23 - De Volta

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Sinto uma mão sacudir meu braço. Dou um pulo e vejo que a moça que sentava em meu lado no ônibus falava algo.

— Moça? Está bem? Acho que estava tendo um pesadelo... – seus olhos azuis me fitavam com preocupação;

— Ah... sim, acho que sim. Obrigada. – Ela da um sorriso gentil e se levanta indo em direção a saída do veículo, já havíamos chegado.

Olho pela janela e a noite estava estrelada, respiro mais uma vez vendo que sonhei com aquele dia de novo. Tudo vive ainda dentro de mim, cada palavra, cada confissão, seu rosto, seu cheiro... balanço a cabeça e me coloco de pé, chegando na estação pego minhas malas e procuro por Nico. Só nosso ônibus havia chegado, a estação era modesta comparada a de Barletta. Os campos invadiram minha visão, a paz e calmaria.

— Senti falta disso. – digo enquanto observava as paisagens de Santa Luzia.

Sinto um presença atrás de mim, antes que consiga me virar Nico me da um abraço de urso, seu cheiro me invade e dou um sorriso.

— Que saudade, que saudade. – ele dizia entre os apertões e beijos que dava em meu rosto.

— Ah cara de fuinha, quanto amor! Também estava morrendo de saudades. – ficamos trocando carinhos por um bom tempo, até eu estar toda vermelha e Nico eufórico, nos entreolhamos e começamos a rir.

— Bom, acho que já recarreguei minha bateria de você, por ora. Vamos?

— Vamos. – devolvo o sorriso que me dava e pego em sua mão. Nico havia pedido o carro do seu pai emprestado para me buscar. Durante o caminho até sua casa fomos atualizando tudo que ainda não tinha dado tempo de conversarmos, contei como foi a viagem e que precisava de um descanso.

— Nem pensar, você tem poucos dias aqui e eu, comportado como sou, sempre respeitei seus desejos de não querer curtir comigo. Mas hoje te convido pra noite badalada de Santa Luzia. – caímos na risada pois sabíamos que aqui de agitado e divertido não tinha nada.

— Quer curtir as estrelas e tomar um vinho comigo? – Nico pergunta fazendo pose de sedutor.

— Hummm, vou ver em minha agenda. – respondo com deboche.

— Não tem agenda, eu sou o dono dos seus horários quando estiver me visitando.

— Ta legal! Mas vou beber só uma taça! – Nico comemora batendo palmas e seguimos caminho.

Chegamos em sua casa e fui muito bem recebida por seus pais, eles me conheciam já que eu e Nico sempre estávamos juntos, mas não tínhamos o costume de nos vermos sempre.

Subimos para seu quarto e quando entrei ele havia mudado muito. Nico sempre foi muito rebelde e seu quarto sempre transpareceu isso, mas agora, estava mais adulto. Não tinham posters e adesivos de banda de rock por todo lado, estava organizado com um papel de parede claro.

— Olha... eu perdi alguma coisa? – perguntei enquanto dava uma volta em seu quarto, puxei a cadeira do seu computador enquanto o olhava.

— Bom... pessoas mudam né, e eu infelizmente cresci, hahaha. – Nico deita em sua cama, respira profundamente e fecha os olhos. Em apenas 3 meses afastada ele havia mudado muito, parece que estava mais alto, mais forte. A camiseta preta ficava apertada nos seus bíceps, e o cabelo também havia crescido mais, estava ondulado.

— Andou treinando, Nico?

— Sim... deu pra notar? – Da um pulo em minha frente e fica fazendo poses de fisiculturistas, dou risada da sua cara enquanto fingia que estava o avaliando.

— Ah, pouca coisa, quase nem notei. – sua cara fecha em uma carranca e me puxa pelo braço, dou um grito pois me pegou desprevenida.

— Deu de mentiras, vamos lá beber e mentir alcoolizados pelo menos.

Como de costume, fomos para o nosso lugar, precisava reviver esses momentos de novo, me deixar respirar, já que em Barletta eu me afundava em tarefas para esquecer o passado. Hoje eu iria me permitir.

A lua se fazia presente no céu estrelado, dando uma iluminação natural a cachoeira, a brisa estava fresca e não poderia querer algo a mais que isso. Estendemos uma toalha em um canto mais plaino que achamos, Nico trouxe duas garrafas de vinho e alguns petiscos. Nos acomodamos e ao sentar fechei os olhos ouvindo o barulho da água batendo contra as rochas, estava relaxando até abrir meus olhos e ver Nico. Seu olhar estava intenso, me fitava de cima para baixo como se eu fosse uma presa. Um calor surge em meu peito e pigarreio.

— Duas garrafas? Não exagerou? – segurava uma delas enquanto aguardava sua resposta.

— Não! É para compensar todas as vezes que negou beber comigo, e por ter ficado tanto tempo longe. – Nico pega duas taças da mochila, serve e me entrega uma. Dou um gole no líquido vermelho escuro e... até que é agradável, doce...

— Nossa, é muito bom, tem álcool aqui?

— Tem, e tem mesmo. – Nico ria enquanto bebia da sua taça. — É assim que a bebida te pega, acha que é doce e fraca mas depois... só ladeira a baixo.

Rimos, bebemos e comemos os petiscos, tudo estava maravilhoso e as vezes podemos pensar que precisamos de muito para ficarmos felizes, mas fazer algo simples com alguém que gostamos, compensa tudo. Falamos das fofocas da cidade e, graças a Deus, Nico não tocou em assuntos pesados, aqueles...

Quando abrimos a segunda garrafa do vinho, bebemos uma taça e nos deitamos na toalha, o silêncio tomou conta do ambiente enquanto só ficamos observando as estrelas. Já me sentia alterada, estava com o corpo quente e as bochechas vermelhas, ria de tudo que Nico falava mas estava me sentindo bem, me sentia livre. Olho para o lado e Nico estava deitado com os braços cruzados atrás da cabeça, seu peito subia e descia com uma respiração calma, seus lábios estávamos vermelhos por causa do vinho destacando sua pele clara na noite.

Ele vira o rosto encontrando seu olhar com o meu, isso foi o que faltava para eu me impulsionar para cima dele e junto nossas bocas. Não sei o que acontecia dentro de mim, não sei se foi a bebida, não sei se foi o tempo longe, a saudade, ele ser uma pessoa que amava e conhecia realmente, ou apenas tentar fugir dessa realidade com alguém que era e sempre foi bom para mim.

Sinto suas mãos envolverem minha cintura, nosso beijo foi calmo, foi leve, carinhoso e seu toque era suave.

Afasto nossos lábios e fico o encarando, sem reação, sem entender ainda o que eu tinha feito. Nico me afasta sutilmente e ajeita sua postura sentando-se ao meu lado. Me encara com uma expressão indecifrável.

— Ta louca, Lilith? 

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O Pior de MimOnde histórias criam vida. Descubra agora