29 - A Seita

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Levo muito tempo para processar a pequena frase, mas mesmo com todo o esforço, não entendo. Minha casa?! Tudo foi se dissolvendo quando o vi em minha frente. Para mim pareciam anos que não sentia o seu perfume, que meus olhos não corriam para os seus.

Hector vestia sua batina de sempre, mas ali? Naquele lugar? O que ele fazia ali? As questões rodopiavam em minha mente mas não conseguia pronunciar nada. Continuava parada em frente a porta, congelada. O mesmo caminha até a grande mesa e senta-se em uma das várias cadeiras em couro preto que tinham em seu redor.

– Por favor, sente-se. – Seu olhar era pacífico, como se tudo estivesse alinhado dentro de si. Seu cabelo e barba estavam maiores, o deixando mais charmoso, mais irresistível.

Caminho em passos curtos, meus olhos não desviavam dos seus, uma respiração acelerada escapa por minha boca, tudo parecia chumbo a minha volta. Sento-me ao outro lado da mesa, em sua frente.

– O que é tudo isso, Hector? – Com muita dificuldade, apenas isso fui capaz de perguntar.

– Está com fome? Ouvi seus gritos a minutos atrás e olha que essa casa é bem... bem grande.

– Isso não importa agora, acredito que me deve... explicações!

– Tudo bem senhorita, você quem manda. – responde colocando as duas mãos para cima como sinal de rendição, estava debochando de mim.

– Teremos muito que conversar, muitas coisas você irá entender hoje, já que essa será sua vida a partir de agora...

– Minha vida?! Você está louco, como sempre! Quero ir embora Hect...

– Cale a boca Lilith! – seu grito faz-me dar um salto na cadeira, sua expressão muda em segundos. – Agora não terá mais escolhas! Irá ouvir tudo calada, tudo que eu iria te mostrar e contar antes, mas resolveu brincar de casinha em outro lugar.

Hector me fita por alguns segundos assegurando-se que não iria o interromper mais. A raiva transbordava em mim e com certeza ele notara, estávamos em uma disputa de egos mas eu precisava entender o que estava acontecendo, até porque quem estava muito longe de casa era eu.

– Bom... que sou um padre, você já deve saber... – um sorriso ladino brota em seus lábios, sua fala era arrastada e calma, enquanto seus olhos vagavam do meu rosto ao meu corpo, me desconfigurava só com tal ato!

– ...mas tenho um pai, ou melhor, tive... ele morreu, três meses atrás, Francesco Santini. A velhice cumpriu seu papel. Tudo isso que você vê, Lilith, era dele. Seu império cresceu e, continua crescendo mesmo depois da sua morte, com comercialização de produtos... – Seu semblante se fecha por um momento, o silêncio assume por alguns segundos, e apenas com uma expressão minha de dúvida, Hector especifica. –Tráfico de armas.

Que ótimo! Estava presa em uma casa de um antigo e poderoso chefão do tráfico, agora já poderia dizer que me envolvi com as piores coisas.

– Mas não se preocupe, como era seu único herdeiro, destinei novas fontes para girar seu capital. Outras empresas, espalhadas pelo mundo, geram o dinheiro. Foi difícil, mas desliguei o nome dos Santini do tráfico.

– Devo me sentir aliviada então... – Sussurro enquanto fitava minhas mãos, subo meu olhar para o seu que me fuzilava por ter o interrompido novamente. Hector pigarreia e continua.

– Minha mãe faleceu quando eu tinha 15 anos, Eleonora Ricci. Foi morta. Trabalhar com esse tipo de coisas, gera alguma consequência. Eu a perdi mas Francesco levou apenas como... uma pequena instabilidade em seus negócios. A partir deste dia, decidi que arranjaria uma maneira de não seguir seus passos. Eleonora sempre foi muito católica, a acompanhava em todas as missas e eventos das igrejas, mesmo que improvável, vi ali minha suposta saída.

O Pior de MimOnde histórias criam vida. Descubra agora