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O frio cortante envolvia meus pensamentos, penetrando por cada fresta da roupa, quase como se quisesse invadir minha pele. Eu sentia que o gelo do inverno tinha se fixado dentro de mim, ecoando a sensação amarga e paralisante que se espalhava pelo meu corpo, tornando difícil me focar no que acontecia ao meu redor. Enquanto Nathan continuava a dar informações a Ahren, suas palavras se misturavam ao vento, dispersas, quase inaudíveis, como se estivessem em um lugar distante e não ao alcance de minha mente.

Eu sabia que eles falavam de planos, estratégias para proteger a aldeia, evacuar os híbridos - mas minha atenção se fragmentava, fugia a cada palavra. Era como tentar agarrar água com as mãos; quanto mais eu tentava me focar, mais escorregadio tudo se tornava. Algo em mim recusava-se a aceitar o que tínhamos acabado de descobrir, e esse bloqueio parecia frio e rígido, exatamente como o solo congelado sob meus pés.

Eu olhei para a neve acumulada ao redor, tentando me ancorar na sensação do ar gelado, nas pontadas no rosto e nos dedos entorpecidos. Não era só o frio externo, percebi; a verdade que Nathan trouxera pesava como uma corrente congelada ao redor do meu coração.

Cada detalhe do que ouvira parecia martelar dentro da minha cabeça, mas em vez de clareza, o que eu sentia era um nevoeiro pesado, que me sufocava e me deixava imóvel. Como se o chão, mesmo coberto de gelo e neve, pudesse de alguma forma ceder a qualquer momento. Eu sabia que precisava pensar, precisava reagir, mas as peças dentro de mim estavam congeladas.

Nathan continuava, agora mais incisivo, sua voz um tanto amarga. As palavras saíam carregadas de uma urgência fria que contrastava com o tom prático de Ahren, ambos focados em decidir rapidamente o que fazer. Ahren murmurava respostas curtas, claramente tomando nota, mas seus olhos desviavam para mim de tempos em tempos, atentos e preocupados.

De repente, uma mão pousou no meu rosto, e o calor forte que emanava dela me trouxe de volta como uma rajada de ar quente. Era Ahren, seus dedos firmes e aquecidos contrastavam com o frio intenso ao redor, e, por um momento, apenas o toque dele foi o suficiente para me fazer respirar de novo.

- Está tudo bem? - ele perguntou, a voz baixa, mas incisiva, tentando me arrancar daquele estado de torpor. Seus olhos me examinavam, sérios, quase exigindo que eu me focasse.

Assenti, forçando meus pulmões a encherem de ar, sentindo o frio me cortar por dentro. Eu precisava enfrentar isso - o medo, a incerteza. Precisava entender que a aldeia não era mais segura, que Mayra estava em perigo, que tudo que ouvi era real.

Enquanto o frio da manhã cortava a pele, pisquei algumas vezes, ajustando minha visão para o agora - e foi quando percebi que Nathan havia desaparecido, deixando para trás um silêncio ainda mais denso. Sem pensar, desvencilhei-me do toque de Ahren, deixando o calor de sua mão escapar de mim.

Meus olhos subiram para encontrar os dele, castanhos e firmes, ainda atentos a cada movimento meu. Mas eu não podia ignorar a frustração contida que subia dentro de mim.

- Por que você não me disse que estávamos vindo encontrar o Nathan? - perguntei, cada palavra saindo pesada, mesmo enquanto o eco da presença dele parecia ainda pairar no ar ao redor.

Os músculos do maxilar de Ahren se contraíram, marcando sua pele com linhas duras, revelando o desconforto pelo meu afastamento. Ele respirou fundo, claramente tentando organizar seus pensamentos, e eu esperava por sua resposta, firme.

- Evrin, eu... Com tudo o que está acontecendo, me perdi nas prioridades, - ele admitiu, sua voz suave, mas carregada de tensão. - A situação com Nathan é delicada.

Pisquei, absorvendo cada palavra enquanto ele continuava, o olhar focado em mim.

- Apenas eu, os betas e Zyran sabemos sobre ele. Mais ninguém. O Conselho nem pode imaginar que ele está do nosso lado. Se descobrirem... tudo estará perdido, - ele finalizou, a voz baixa, quase um sussurro.

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