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Enquanto caminhava descalça pela floresta à noite, a sensação da terra fria sob meus pés me conectava ao chão. O ar estava carregado de um frescor úmido, e uma névoa leve se arrastava pelo solo, envolvendo tudo em um manto etéreo. O luar filtrava-se pelas copas das árvores, criando um jogo de sombras e luz que dançava ao meu redor.

Meu vestido branco esvoaçava suavemente com a brisa, como se tivesse vida própria, e meus cabelos soltos caíam em ondas sobre meus ombros, absorvendo a luz prateada da lua. Cada passo que dava me levava mais fundo na floresta, como se uma força invisível estivesse me guiando.

A névoa começou a se intensificar, envolvendo-me em um abraço frio, e, enquanto me aproximava da clareira, a visão do homem de cabelos negros surgiu, iluminado pela luz da lua. Ele estava parado no centro da clareira, e seu olhar penetrante parecia atravessar a escuridão que me cercava. Tentei me mover em sua direção, mas uma força invisível me mantinha à distância, aumentando a angústia em meu peito.

"Você está demorando muito."

Senti meu coração acelerar ao ouvir sua voz, como se uma parte de mim estivesse anseando por aquele momento. O homem estendeu a mão, seus dedos longos parecendo brilhar sob a luz da lua. "Você precisa vir até mim", ele repetiu, a urgência em sua voz me atraía, mas a distância entre nós parecia se estender a cada segundo.

Tentei me mover, mas minhas pernas estavam pesadas, como se o solo estivesse grudando em meus pés. A clareira ao meu redor começava a girar, as árvores se contorcendo, como se estivessem vivas e tentando me alertar sobre algo. "Não consigo", minha voz saiu como um eco distante.

"Você deve se libertar do medo que a prende." Cada palavra dele era como um lembrete cruel da minha impotência, e a angústia aumentava, fazendo meu peito apertar.

Com um esforço desesperado, fechei os olhos e respirei fundo. Quando abri os olhos novamente, a névoa parecia menos densa, mas a distância ainda me separava dele.

"Por favor", implorei, a voz embargada pela emoção. O homem sorriu, mas a tristeza em seu olhar fazia meu coração se apertar. "Você precisa dar o próximo passo, estarei esperando", disse ele, e percebi que a resposta estava dentro de mim, mas o medo continuava a me prender.



[...]



Eu acordei com um sobressalto, o coração acelerado, como se ainda estivesse presa em algo profundo e angustiante. A luz do dia filtrava-se pelas frestas da janela, mas as imagens do sonho se esvaíam da minha mente, deixando apenas uma sensação de perda. Coloquei a mão no peito, tentando acalmar a angústia que me consumia, como se sentisse falta de algo indefinido.

- Você está bem, Evrin? - A voz suave de Miray ecoou na pequena cabana , e eu me virei para vê-la de pé ao lado do fogo, com a expressão de preocupação marcando seu rosto.

- Eu... estou bem - respondi, mas a verdade era que não estava. Um vazio inexplicável parecia me seguir.

Levantei-me, os pés tocando o chão frio de madeira, caminhei até a área da pequena cozinha, onde o aroma do pão recém-assado misturava-se ao cheiro fresco da manhã.

Miray estava ocupada, mexendo em uma panela, seus cabelos brancos caindo em ondas sobre os ombros, um vestido simples no corpo frágil. A luz do sol iluminava seus traços delicados, e por um momento, a cena simples me trouxe um pouco de conforto. O calor da lareira e o tilintar dos utensílios criavam um ambiente acolhedor, mesmo que a inquietação ainda estivesse presente em meu coração.

- Precisa de ajuda? - disse, forçando um sorriso enquanto trocava de roupa. O movimento me distraiu, mas a sensação de falta persistia, como uma sombra que se recusava a se dissipar. Amarrei o cabelo em uma trança simples, prendendo a ponta com uma tira de tecido.

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