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A aldeia estava envolta em uma atmosfera vibrante de expectativa. O solstício de inverno havia chegado, e os moradores se preparavam para a Festividade, um evento anual que celebrava a chegada do inverno e a esperança de dias mais longos. As ruas estavam adornadas com lanternas e tochas, criando um ambiente acolhedor contra o frio cortante. Ramos de pinheiro e flores brancas enfeitavam as casas, simbolizando a vida que ainda persistia mesmo nos meses mais escuros.  

Os sons de risadas e música ecoavam pelo ar, enquanto as pessoas se aglomeravam em torno das mesas longas, cheias de pratos especiais, como tortas de frutas secas e pães de mel. Todos pareciam ansiosos para deixar de lado as preocupações, mesmo que apenas por um dia.

Crianças corriam entre as pessoas. Duas risadas ecoando acima da música. Alis estava entre elas.

A Festividade deste ano parecia mais uma tentativa do conselho de apaziguar os ânimos da população, do que qualquer outra coisa. O empenho em organizar essa celebração era evidente, mas me perguntei se tudo não passava de uma distração para desviar a atenção dos problemas reais.

Enquanto caminhava pelas ruas decoradas, uma sensação boa de normalidade me envolveu como um manto. Essas últimas semanas foram estressantes, e ver que a vida era mais do que dor e sofrimento era um alívio bem vindo.

Eu vesti um vestido antigo da minha mãe, era rosa com bordados nas mangas, o  tecido ainda exalava levemente seu perfume. Miray havia passado um bom tempo arrumando meu cabelo, fazendo um penteado elegante com tranças que caíam suavemente sobre meus ombros. Ela sempre se empenhava em me deixar bonita nesse dia especial, como se quisesse que eu brilhasse entre a multidão. Miray estava sentada em uma mesa, conversando com alguns amigos. Eu pretendia ir até ela quando senti uma presença atrás de mim.

— Boo! — Eli apareceu do nada, com um sorriso travesso que iluminava seu rosto. Ele estava equilibrando uma pilha de doces em uma mão.

Eu me virei rapidamente, o coração disparando. — Eli! — exclamei, tentando recuperar a compostura. — Você quase me mata de susto!

— Ah, mas foi tão divertido! — Ele riu, balançando os doces. — Você deveria ver sua cara!

— O que você está fazendo aqui? achei que estaria de guarda — perguntei, ainda tentando me acalmar enquanto um sorriso involuntário se formava em meus lábios.

A luz das fogueiras dançava em torno de nós, lançando sombras e reflexos vibrantes. O cabelo de Eli, um vermelho intenso, parecia brilhar como brasas, as mechas iluminadas por tons alaranjados e dourados que pulavam a cada movimento.

— Aproveitando a festa, é claro! Consegui trocar meu turno. Mas também tenho novidades. — Ele se inclinou mais perto, a expressão brincalhona dando lugar a um ar de mistério.

Davian se aproximou e lançou um olhar sério para Eli, como se tentasse controlar sua energia. — Eu não sei se aproveitar é a palavra certa. Precisamos conversar sobre o que encontramos. Evrin, você está bonita.

— Obrigada.

Senti minha bochechas quimarem. Não estava acostumada a ser elogiada.

— Você não me disse que eu estava bonito quando me viu mais cedo Davian. Estou magoado. — Eli levou a mão ao peito. A expressão fingida de mágoa. Dei uma risadinha.

— Ao invés de me encher o saco, porque não conta logo o que descobriu?

Eli, inclinou-se mais perto. — Entrei nos restos do galpão. E adivinha? Todo o conteúdo sumiu. Não havia nada lá, só cinzas e um cheiro estranho.

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