma semana se passou e nunca mais vi Hector, só eu sabia como meu peito clamava por ele, pelo relacionamento que talvez nunca tenha existido e a possibilidade falha de que talvez nos amávamos. Mas infelizmente provou que o amor habitou apenas em mim.

Não vi mais Sofia desde quando deformei seu rosto, e se visse, faria pior... Benjamin e Matilde cuidaram da sua demissão e sumiram com ela da frente dos meus olhos. Era enjoativo pensar como mulheres não respeitavam umas as outras, deveríamos nos apoiarmos e acreditar no potencial de cada uma, mas algumas, se rebaixavam puxando o tapete de outra.

Suspiro largando o livro em meu colo, me remexo na poltrona sentindo meus músculos reclamarem. Iniciei um treino de luta com Benjamin e o restante dos soldados da propriedade. Me fez bem, libero todos os sentimentos ruins que antes ficavam guardados em meu peito.

Mas, a consequência era um corpo dolorido e cansado, mas com o tempo me acostumaria e saber me defender era essencial.

— Com dor? — O segurança questiona ainda focado em reler as perguntas.

— Sim, quando a dor passa? — Seus olhos encontram os meus com um leve sorriso no rosto.

— Começamos a poucos dias, talvez um mês já esteja acostumada.

— Um mês? Estarei morta até lá.— Começo a rir passando as mãos nos braços tentando aliviar o incômodo.

— Já falei como você é dramática?

— Já, todo dia quando dou um soco errado e reclamo de dor.—  Benjamin balança a cabeça dando uma risada baixa se divertindo com a situação, se levanta retirando os livros das minhas pernas e confere seu relógio de pulso.

— Está quase na hora, vamos, bora dar mais uma estudada nas perguntas antes de prova.

Se Benjamin já era minha sombra antes, agora estava mais ainda. Três dias durante a madrugada o vi abrindo minha porta do quarto e logo se aninhando ao meu lado me puxando para si enquanto uma crise de choro se intensificava. Passava horas me reconfortando e afirmando que não estava sozinha e que tudo que Hector fez não era minha culpa.

Matilde tentava me distrair também no dia a dia, me ensinou a jogar xadrez e começamos a cuidar das flores dos jardins. Me arrisquei na cozinha também e todos os dias tentávamos preparar um prato diferente.

Os dois tinham maneiras distintas de dizer que se preocupavam comigo e me cuidariam. Foi difícil para Matilde aceitar o que o padre tinha feito, anos trabalhando para os Santini e nunca esperaria uma atitude dessas vindo dele, pois havia gostado de mim e se decepcionou no mesmo nível.

Já nutria a mesma feição que tinham por mim sentimental do jeito que estava.

— Olha... acho que fui bem. — Digo largando o notbook na escrivaninha e fitando Benjamin.

O Pior de MimOnde histórias criam vida. Descubra agora