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A floresta ao meu redor parecia uma tapeçaria viva de verdes, vermelhos e amarelos com a luz do sol filtrada através das copas das árvores. O corrego que eu vinha seguindo era um pequeno fio de água cristalina, serpenteando por terreno irregular. As pedras cobertas de musgo e os pequenos troncos caídos formavam uma paisagem calma, e as ervas que eu encontrava ao longo da margem estavam agora amarradas em um pacote improvisado, pronto para serem levados de volta.

Sempre gostei de passar o tempo no meio da mata. Me dava paz e acalmava minha mente. Me deixando pensar.

No entanto, a luz do sol estava alta no céu, e a falta de comida começava a  pesar sobre mim. O café da manhã havia sido um pensamento distante, esquecido na pressa de sair de casa e na confusão da praça. A ânsia de entrar na floresta. O estômago roncava em um lembrete constante de que precisava de sustento, e a fome começava a se transformar em um desconforto persistente.

O desejo de voltar para casa se tornou mais urgente. Miray, provavelmente estaria preocupada com minha ausência. A ideia de deixá-la ansiosa por causa da minha demora me motivou a tomar a decisão de retornar.

Concentrei-me no caminho de volta, mantendo os olhos abertos para qualquer sinal de perigo e os ouvidos atentos aos sons ao meu redor.
Ajustei galhos e folhas das ervas nos braços, passei a mão livre sobre a nuca, meus cabelos grudando com suor.

Andei por minutos na floresta, meus passos estalando nas folhas caídas até sentir uma sensação crescente de desconforto.

O som sutil de galhos se quebrando e o farfalhar das folhas parecia mais pronunciado do que o normal. A cada passo, a sensação de que algo — ou alguém — estava me seguindo fazia meu coração acelerar. Respirei fundo, tentando acalmar os nervos e afastar os pensamentos inquietantes. Olhei ao redor não encontrando nada que justificasse essa sensação.
Concentrei-me no caminho de volta, mantendo os olhos abertos para qualquer sinal de perigo e os ouvidos atentos aos sons ao meu redor. A sensação de ser observada persistia, mas agora eu estava determinada a voltar à segurança da aldeia e entregar as ervas necessárias.

Eu estava apenas impressionada com tudo o que aconteceu naquela manhã. Eu vinha passando meus dias naquela floresta desde que alcancei a idade suficiente para ser útil. Conhecia os arredores da vila como a palma de sua mão. E ainda estava muito cedo para o perigo de verdade chegar. Os animais perigosos não costumavam andar por aquela trilha. Mas mesmo assim mantive meus sentidos alertas. O corpo preparado para correr o mais rápido possível na direção da segurança.
O pensamento de estar de volta em casa, onde o conforto e a familiaridade me esperavam, me guiava através da floresta até os portões da aldeia.

Apesar da tensão e da fome, havia algo profundamente reconfortante na imensidão verde ao meu redor. Os cheiros da floresta, uma mistura terrosa de folhas úmidas e pinho, sempre foram um bálsamo para meu espírito. O som suave do corrego e o canto dos pássaros criavam uma sinfonia natural que, ao longo dos anos, sempre teve o poder de acalmar minhas preocupações.

Me lembrei de momentos felizes da minha infância, quando meus pais me levavam para passeios pela floresta. Em uma manhã clara, quando o sol brilhava suavemente entre as árvores, meus pais me mostraram uma clareira especial onde as flores silvestres cresciam em abundância. Eles me ensinaram a identificar as plantas e a ouvir os sons da floresta como se fossem conselhos secretos da natureza. As risadas e a sensação de estar envolvida pelo carinho dos meus pais naquela clareira eram memórias que eu carregava com muito carinho.

Meu minha me ensinando a distinguir o som de um riacho do som das folhas ao vento. A saudade apertando meu peito. "Confie em seus instintos, pequena," ela me dizia com um sorriso caloroso, "a natureza sempre revela o que você precisa saber." Essas palavras, ditas com tanto amor e confiança, ficaram gravadas em minha memória. Elas me guiavam em cada passo, como um lembrete de que, mesmo na solidão, eu não estava verdadeiramente sozinha.

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