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Na calada da madrugada, a cabana estava envolta em um silêncio pesado, quebrado apenas pelo suave sussurrar das brasas na lareira. A luz da lua cheia filtrava-se pelas frestas, iluminando meu espaço de maneira suave, mas suficiente para que eu pudesse me preparar. Um bocejo me escapou, não havia dormido muito. Os uivos haviam ecoado pela aldeia novamente. Miray dormia calmamente em sua cama. Seu sono não parecia ter sido perturbado.

Senti o frio na pele enquanto buscava meu manto mais grosso, o tecido pesado proporcionando uma sensação de segurança. Minha mente estava um turbilhão. Não conseguia parar de pensar no que havia acontecido na feira à dois dias atrás. O pensamento do rapaz desaparecido me assombrava. Ele havia ido atrás de respostas e não voltara. A imagem de seu rosto aflito, clamando por justiça, se fixou em minha mente.
Ele era mais do que um nome perdido; era um símbolo do que estava em jogo para todos nós. Se o conselho era capaz de silenciar alguém como ele, o que fariam comigo? Mas eu não poderia recuar. Precisava continuar, não apenas por ele, mas por todos que não podiam. Deveríamos ficar de braços cruzados esperando o conselho resolver?

Respirei fundo, tentando acalmar os pensamentos inquietos. Era hora de sair. Eu não poderia ajudar com os desaparecidos ou com os mortos. Mas havia uma coisa que eu podia fazer.

Concentrei-me em reunir os itens essenciais, o punhal do meu pai, um pouco de comida, um mapa que poderia ser útil e uma cesta para transportar as ervas. Cada objeto que eu colocava na bolsa parecia carregar um peso simbólico. O diário roubado estava muito bem escondido entre minhas roupas. Não podia sair com ele correndo o risco de ser pega.

Com o coração acelerado, abri a porta da cabana e deixei a segurança do lar para me perder na escuridão da floresta.

Caminhei pela aldeia em silêncio, tremendo. As casas envoltas na escuridão da madrugada. A luz da lua cheia iluminava as ruas enlameadas, criando um brilho prateado que me guiava, o barro grudando em meus pés enquanto eu avançava. O ar estava frio, a respiração se condensava em pequenas nuvens brancas que se dissipavam rapidamente. Passei os braços ao meu redor procurando me aquecer.

O frio penetrava meu manto, mas a visão da lua cheia me trouxe um sentimento inesperado de segurança, como se estivesse sob a proteção de um guardião. Sentia uma conexão profunda com aquela esfera luminosa, como se estivesse me encorajando a seguir em frente. A lua já havia iluminado o caminho de muitos que vieram antes de mim, e agora era minha vez. Era reconfortante pensar que, apesar de tudo, a lua continuava a brilhar, indiferente ao que acontecia abaixo dela. Se a lua podia brilhar com tanta intensidade, mesmo em meio ao frio e à escuridão, eu também poderia encontrar a coragem necessária para enfrentar tudo.

Quando cheguei diante dos portões avistei os guardas que faziam a patrulha nos muros. Suas armaduras cintulando com a luz da lua, seus rostos cansados.

Com um último olhar para a aldeia adormecida, empurrei o portão e entrei na floresta, pronta para enfrentar o que viesse.

A floresta na madrugada é um lugar envolto em mistério. As sombras das árvores se estendem como braços longos, e a luz da lua filtra-se entre as folhas, criando padrões de luz e escuridão no chão. O ar é fresco e cheio de aromas terrosos, misturados com o perfume das flores noturnas. Sons suaves, como o canto distante de um grilo e o sussurro das folhas, preenchem o espaço, pássaros madrugadores começam a acordar enquanto uma neblina leve se levanta, envolvendo tudo em um véu etéreo. A sensação de que a natureza está acordada e viva, mesmo sob a luz da lua, é hipnotizante.

A cada respiração, o ar fresco enche meus pulmões, trazendo uma nova energia. Os sons noturnos se intensificam; o canto de um pássaro, o farfalhar de um pequeno animal nas folhas. A floresta é viva, e sinto uma conexão profunda com ela. O caminho à frente se bifurca, e não hesito, sei qual direção escolher.
Respiro fundo, sentindo o cheiro de tudo, confiante de que, independentemente da escolha, a natureza me guiará.

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