~Lilith Bianchi~
Horas poderiam ter se passado desde que Hector saiu daqui. A briga interna e externa que tínhamos me destruía. Quando achei que estava livre dele, novamente senti as cordas dos açoites, mas em sua versão limpa, e não com a mascara.
Por que me submetia a isso? Não sei. A falta de respostas me sufocava, a indecisão de odiá-lo e aceitar suas penitências me desnorteavam. Querer ou não querer? Lutar ou aceitar?
De um padre misterioso, Hector virou meu amor proibido, para todos e principalmente para mim. A família que sempre desejei ter, o cuidado que mamãe sempre teve comigo, tudo, agora estava em suas mãos. Do seu jeito tóxico e possessivo, me via em uma corda bamba entre a realidade e um filme de terror, entre receber a atenção que desejava ou aceitar que Hector era quebrado, e me daria o seu amor dessa maneira.
Ouço a porta do quarto ser aberta me tirando dos pensamentos, avisto o cabelo branco de Matilde junto com a expressão de preocupação.
— Mocinha... desculpe. - Matilde da passos lentos chegando perto de onde eu estava sentada, no chão com uma poça de lágrimas em volta.
— Lhe desculpar? Você... não me fez nada.
— Peço desculpas por não interferir... nessa briga. Vi que não saiu daqui após Seu Hector se retirar, vim conferir se estava bem. - Suas mãos tocam meus cabelos enquanto seu olhar alternava entre meu rosto e as marcas dos açoites.
— Hãa... A culpa não é sua, é minha. - Levanto-me com dificuldades pegando o roupão que Matilde me alcançou, sinto seu pano grosso repuxar em contato com os vergões.
— A culpa não é sua, querida. Seu Hector sempre foi temperamental, mas com a senhorita... - Observo Matilde que transparecia saber de mais coisas que não queria me contar.
— Estou sozinha aqui Matilde, se pudermos conversar de um jeito mais aberto e amigável, lhe agradeceria pelo resto da minha vida.
— Vamos... sair daqui. - Seu olhar percorre todos os cantos do quarto, o medo cruza seu rosto e ali percebi que essa vida, essa parte obscura que Hector me apresentava, era errada. Nenhuma pessoa, ou poucas, eram acostumadas com isso.
Com seu braço em volta de mim, Matilde me guia até meu quarto. O calor do seu corpo e seu olhar de cuidado me confortaram, ter uma figura feminina aqueceu meu coração, mesmo a conhecendo a poucas horas, essa era uma parte vazia em minha vida.
— Vou encher a banheira... e, em cima da cama, Seu Hector pediu que deixasse para você.
Caminho até a mesma e fito a bandeja prata com pequenas caixas em cima. Pegando em minhas mãos leio o rótulo e são remédios para dor. Pomadas cicatrizantes e chás calmantes. Estava tão anestesiada que a reação não veio. Não teria sanidade para isso, não aguentaria viver com essa sua bipolaridade diariamente, isso tudo era loucura.
— Mocinha, pode vir.
Largo os remédios e vou até o banheiro, Matilde me ajuda com o roupão e entro na banheira. O choque com a água fez escapar um grito do meu peito. Ardeu, doeu... mas em segundos a tensão foi se dissipando. Abro meus olhos e Matilde me aguardava sentada na beirada da hidro, como uma mãe, queria cuidar de mim.
— Matilde... o que dizia sobre Hector?
— Ah... Seu Hector está diferente... o conheço desde que nasceu, nunca foi calmo mas sempre respeitoso. Mas... - A vejo se remexer, falar do seu patrão talvez a deixasse desconfortável.
— Pode confiar em mim, pode ver a situação que estou... - Seus olhos piscam algumas vezes tentando aceitar a verdade que lhe dizia.
— ...quando você chegou, ou quando soube que iria chegar, Hector pareceu ficar... mais eufórico. Tudo nele indicava preocupação e percebi que você era uma pessoa muito importante para ele. Mas... ao mesmo tempo que o vejo querendo cuidar de você, acontecem... essas coisas. - As punições... sabia a que ponto Matilde queria chegar.
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O Pior de Mim
عاطفية⸸Em uma cidade esquecida na Itália, Lilith vive sua vida no campo sem muitos devaneios. Com apenas um amigo fiel e um padrasto superprotetor, Lilith Bianchi oscila entre a excitação e o tédio, a rotina e o inesperado, já que nunca experimentou plena...