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Eu estava sem ar, mas não pelo medo, e sim pela confusão. As palavras dele ainda ressoavam na minha mente, cada uma delas me atingindo de formas diferentes, como ondas quebrando contra as rochas. Algo dentro de mim lutava contra o significado daquilo tudo. Não podia ser verdade... Eu sentia um nó no estômago, um aperto no peito.

Eu queria entender, queria... mas parecia que quanto mais ele falava, mais distante eu ficava da resposta que realmente precisava. Não sabia o que pensar, nem por onde começar a juntar os pedaços dessa verdade distorcida.

Cada frase, cada descrição que ele fizera me parecia ao mesmo tempo familiar e impossível. Eu estava envolvida em um emaranhado de emoções, lutando para processar o que ele havia acabado de revelar.

Eu me lembrava de tudo, da sensação de estar sendo observada. O choque daqueles dias ainda estava gravado na minha pele, mas agora as peças começaram a se encaixar. Era ele lá. Eu me lembrava do vulto que veio como um raio, da luta violenta e rápida. E do lobo...

Eu me lembrava. O lobo negro.

Meu coração começou a acelerar. Aquele lobo, com seus olhos brilhantes e a fúria que emanava dele. Ele tinha me salvado, protegido... e eu não sabia.

Os mesmos olhos que haviam brilhado no rosto daquele homem, com aquele mesmo dourado incandescente.

Olhei para ele agora, parado à minha frente, esperando que eu dissesse algo. Havia uma urgência em seus olhos, um pedido silencioso para que eu compreendesse. E, lentamente, como se estivesse emergindo de um sonho, eu percebi a verdade.

O choque tomou conta de mim, e eu me empurrei para trás, as costas encostando na parede fria. Tudo aquilo que eu havia sentido, o medo, a confusão... e a inexplicável sensação de segurança. Eu não conseguia conciliar a fera feroz que eu vira naquele dia com o homem que agora estava diante de mim. Como poderia?

— Você... — murmurei, as palavras tremendo em meus lábios. — Era você... aquele lobo...

Isso era impossível.

Minha voz vacilou, e ele manteve o olhar fixo no meu, seus olhos agora castanhos, cheios de uma familiaridade que me atingiu como uma onda.

— Sim.

Eu senti o chão sumir debaixo dos meus pés. A verdade agora estava ali, nua, crua.

Meus lábios se entreabriram, mas nenhuma palavra saiu. As memórias daquele lobo, dos seus olhos dourados, da maneira como ele se interpunha entre mim e o perigo, começaram a se sobrepor ao homem que estava agora à minha frente. Era difícil, impossível quase, conciliar aquelas duas imagens. O selvagem e o racional, o animal e o humano. Mas agora eu entendia. Como ele parecia familiar para mim.

— Você estava lá... na noite que fugirmos da aldeia... — Minha voz soou distante, quase como se viesse de outra pessoa. — Com os outros. E me trouxe pra cá.

Ele continuava a me observar, a intensidade em seu olhar crescendo. Ele assentiu. A expressão paciente, esperando que eu compreendesse tudo.

Minhas mãos começaram a tremer, e eu tentei me afastar mais para trás, me afastar da imensidão dessa revelação. Mas, ao mesmo tempo, algo me puxava para ele, como se uma força invisível estivesse me empurrando para a verdade que eu tentava negar.

— E o que você quer de mim? — perguntei, minha voz mais forte agora, embora eu ainda estivesse à beira do pânico. — Por que eu? Eu nem te conheço, não sei o que você é!

Ele respirou fundo, seus olhos penetrantes como se tentassem ver além das palavras, além da pergunta.

— Não posso dizer que não quero nada de você, estaria mentindo. Você é tudo, Evrin. Tudo o que eu procurava e nem sabia. Desde aquele momento, você é meu destino. E eu não posso... eu vou te contar tudo, se você me permitir.





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