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A escuridão me envolveu lentamente, e fui transportada para um mundo onde a liberdade reinava. Eu corria pela floresta sob a luz da lua prateada. O chão macio, coberto de folhas e musgo, deslizava sob mim, e a brisa fresca acariciava meu corpo, trazendo o perfume da terra úmida e das flores noturnas.

Meus sentidos estavam aguçados. O farfalhar das folhas tornava-se uma sinfonia, cada som revelando a presença de vida ao meu redor. O cheiro do vento misturava o aroma da floresta com uma pitada de frescor, e eu podia sentir o coração da natureza pulsando em harmonia com meu ser.

Corri com alegria, saltando sobre troncos caídos e contornando as árvores que pareciam se inclinar para me observar. O espaço era meu, livre de amarras e preocupações. O mundo era uma dança de luz e sombras, e eu me sentia parte dele, um espírito indomável explorando cada canto.

Então, ao olhar para o lado, vi uma presença imponente correndo ao meu lado: um enorme lobo negro, sua pelagem brilhando sob a luz da lua como se fosse feita de ébano. Seus olhos eram profundos e misteriosos, refletindo a sabedoria de tempos antigos. Senti uma mistura de admiração e temor. Era como se ele carregasse um segredo que eu mal pudesse compreender.

Nós corríamos juntos, a sincronia de nossos movimentos criando uma sensação de unidade. O lobo negro olhou para mim, e por um breve instante, nossos olhares se encontraram. Em seus olhos, vi não apenas força, mas também um chamado — um convite para explorar as profundezas do desconhecido.

Mas então, uma onda de medo me invadiu, e o mundo ao meu redor começou a se desvanecer. O lobo negro desapareceu na neblina da floresta.



[...]


O céu ainda vestia o manto escuro da madrugada quando abri os olhos. O som suave da brisa entre as folhas das árvores parecia um sussurro, me convidando a despertar. Levantei-me  da cama de palha, esticando os músculos adormecidos. O frio penetrava pelo tecido fino da coberta  e o fogo da lareira a muito havia se extinguido.

Olhei pela fresta da janela de casa, a luz da lua mal iluminava os muros que protegiam a nossa aldeia. Na escuridão, imaginava os olhos dos monstros espreitando, mas não podia deixar que o medo me paralisasse. Aqueles que estavam doentes contavam comigo, e eu não os decepcionaria.

Com cuidado, olhei para o canto da sala onde Miray dormia tranquilamente em sua cama, uma manta gasta sob o corpo encolhido. A última coisa que eu queria era acordá-la e causar preocupação. Assim, movi-me com cautela, evitando o rangido das tábuas. Meus pés alcançaram o chão frio, e meu corpo estremeceu.

Com passos leves, dirigi-me até a lareira, onde as brasas do fogo mal conseguiam iluminar a sala. Agachei-me e, com um pouco de palha e gravetos, comecei a reanimar o fogo. As chamas logo começaram a crepitar, lançando uma luz suave que dançava nas paredes.

Enquanto o calor se espalhava, fui até o baú de madeira que guardava minhas roupas, a luz da lareira revelando os detalhes do lugar.  Minhas mãos procuraram apressadamente entre os tecidos amontoados. Escolhi um vestido de linho verde escuro, que me ajudaria a me misturar com as sombras da floresta, e uma capa grossa para me proteger do frio cortante. Ao vestir o vestido, senti o tecido fresco tocar minha pele, como uma segunda pele que me conferia força. Toquei o tecido com carinho, todas as roupas que eu agora vestia eram da minha mãe. Seu perfume a muito havia se perdido mas eu ainda conseguia imaginar seu cheiro reconfortante de canela e jasmim.

Procurando novamente entre os tecidos, encontrei bem no fundo o cabo da adaga do meu pai.  Deveria ter sido entregue ao conselho, mas a escondi. Segurei a adaga com reverência, a lâmina reluzindo sob a luz tênue. A lâmina curta, afiada e mortal. Seu cabo, esculpido em madeira escura e polida, se ajusta perfeitamente à mão, proporcionando um controle firme e ágil. O pomo na extremidade do cabo é ornamentado com um pequeno emblema em metal, talvez um símbolo ou runa gravada que denota sua origem ou propósito especial.

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