60 - O Matrimônio

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                          0 DIAS...

Encaro pela janela do quarto a movimentação das pessoas no jardim, de todo esse tempo morando aqui, ver tanta gente com rostos diferentes, é algo estranho para mim. Respiro fundo vendo o sol que brigava com as nuvens para se fazer presente.

— Talvez o Senhor esteja abençoando essa união.—Murmuro quando noto que é o dia mais bonito dentre os outros frios e chuvosos.

Me iludo? Sim... Estou com os pensamentos tão enroscados que se não fosse a gravidez, já estaria entupida de remédios. Me casaria hoje, não do modo que queria, do modo que sempre sonhei, mas do necessário.

Não vi meu marido nos últimos dois dias, cumpri a missão que me deu ficando trancada no quarto. Ao grosso modo, no momento da raiva, o xinguei mentalmente incontáveis vezes, mas depois de ouvir aquele coraçãozinho batendo freneticamente no ultrassom, a racionalidade tomou frente e aceitei que errei.

Errei em ter deixado Benjamin ir embora, errei em ter esperado para avisar a segurança, avisar Hector. Ter noção que agora não são apenas nossas vidas que estão em risco mas também a vida do menino que carrego na barriga, me amadureceu em várias partes.

Suspiro repassando novamente todos os acontecidos na cabeça, já cansada de tudo isso, exausta. Caminho em direção ao espelho dando uma leve olhada no display para conferir as horas, faltavam 25 minutos.

Sinto meu peito se agitar lembrando das palavras de Matilde, estou no escuro todo esse tempo, não sei se Hector conseguiu encontrar o segurança, não sei quais atitudes tomou para garantir que ficássemos bem, ou se também está no escuro como eu, dando cada passo em falso, mas a governanta só conseguiu me atualizar de uma coisa: “Seu Hector está devastado, transbordando ódio...”

Fito meu reflexo e finalmente uma ansiedade boa surge, quando vejo o tecido mais esticado na região da barriga, aliso a mesma deixando brotar o misto de sentimentos que ainda eram novos para mim.

Puxo a calda do vestido para que não pisasse em cima. Como tudo estava virado de cabeça para baixo, esperei a excitação de pelo menos escolher um vestido de noiva elaborado e inesquecível, mas ela não chegou.

Matilde e o estilista vieram com catálogos no dia seguinte que Caterine esteve aqui, para que escolhesse entre vários e vários disponíveis, do mais barato ao mais caro.

No fim, sem vontade alguma, escolhi este. Era simples, branco perolado, um tecido fino e leve, as mangas cobriam até os cotovelos em renda, o decote era oval e singelo, com a calda descendo até um pouco abaixo dos pés. Ficarei confortável e isso que importaria, igual o padre disse, só carregaria seu nome e nada mais.

— Tem coisas que não imaginamos mesmo que possam acontecer.

Pisco algumas vezes saindo do limbo de pensamentos, perdida na frente do espelho, me viro notando que agora a porta do quarto estava aberta e alguém... alguém muito especial, a pessoa mais improvável de se imaginar que estaria aqui, passou por ela.

— Nico?! — Ele caminha em minha direção em passos lentos, meus olhos percorrem seu rosto, seu terno preto, seu cabelo castanho alinhado para o lado, tentando reconhecer se realmente era real.

— Oi salsichinha.

Quando chega em minha frente, a centímetros, seu cheiro de grama recém cortada me invade, sinto os olhos molharem como se uma represa explodisse no peito. Pulo em seus braços o apertando contra mim, tentando conciliar a respiração com o choro, ele estava ali!

— Porra... que saudades! — Sua voz sai embargada com um possível choro também.

Segundos se passam, minutos, sem que eu conseguisse falar algo. Com os braços em volta do seu pescoço, me agarrei a ele como se fosse a primeira e última vez que nos veríamos. Na verdade, talvez fosse a última vez. Me afasto tentando me recompor e colocar em palavras todas as dúvidas que se faziam presente naquele momento.

O Pior de MimOnde histórias criam vida. Descubra agora