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Senti o nó na garganta apertar conforme Ahren continuava a recusar o resgate dos que ficaram para trás. No salão de reuniões, o calor das tochas refletia nos olhos cansados e nos semblantes sombrios dos betas, que apoiavam a decisão do alfa. Mas a ideia de abandonar aqueles que ainda poderiam estar vivos parecia inaceitável para mim.

- Então... você vai deixá-los para trás? - Minha voz saiu em um sussurro quase inaudível, e a esperança morria a cada sílaba.

Ahren segurou meu olhar, os olhos duros como aço. - Não é uma questão de querer, Evrin. Aqueles que ficaram... talvez nem estejam vivos.

Senti uma náusea me consumir ao ouvir isso, mas recusei-me a aceitar. Eles estavam lá fora, a mercê do Conselho, e isso me fazia tremer de pavor e revolta. Não podíamos deixá-los.

- Como pode dizer isso? - A indignação borbulhava em cada palavra, minhas mãos tremendo. - Eles lutaram, arriscaram tudo para que outros conseguissem escapar. E você vai simplesmente desistir deles?

Ahren passou a mão pelo rosto, exasperado. - Você não entende, Evrin. Isso pode ser exatamente o que o Conselho quer. Nos iscar para uma armadilha, um massacre. Eles sabem que vamos atrás dos nossos. Eles contam com isso... não seja impulsiva.

Aquilo atingiu fundo, uma dor aguda que só Ahren era capaz de causar. Ele realmente pensava isso de mim? Que minha vontade de salvar aqueles que amava era só... impulsividade? Como se eu estivesse agindo sem pensar? Minhas mãos se apertaram em punhos, e a mágoa veio como uma maré forte.

- Eu posso ser impulsiva, Ahren, mas dessa vez não é isso. Eu sei dos riscos, mas sei também que não conseguiria viver comigo mesma sabendo que eu deixei Miray e os outros para trás.

Ele deu um passo em minha direção, o olhar duro, cortante. - Isso não é sobre o que você consegue suportar, Evrin. Isso é sobre o que todos nós precisamos fazer para sobreviver. Você já parou para pensar nisso?

Ahren me olhava com uma expressão cansada e devastada, cada palavra que saía de sua boca carregando o peso de tudo o que ele não dizia. Eu sabia que ele estava sendo racional, mas não podia aceitar o que estava me dizendo.

- Os lycans estão feridos, Evrin, - ele começou, o tom quase um sussurro, como se a confissão o machucasse. - Estão exaustos, e nosso número é pequeno demais agora. Não podemos ir atrás deles sem um plano, sem garantias. Tudo o que conseguimos fazer até agora foi nos manter vivos.

Aquilo me atravessou como uma lâmina. Não era o suficiente para ele? Eu não conseguia entender como ele podia simplesmente... aceitar isso.

- Mas e Andras? Zyran? Eles também estavam lá fora, lutando ao nosso lado!

Ahren respirou fundo, e por um segundo seus olhos brilharam com uma dor que ele parecia conter a muito custo.

- Eu sei quem eles são, e o que fizeram por nós. Mas não posso agir impulsivamente. Cada movimento nosso agora é decisivo. Se dermos um passo em falso, perderemos tudo o que restou. Não é só sobre o que queremos, Evrin. É sobre o que ainda temos, e as vidas que restam para proteger.

Eu senti a garganta apertar. - Então você quer me dizer que eles... já estão mortos? Que não vale a pena tentar?

Ele balançou a cabeça lentamente, a expressão endurecendo. - Não estou dizendo que estão mortos. Mas você não vê o que está acontecendo? Estão nos desgastando. Não querem só nossa rendição; querem destruir tudo o que somos.

- Isso não muda o fato de que são nossa família! - eu insisti, o desespero cada vez mais evidente. - Eu me recuso a deixá-los assim, Ahren. Não depois de tudo o que eles fizeram.

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