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Fechei a porta atrás de mim, o rangido da madeira ecoando na quietude da manhã. O frio mordia minha pele, e o ar estava impregnado com o cheiro úmido da terra. Envolvi-me mais no meu manto. Enquanto caminhava, observava os rostos cansados das pessoas que passavam. O sol ainda lutava para atravessar a névoa, lançando um brilho pálido sobre as casas de madeira desgastada.

O caminho era estreito, ladeado por jardins malcuidados onde ervas daninhas cresciam entre as flores murchas. A cada passo, sentia o peso da preocupação das pessoas, uma carga invisível que parecia pesar sobre os ombros de todos. Alguns olhares se cruzaram com o meu — um homem consertando uma cerca, uma mulher esfregando as mãos para aquecê-las — mas ninguém dizia nada. Era como se a aldeia inteira estivesse em um estado de espera.

Ao passar pela praça, as vozes de homens discutindo as últimas colheitas chegavam até mim, suas expressões refletindo o desespero. A brisa gélida soprava entre os becos, e um arrepio percorreu minha espinha. Senti o frasco de remédio balançar levemente em minha bolsa, uma lembrança de que a esperança ainda existia.

Crianças brincavam em um canto, suas risadas soando como um eco distante em meio ao silêncio pesado da aldeia. O pedaço de madeira que usavam como espada parecia um símbolo de resistência, e por um momento, invejei a despreocupação deles. Eles não sabiam o que o inverno traria, mas eu sabia que cada dia contava.

Miray me pedira para levar o remédio a um enfermo que havia pegado febre. Ele morava sozinho, a esposa falecera antes que eu conseguisse trazer a cura, e os filhos haviam desaparecido na floresta, engolidos pela escuridão que cercava nossos lares. Mas antes que eu chegasse a casa dele, um braço firme me puxou para um beco escuro. Um grito se formou em minha garganta, mas antes que pudesse liberá-lo, uma mão quente cobriu minha boca.

Quando ele me soltou, olhei para ele, um jovem de cabelos negros desgrenhados e olhos de um azul profundo que pareciam brilhar mesmo na penumbra. Seu rosto era angular, com uma mandíbula definida e um sorriso que tentava ser reconfortante, mas havia algo de intenso em sua expressão. Ele vestia um manto escuro que parecia se fundir com as sombras ao nosso redor.

— Calma, não vou machucá-la — disse ele, sua voz baixa e urgente. As mãos erguidas num gesto de paz.

O medo que havia me dominado começou a se dissipar lentamente, mas ainda assim, a cautela permanecia.

—Quem é você?— Consegui perguntar, tentando manter a voz firme.

— Alguém que precisa de ajuda. — respondeu ele, seu olhar fixo em mim. —Precisamos conversar, e rápido. Vi o que aconteceu ontem à tarde. Nathan a arrastou pela mata, e eu... eu vi o ataque do lobo.




[...]




Senti o sangue escorrer de meu rosto. Nathan deixara claro que eu não deveria contar a ninguém sobre o que aconteceu, e o medo de que ele soubesse que mais alguém sabia agora me consumia. O que mais esse estranho sabia? Ele poderia ser uma ameaça? As perguntas se aglomeravam em minha mente.

— O que mais você viu? — indaguei, meu tom carregado de desconfiança.

— Apenas o suficiente para saber que não estou errado em relação a esse conselho de merda — respondeu ele, seu olhar fixo em mim. — Não se preocupe, não vou contar a ninguém o que vi.

Uma mistura de alívio e desconfiança se instalou em meu peito, mas a possibilidade de Theron descobrir ainda me deixava inquieta.

— Meu nome é Davian Evera — ele se apresentou, sua voz ainda baixa, mas agora carregando um peso de urgência. — Sou filho do guarda que sumiu há três semanas.

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