29

44 7 0
                                    


Olhei para ela, meu coração batendo mais rápido. Um plano?

Como isso seria possível? O conselho tinha olhos em todos os cantos da aldeia, guardas por toda parte. E mesmo assim, lá estava Miray, me dizendo que havia uma maneira.

— Como? —  Eli se levantou do chão, a voz embargada pela mistura de medo e esperança.

Zyran deu um passo à frente, seus olhos firmes e focados. Ele me encarou, a seriedade de suas palavras cortando o ar.

— Os guardas que vigiam a prisão à noite são os mais simples de subornar — disse ele. — Com o caos do julgamento e da execução, a troca de turnos será mais lenta. Temos uma janela estreita, mas o suficiente para tirá-los daqui.

Minhas mãos começaram a tremer ao ouvir aquilo. A ideia de escapar parecia ao mesmo tempo tentadora e aterradora. Mas o que mais poderíamos fazer? Ficar ali e esperar que nos arrastem até a execução?

Não.

Eu não poderia aceitar esse destino.

— Como vamos sair daqui? — insisti, a necessidade de saber mais queimando em mim.

Miray olhou para Zyran, e ele continuou.

— Durante a troca dos guardas, haverá uma distração na praça. Miray conseguiu convencer algumas pessoas a causar confusão suficiente para desviar a atenção por alguns minutos. Nós usaremos esse momento para abrir a cela.

Eu absorvi suas palavras, tentando visualizar o plano em minha mente. O risco era enorme, mas o único caminho para a liberdade. Ainda assim, havia muitas perguntas, muitos riscos.

— E depois? — perguntei, olhando diretamente para Zyran. — Para onde vamos? Mesmo que saíamos da cela, para onde podemos fugir?

Miray soltou minhas mãos por um instante e segurou as grades, seu rosto ficando mais próximo do meu. Seus olhos cintilavam com uma mistura de coragem e preocupação.

— Há um túnel debaixo da prisão, Evrin. Zyran descobriu isso enquanto ajudava outros como nós. Ele leva até a floresta. Uma vez lá fora, vocês terão tempo suficiente para escapar da aldeia. E o mais importante, longe do conselho.

— Um...t-túnel? — Meus pensamentos corriam, tentando assimilar uma ideia. — Como você...?

Zyran interrompeu.

— Eu tenho meus contatos. Não se preocupe com o túnel, ele é real. Mas teremos que ser rápidos. Eles não vão demorar para perceber que vocês sumiram.

Minha mente fervilhava. O plano parecia impossível, e ao mesmo tempo era a única chance que tínhamos. Um túnel secreto? Guardas subornados? Mas então, outra dúvida me invadiu.

— E vocês? — Minha voz falhando. — E você, Miray? O que vai acontecer se eles descobrirem que nos ajudaram? Vocês vêm com a gente, não é?

Miray sorriu levemente, o tipo de sorriso que ela sempre usava quando sabia mais do que dizia.

— Eu estarei bem. E Zyran também. Temos nossas próprias maneiras de nos manter seguros. E não, não poderei ir com vocês. Ainda não é a hora.

Meus olhos se encheram de lágrimas de novo, mas dessa vez não de desespero, e sim de uma esperança frágil. Miray, mesmo nas piores situações, sempre encontrou um jeito de proteger aqueles que amava. E agora, talvez mais uma vez, ela estava nos dando uma nova chance. Mas como eu poderia partir sem ela?

— Você vai sair daqui, Evrin — Miray murmurou, tocando de leve meu rosto entre as grades. — Ainda não acabou.

Assenti, tentando conter o choro. Não tinha escolha para não confiar. Confiava em Miray. Confiava em Zyran. E confio que Selene ainda nos guiava, mesmo no silêncio.

A Herança Da Lua Onde histórias criam vida. Descubra agora