Caminhei pelo trilho estreito, a terra ainda úmida da chuva da noite anterior. O ar estava impregnado com o aroma fresco da vegetação, uma mistura de terra molhada e folhas secas, que me trouxe um leve conforto. No entanto, a sombra do que eu tinha visto me acompanhava como um espectro, e cada passo parecia me afundar mais na preocupação. A capa que envolvia meus ombros me protegia do frio cortante, enquanto a adaga do meu pai repousava oculta sob o tecido, um lembrete silencioso da coragem que eu precisava. A cesta de vime balançava suavemente ao meu lado, um disfarce para a verdade: eu não estava ali apenas para colher ervas.
À medida que me aproximava de uma árvore robusta, avistei Eli encostado ao tronco nu, seu olhar atento e curioso, refletindo a luz pálida do sol invernal. Ele era fácil de encontrar, eu conhecia bem os locais onde os guardas patrulhavam. O brilho de seu cabelo, brilhando sob a luz do sol, destacava-se contra o fundo cinza da floresta.
- O que você faz aqui, Evrin? - perguntou, um sorriso brotando em seu rosto, quase como se o frio não o afetasse.
Ajustei a cesta que trazia nos braços. Eu dissera a Miray que sairia para colher ervas. Mas na verdade pretendia investigar.
- Eu preciso da sua ajuda.
Ele arqueou uma sobrancelha, a curiosidade misturando-se com a preocupação. O frio do ar gelado envolvia meus pulmões, mas eu sabia que não podia hesitar.
- O que está acontecendo? - Eli perguntou, seu tom agora mais sério.
Começamos a caminhar, o som da terra congelada sob nossos pés criando uma melodia silenciosa, interrompida apenas pelo sussurro do vento. Deixei para falar assim que encontrássemos Davian. Ele que havia começado tudo aquilo afinal e deixá-lo de fora não parecia certo.
Logo, o avistamos, sentado em uma pedra coberta de musgo, perdido em seus pensamentos, a expressão tensa.
- O que aconteceu? - Sua voz soou grave e preocupada ao notar nossa aproximação.
Respirei fundo, sentindo o cheiro da terra úmida misturado ao ar frio. Hesitei, a imagem da criatura ainda vívida na minha mente, e a escuridão que o cercava.
- Eu não sei de nada. Evrin está toda misteriosa hoje.
Revirei os olhos para ele. Eli apenas cruzou os braços, os lábios curvados num sorriso relaxado.
- Eu sei onde podem estar escondendo as caixas misteriosas que o conselho tirou do galpão - disse, a adrenalina pulsando em minhas veias. - Precisamos investigar. Não posso fazer isso sozinha.
O vento soprou, trazendo o perfume de madeira queimada, um lembrete do inverno rigoroso que se aproximava. A tranquilidade do lugar contrastava com a tempestade que se formava dentro de mim. O sorriso de Eli sumiu, refletindo a gravidade da situação, enquanto Davian se endireitava, a atenção despertada.
- O que você viu, Evrin? - Eli perguntou, a urgência na sua voz me fez sentir que, mesmo em meio ao medo, não estava sozinha.
[...]
O caminho era uma trilha gasta, marcada por pegadas de botas, a terra um pouco mais clara, como se muitos já tivessem passado por ali. Em uma das muitas vezes em que saíra para colher ervas, eu havia avistado uma construção de pedra, quase esquecida no meio da floresta. Mas na época, a imagem não havia se fixado; agora, voltava à tona, clara e vívida.
Depois de alguns minutos, finalmente avistamos a construção: paredes desgastadas pelo tempo, cobertas de musgo e trepadeiras, como se a natureza tentasse engolir o que restava. Mas havia algo mais - guardas na entrada, vigilantes e alerta, como se estivessem guardando algo.
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A Herança Da Lua
WerewolfNo crepúsculo do tempo, quando a lua azul iluminar a noite e o vento sussurrar entre as árvores antigas, os lobos que caminham entre os homens despertarão. Na escuridão, um novo lobo surgirá, com olhos de fogo e coração de gelo, trazendo com ele a...