O mundo ao meu redor estava envolto em névoa. Tentei abrir os olhos,mas a letargia que envolvia meu ser se recusava a se dissipar. Decidi ficar assim por mais alguns instantes, concentrando-me nas sensações ao meu redor. Senti-me como se estivesse emergindo de um profundo sono, o corpo pesado e dolorido, como se tivesse sido pisoteada por um rebanho de cervos. Minha consciência despertava lentamente, e o suave crepitar de uma lareira atingiu meus ouvidos, misturando-se com o leve aroma de ervas. O calor emanava do fogo, aquecendo a escuridão ao meu redor, mas não o suficiente para dissipar a dor que pulsava nas costelas. Senti as ataduras apertadas ao meu redor e um curativo sobre o ombro. Alguém havia tratado com cuidado.
— Ela já deveria ter acordado.
— Ela vai acordar quando estiver pronta.
Um som de passos suaves interrompeu o silêncio. O coração disparou no meu peito ao perceber que não estava sozinha. Tentei me mover, mas a dor novamente se intensificou, forçando-me a recostar-me.
— Já fazem quatro dias. Ezlin.
Então, o sussurro de memórias fragmentadas começou a emergir. Lembrei-me do frio da floresta, do monstro, e tudo o que me levou até aqui. Com um esforço, abri os olhos. A luz dançava ao meu redor, e a penumbra me acolhia.
O ambiente ao meu redor começou a se formar diante de mim. As paredes eram feitas de pedras escavadas, impressionantes e rústicas, com sombras que dançavam ao sabor das chamas. O teto se erguia alto, irregular, o chão era adornado com tapeçarias finas que pareciam contar histórias antigas. Cada detalhe do espaço, desde os móveis elegantes até a decoração delicada, falava de um lugar onde a beleza e a natureza se encontravam em harmonia.
Meus olhos se moveram lentamente, explorando o ambiente. Uma mesa de madeira escura estava disposta em um canto, repleta de livros e objetos que pareciam relicários de um tempo distante. Havia uma lareira imponente, cujas chamas projetavam um brilho quente, iluminando os rostos das sombras que pareciam vigiar cada movimento meu, uma enorme colcha de peles estava estendida, convidativa e aconchegante, como um abrigo em meio a um mundo hostil. A luz suave refletia em cada superfície, criando um espaço que era ao mesmo tempo acolhedor e misterioso.
Enquanto absorvia o cenário, uma sensação de estranhamento se instalou. Eu precisava saber onde exatamente eu estava, e o que significava tudo isso. E o mais importante, onde estavam Eli e Davian.
A dor disparou pelo meu corpo, como se uma faca estivesse cravada entre minhas costelas, mas não recuei. Com determinação, apoiei as mãos na colcha e forcei-me a erguer o tronco. A sala girou um momento, e eu fechei os olhos, concentrando-me.
— Algue...? — tentei perguntar, mas a voz saiu rouca, quase um sussurro perdido. Assim que abri a boca, uma tosse seca me tomou de assalto, arranhando minha garganta. A falta de água queimava como fogo.
Tossi mais algumas vezes, o som ecoando no silêncio do ambiente, e a dor nas costelas intensificou-se. A sensação era quase insuportável, mas eu não podia me permitir recuar. Depois de um momento, consegui limpar a garganta, respirando fundo.
— Evrin, meu amor!
Um silêncio profundo me envolveu, e então, de repente, uma mulher apareceu à beira da cama. Ela era alta, com cabelos longos e escuros que caíam em ondas sobre seus ombros. A luz da lareira iluminava seu rosto, revelando traços suaves, mas havia algo em seus olhos que me fez hesitar.
Ela se aproximou de um jarro colocado na mesa ao lado e, com movimentos gentis, serviu um pouco de água em um copo. Quando se virou para mim, oferecendo o líquido, a visão de seu rosto me fez recuar instintivamente.
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A Herança Da Lua
WerewolfNo crepúsculo do tempo, quando a lua azul iluminar a noite e o vento sussurrar entre as árvores antigas, os lobos que caminham entre os homens despertarão. Na escuridão, um novo lobo surgirá, com olhos de fogo e coração de gelo, trazendo com ele a...