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Depois que o guarda nos deu a notícia, a urgência tomou conta de mim. Eu e Miray nos apressamos rapidamente pela casa, pegando ervas e remédios que poderiam ajudar.

Miray começou a se mover rapidamente pela sala, enquanto eu a seguia, pegando tudo o que conseguia encontrar.

— Precisamos de bandagens — disse ela, já abrindo a prateleira onde guardávamos nossos suprimentos. —  Aquelas ervas para desinfetar, onde estão?

— Aqui! — respondi, alcançando um pequeno pote de tintura de arnica. — E não se esqueça das folhas de calêndula!

— Temos que nos apressar —  olhando pela janela em direção ao centro. A agitação estava crescendo, e eu podia ouvir os gritos e o clamor das pessoas.

Miray estava já ocupada enchendo um pano com ervas secas, suas mãos ágeis trabalhando com precisão. A tensão no ar a tornava ainda mais determinada. O tempo parecia voar enquanto enchíamos nossas bolsas com tudo o que podíamos carregar: frascos de remédios, curativos e ervas.

Ela assentiu, seus olhos brilhando com uma mistura de foco e preocupação. Com uma última olhada para a casa, saímos.

A caminho do centro da aldeia, o ar estava pesado, carregado com o odor de sangue e fumaça que me fazia sentir o estômago revirar. Miray caminhava ao meu lado, seus olhos arregalados, a expressão uma mistura de medo e determinação. O guarda, à nossa frente, liderava o caminho, seus passos rápidos e firmes. O caminho que percorríamos estava marcado pela desolação. As ruas de terra, agora estavam cobertas de poeira e sangue  o ar estava pesado com o cheiro de fumaça e o lamento distante dos feridos.

Miray caminhava ao meu lado, observando cada detalhe ao nosso redor. O céu cinzento parecia refletir a tristeza da aldeia, enquanto tentávamos avançar.

— Eles precisam de vocês — ele disse, sem se virar. Sua voz, grave e urgente, ecoou em meio ao caos opressivo que envolvia a aldeia.

Quando chegamos à praça, uma visão aterrorizante nos aguardava. Feridos estavam deitados no chão, alguns sendo atendidos por aldeões que pareciam tão perdidos quanto os que precisavam de ajuda. A gritaria misturava-se ao lamento das famílias, e a cada passo que dava, sentia a gravidade da situação se aprofundar.

— O que aconteceu? — perguntei, a voz saindo mais baixa do que eu pretendia. Miray apertou meu braço, e percebi que ela também estava lutando contra o pânico.

— Houve uma explosão, parece — respondeu o guarda, agora olhando para os feridos. — Eles vieram em um número que nunca vimos antes. Estão dizendo que foram os demônios.

Aquelas palavras ecoaram em minha mente, misturadas com a lembrança do ataque que eu própria havia enfrentado.

Miray começou a ajudar os feridos, seu instinto de curandeira tomando conta. Eu, por outro lado, me sentia paralisada. O que eu poderia fazer? A impotência me atingiu como uma onda.

Enquanto ajudamos os feridos, uma pergunta angustiante martelava em minha mente: como os lobos conseguiram entrar na aldeia e atacar o galpão sem que ninguém percebesse? Acreditávamos que esses predadores só apareciam à noite, mas agora a realidade mostrava algo muito mais assustador.

Olhei ao redor, observando os rostos aflitos e as pessoas lutando para ajudar. Como os guardas poderiam ser pegos de surpresa? O galpão, um dos locais mais vigiados da aldeia, estava repleto de materiais para enfrentar a ameaça dos lobos. Seria coincidência? Era impossível que eles conseguissem se infiltrar assim, em plena luz do dia. Não era?

O medo se transformou em uma urgência avassaladora. Olhei ao redor e percebi que muitos dos que estavam ali eram conhecidos, vizinhos, pessoas que tínhamos visto crescer. Como eu poderia ficar parada?
Foi então que avistei uma figura familiar entre a multidão.

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