Tudo estava calmo. Tudo que antes sempre achei impossível, tudo que a muito tempo não acontecia em minha vida, roçava suavemente em minha pele.
Parado na porta do chalé modesto, puxo todo o ar que meus pulmões aguentavam fitando sol se por ao longe, no fim do vasto campo que tomava todos os lados da minha visão.
Tranquilidade e paz eram os únicos sentimentos que se faziam presentes. Viver por 31 anos sem saber o que essas palavras significavam foi injusto, muito injusto!
Mas ali, nesse lugar que não tinha ideia onde seria, me vi recebendo uma pontada de... alívio. Pisco os olhos tentando acompanhar os pássaros que voavam de uma grande árvore, distante.
Respiro mais uma vez aproveitando e me alimentando desse presente, alguém teve piedade de mim, alguém entendeu o inferno que queimava infinitamente em meus pensamentos.
— Amor?
Me viro quando ouço sua voz, pensei que já estava no paraíso, mas me surpreendi quando notei que ele ficou infinitas vezes melhor, agora sabendo que ela estava ali também.
A procuro encontrando apenas o pequeno chalé, vazio. Sua decoração simples e delicada, trazia aconchego para aquele lugar. O vasto campo verde podia ser visto pelas janelas e portas abertas, deixando aquele ar fresco rodopiar os cômodos.
Caminho lentamente sentindo a madeira sob meus pés, aliso a roupa branca que vestia sentindo aquele sentimento ameno ser tomado por uma leve angustia.
Onde ela está?
Com cômodos conjugados, chego na cozinha toda trabalhada em madeira clara, plantas decoravam todo o local, flores que ela gostava.
Giro os calcanhares perdido nos detalhes, percebendo que ali, seria o lugar perfeito, era o nosso lugar, sem dinheiro, sem luxos, sem ganância, sem luxúria, mas com conforto, segurança, paz e principalmente, amor.
Longe de toda merda que sempre me rodeou, longe de todo inferno que a fiz conhecer e entrar comigo, se arrastou para as profundezas, por mim, e eu não me orgulhava disto.
Dou passos lentos olhando para direita, vejo um pequeno corredor com portas, deveriam ser os quartos.
— Amor, venha!
Apenas sua voz, mas de onde vinha? Tudo ficou confuso, meu peito aperta cada vez mais me vendo perdido em uma pequena cabana, que se tornava um labirinto a cada vez que me chamava e eu não a encontrava.
Inspiro sentindo seu cheiro sendo carregado pela brisa que transpassava as janelas. Fecho os olhos guardando cada partícula daquele perfume dentro de mim.
Abro os olhos e encontro o porta retrato que descansava na estante da sala, caminho até o mesmo, o pego e fito a pequena foto, em preto e branco.
Vacilo por um momento, levanto o olhar e encaro o sol se por lá fora, pisco de novo e olho para foto novamente. Aliso o vidro que a cobria com o polegar tentando entender por que aquele menino mexeu tanto comigo.
Um garoto, muito novo... sorria na imagem. Sua pureza fez meus pelos arrepiarem, semicerro o olhar tentando captar todos os detalhes. Abaixo de uma macieira, ele sorria, mas sorria muito, como se estivesse gargalhando, alegre com algo.
Seus bracinhos estavam elevados, como se pedisse colo para alguém, mas apenas ele, a macieira e margaridas estavam presentes ao fundo. Aperto mais o porta retrato vendo sua pele parda, cachinhos pendiam dele iguais aos dela, mas pretos, iguais aos meus cabelos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Pior de Mim
Romance⸸Em uma cidade esquecida na Itália, Lilith vive sua vida no campo sem muitos devaneios. Com apenas um amigo fiel e um padrasto superprotetor, Lilith Bianchi oscila entre a excitação e o tédio, a rotina e o inesperado, já que nunca experimentou plena...