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O silêncio entre nós durou alguns minutos, enquanto eu mastigava lentamente, tentando encontrar palavras para começar. Eli parecia confortável em seu próprio ritmo, concentrado na comida à sua frente, mas eu sabia que ele também estava esperando que eu falasse. Havia muito que eu precisava entender, e as perguntas borbulhavam na minha mente desde o momento em que o vi ali, rindo como se nada tivesse acontecido.

Respirei fundo, finalmente empurrando o prato de lado. Minhas mãos, aquecidas com o calor da comida, repousaram sobre a mesa.

- Eli - comecei, hesitante. Ele levantou os olhos na minha direção, atento.

- O que foi? - disse ele, com uma leve curva nos lábios, mas os olhos mais sérios agora, captando a gravidade em minha voz.

- O que aconteceu depois que nos separamos na floresta? - Perguntei. O peso da memória daquele dia ainda me puxava para trás, a fuga desesperada da aldeia, o caos e o medo que haviam consumido cada segundo.

Eli desviou o olhar, o brilho nos olhos apagando um pouco, como se revivesse o momento com uma dor silenciosa. Suas mãos descansaram sobre a mesa, os dedos se entrelaçando de forma tensa.

- Quando nos separamos na floresta, tudo ficou confuso. Eu tentei te encontrar, mas... a última coisa que eu vi foi Davian correndo na direção oposta, então achei que ele estivesse em perigo. Fui atrás dele.

Meu coração deu um salto ao ouvir o nome de Davian, e esperei que Eli continuasse. A ansiedade crescia em mim como um peso que eu não podia controlar. Ahren tinha dito que ambos estavam bem.

- Eu... não consegui ir muito longe, - disse ele, sua voz baixando. - Estava sangrando muito. - Ele tocou o lado do corpo como se ainda sentisse a dor. - E eu caí. Tentei me arrastar, esconder em algum canto da floresta. Eu sabia que precisava ajudar Davian, mas... não consegui. - Ele deu um suspiro pesado, o rosto se endurecendo. - Então, ali fiquei, no escuro, esperando que fosse o fim. Foi então que você apareceu.

Eu me lembrava de tudo. Lembrava de como seu corpo estava encharcado de sangue, a respiração fraca e entrecortada. Ele havia perdido tanto sangue que por um momento, achei que ele não sobreviveria.

- Eu corri, - continuei, as palavras saindo rápidas agora. - O lobo estava perto demais. Eu... eu o atraí para longe de você. Foi a única coisa que pude fazer. Não consegui voltar pra te ajudar.

Eli parecia ponderar sobre o que eu havia dito, mas então sua expressão mudou, como se uma memória tivesse acendido uma faísca em sua mente.

- Eu me lembro de você correndo - ele começou, um sorriso incredulamente divertido se formando em seus lábios. - E gritando como uma lunática. O que você estava pensando? Que ideia estúpida!

Uma onda de calor subiu pelo meu rosto, e eu mordi o lábio, envergonhada. Era verdade, eu tinha corrido, gritando, tentando atrair o lobo para longe dele.

- Que outra escolha eu tinha? - protestei, lembrando da adrenalina que corria em minhas veias. - Eu só pensei que se eu pudesse distraí-lo, você teria uma chance de escapar.

Eli balançou a cabeça, ainda rindo, mas havia um toque de admiração em seu olhar.

- Você é completamente maluca, Evrin, - ele disse, sem perder o tom divertido. - Mas eu tenho que admitir, foi corajoso. Ou talvez só imprudente. Eu já estava com o pé do outro lado. Deveria ter me deixado lá.

Eu ri nervosamente, lembrando da intensidade do momento, e como eu não pensava em nada além de protegê-lo. Havia um misto de alívio e gratidão no ar, e mesmo em meio à tensão da lembrança, uma parte de mim se sentia feliz por ele estar aqui, ao meu lado, bem e salvo. Meu plano tinha dado certo.

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