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Na manhã seguinte, acordei com o cheiro familiar de mingau de aveia cozinhando lentamente sobre o fogo. Era sempre o mesmo café da manhã, mas eu estava acostumada com a simplicidade das nossas refeições. Miray estava agachada ao lado da lareira, mexendo a panela com uma colher de madeira, seus movimentos lentos e precisos, como se todo o peso da vida estivesse em seus ossos, mas ela ainda se recusasse a parar.

Levantei-me da cama e me juntei a ela, sentindo a brisa fria que entrava pelas frestas da cabana. O ar da manhã estava gelado, o que fazia o calor da lareira parecer ainda mais acolhedor. Peguei duas tigelas de barro e as coloquei na mesa enquanto Miray servia o mingau. Não havia muito além da aveia cozida e uma pitada de mel, mas pelo menos era algo para nos sustentar.

— Coma, minha menina — Sua voz estava rouca pela idade e pelo tempo.

Me sentei e comi em silêncio. O mingau estava quente e suave, um pequeno consolo em meio a tantos problemas. Eu podia sentir a determinação crescendo dentro de mim. Sabia que aquele seria um dia importante, o primeiro passo para mudar o que estava acontecendo na aldeia.

Enquanto comíamos, Miray me olhava com seus olhos experientes, como se soubesse o que se passava na minha cabeça, mas sem questionar. Ela sempre foi assim, me deu o espaço para tomar minhas próprias decisões, mesmo que soubesse que algumas delas seriam arriscadas.

Assim que terminei de comer, empurrei a tigela para o lado e me levantei. Os olhos de Miray me acompanham em silêncio, mas não disse nada quando comecei a pegar minhas coisas, arrumei o cabelo em uma trança e troquei minhas roupas. A velha sabia que algo estava em andamento.

— Vou sair — disse, sem dar muitas explicações. Ela apenas assentiu.

Quando saí da cabana, o ar frio da manhã me atingiu com força, apertei meu casaco ao meu redor. Respirei fundo, sentindo o cheiro da terra úmida. A aldeia ainda estava quieta, mas alguns aldeões começavam a sair de suas casas. Crianças corriam descalças pelo chão de terra batida, e os sons da aldeia começavam a tomar forma aos poucos.

Caminhei decidida, o som das minhas botas no chão parecia mais firme do que nunca. Não havia espaço para dúvidas. Eu já tinha um plano em mente e sabia exatamente quem poderia me ajudar. Precisava de alguém com conhecimento e, mais importante, de alguém que tivesse a coragem de enfrentar o que estava por vir. Alguém que poderia pegar o que eu precisava.

Havia uma parte de mim que sabia que, se falhasse, o preço poderia ser alto. Mas outra parte, aquela que Miray sempre dizia que eu devia ouvir, me dizia que esse era o caminho certo. E dessa vez, eu iria até o fim.

Caminhei pela trilha que levava à parte mais rica da aldeia, onde a casa de um dos conselheiros se erguia, grandiosa e imponente. O contraste com as cabanas mais humildes que eu conhecia era chocante. As paredes da casa eram de pedra sólida, e o jardim bem cuidado refletia a riqueza e o poder do conselheiro que ali residia. No entanto, minha mente estava focada em um objetivo específico.

Taylor Cromwell é conhecido por sua avareza e pelo controle absoluto sobre os recursos da aldeia. Entre seus muitos bens, uma das mais guardadas é sua biblioteca particular, um verdadeiro templo de conhecimento que ele mantém trancado a sete chaves. A biblioteca, localizada em um ala restrita de sua mansão, é um espaço imenso, com estantes altas repletas de livros antigos e volumosos, cada um com capas de couro desgastado. O acesso é rigidamente controlado, e apenas Taylor tem a chave para essa sala sagrada.

Seus livros são considerados relíquias preciosas, e a biblioteca é um símbolo do poder e da influência que Taylor exerce sobre a aldeia. Não há visitantes permitidos, e os poucos que já tentaram espiar ou buscar informações foram severamente punidos. A exclusividade e o mistério que cercam a biblioteca apenas aumentam o aura de controle que Taylor exerce.

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