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A luz da manhã filtrava-se através das janelas, dançando no chão de madeira desgastada, quando eu finalmente acordei. O cheiro do chá fresco se espalhava pela casa, misturado ao aroma terroso da neve derretendo do lado de fora. Porém, em vez de conforto, um nó de ansiedade se formava em meu estômago. A conversa com Miray ainda ecoava em minha mente, como uma canção que não consiguia esquecer.

Levantei-me com uma determinação renovada, sabendo que o tempo não esperava. O sol começava a se erguer no horizonte, tingindo o céu com tons dourados e laranjas, mas a beleza da manhã parecia distante, ofuscada pela urgência que pulsava dentro de mim. Precisava reunir Eli e Davian e partirmos imediatamente para investigar a construção de pedra.

Havia mais lá. Eu tinha certeza.

Miray não estava em casa, e a ausência dela tornava o ambiente ainda mais silencioso, como se o espaço estivesse à espera de algo que eu não podia adivinhar.

Levantei-me da cama, os pés descalços tocando o chão frio, e fui até a cozinha. O aroma do chá se espalhava pelo ar, uma mistura revigorante que prometia clareza. Preparei uma xícara, observando as folhas secas dançarem na água quente. Enquanto o líquido escuro preenchia a caneca, a sensação de calor subindo pela minha garganta trouxe um breve momento de calma. Mas, mesmo enquanto tomava o chá, a mente não parava de trabalhar; as palavras de Miray ainda ecoavam em meus pensamentos.

Terminei a bebida em goles rápidos, como se o tempo estivesse escorrendo por entre meus dedos. Sabia que precisava me preparar. Dirigi-me ao pequeno baú onde guardava minhas roupas. Com a luz do sol entrando, cada peça parecia contar uma história – a blusa de linho que minha mãe usava e o vestido que eu costumava vestir nas festividades. Mas hoje não era dia de lembrar do passado; era hora de me equipar para a incerteza que nos aguardava.

Escolhi um vestido escuro com mangas curtas que me daria liberdade de movimento com saia prática, adequada para a exploração. A sensação do tecido contra minha pele era familiar e confortante. Depois de me vestir, procurei mais fundo no baú onde mantinha a capa do meu pai. A capa era de um tom profundo de azul, feita de um tecido resistente que havia protegido meu pai em tantas aventuras. Ao vestir a capa, senti seu peso nos ombros como um abraço de proteção, como se de alguma forma ele estivesse ali comigo.

Finalmente, meu olhar se voltou para a adaga que estava em uma prateleira, reluzindo com a luz do sol. Era uma lâmina fina, mas mortal, que pertencera ao meu pai. Apertei o cabo, sentindo o metal frio contra minha palma. Lembranças de noites passadas ouvindo histórias de bravura e luta voltaram à mente. Eu não poderia deixar que essas memórias se tornassem apenas histórias; era hora de lutar pela verdade.

Sai de casa, o coração pulsando de expectativa e apreensão. O ar matutino estava fresco e revigorante, com um toque de umidade que indicava a neve derretendo do lado de fora. Enquanto caminhava, a beleza do dia parecia contrastar com a urgência de minha missão. O som dos pássaros cantando e o farfalhar das folhas sob os meus pés criaram uma sinfonia de vida, mas eu sabia que estava prestes a entrar em um lugar onde essa vida poderia ser ameaçada.

Caminhei até a floresta, agora quase despojada de folhas, com os galhos nus se estendendo como dedos esqueléticos contra o céu azul. A paisagem de inverno era desoladora, mas ao mesmo tempo bela em sua simplicidade. Cada passo que eu dava ecoava como um lembrete do que estava por vir. 

Após um momento de hesitação, decidi que não podia esperar por Davian e Eli. Eu tinha pressa.

Respirando fundo, segui em frente, a mente fervilhando com a mistura de medo e determinação.

A grande estrutura se ergueu à minha frente após alguns minutos de caminhada, imponente e silenciosa, como uma sombra à espreita. O céu azul parecia prometer um dia tranquilo, mas uma nuvem de inquietação se instalou em meu peito. O lugar tinha um ar de abandono, e a frieza das pedras parecia pulsar com uma energia própria.

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