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Passei horas abraçada à minha mãe, trocando histórias sobre nossas vidas distantes. Falei sobre a aldeia, sobre como Miray cuidou de mim, o carinho que me deu, mas também o vazio de não entender por que sempre me senti diferente. Minha mãe ouvia em silêncio, apertando minha mão de vez em quando, como se o toque fosse um consolo para tudo o que perdemos. Depois, ela me levou até o lugar onde meu pai está enterrado. Ficamos em silêncio por um longo tempo, apenas olhando para a terra, e senti um nó na garganta ao imaginar todo o sofrimento que ela carregou sozinha. Foi doloroso, mas necessário.

Agora, estava tentando parecer normal enquanto janto com Eli e Nylla. O salão está barulhento, mas os sons parecem abafados para mim. Meu corpo está presente, mas minha mente ainda está presa às revelações e às emoções confusas do dia.

Eli estava ao meu lado, discutindo animadamente com Nylla sobre as peculiaridades dos lycans, mas eu mal conseguia acompanhar a conversa.

Eu tentava acompanhar a conversa deles, mas não conseguia. Saí da sala de reuniões ainda com as palavras de Zyran e dos outros ecoando na mente.

- Você não ouviu nada do que eu disse, ouviu? - Eli riu, seus olhos brilhando. - Acho que você está tão preocupada que até esqueceu como se divertir!

Desviei o olhar, tentando encontrar as palavras certas.

- Desculpe, Eli. Apenas... muita coisa aconteceu na reunião.

Theron. Apenas pensar no nome dele provocava um nó no meu estômago. O que Zyran havia falado sobre seus planos, o que ele estava tramando nas sombras.

Minha mente vagou para a Althea. O sofrimento que aquelas pessoas enfrentavam ainda ecoava em mim. A devastação causada pelos renegados e as feridas que nunca cicatrizariam me faziam sentir como se houvesse uma parte de mim perdida entre os destroços. Eu não sabia como eles estavam se virando com o inverno. Logo a comida ficaria ainda mais escassa, o frio mais rigoroso, e as doenças mais implacáveis. Os portões seriam trancados e reabertos apenas na chegada da primavera. Eu não estaria lá pra ajudar. Miray teria que cuidar de todos sozinha agora.

- Evrin? - Nylla chamou, me arrancando de meus pensamentos. - Você está bem? Parece distante.

- Sim, só... pensando - respondi, forçando um sorriso. - Só quero que tudo isso dê certo.

Eli ergueu uma sobrancelha, um sorriso provocador dançando em seus lábios.

- Pensando ou sonhando?

Ele piscou para mim, e eu não consegui conter uma risada. Dei um empurrão nele, amava esse jeitinho dele de aliviar a tensão.

- Se Ahren não estivesse tão ocupado sendo o alfa, aposto que ele ia te convidar para um passeio noturno a luz da lua, e você ia desmaiar de tanto encanto!

- Cala a boca!

- Vai dar tudo certo - Eli disse, colocando a mão em meu ombro. - Estamos trabalhando, e isso deve contar para alguma coisa. Temos que confiar uns nos outros, certo?

- Certo - murmurei, mas a dúvida ainda pesava em meu coração.

Nylla se virou para nós, a expressão brincalhona idêntica a do irmão.

- Se eu fosse você irmãozinho, eu abria bem os olhos e tomava cuidado com o lobo mal.

Eli tirou a mão do meu ombro rapidamente e mostrou o dedo do meio pra ela.

O cheiro de carne grelhada e pão fresco se espalha pelo ar, mas não tem o menor efeito no meu apetite, eu mal consigo tocar na comida. Meus dedos estão inquietos, mexendo no garfo sem propósito.

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