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A consciência voltou a mim aos poucos, como se eu estivesse submersa em um lago escuro e fosse lentamente sendo trazida à superfície. Meu corpo doía com cada movimento, um latejar profundo nas costelas e no ombro me arrancava pequenos gemidos a cada respiração.

Eu ainda estava viva.

Isso era o que me mantinha lúcida, mesmo em meio à dor que irradiava por todos os meus músculos.

Senti o chão se mover debaixo de mim, mas de forma estranha, como se não estivesse realmente tocando a terra. Abri os olhos com dificuldade, piscando contra a escuridão que cercava minha visão. A floresta continuava ao meu redor, mas agora as árvores pareciam se mover de uma maneira que não fazia sentido. Logo percebi que não estava sozinha.

Alguém me carregava.

Minha cabeça tombava para o lado, incapaz de se manter erguida, e com um esforço tremendo, consegui espiar quem me levava. Braços fortes me seguravam com firmeza, um toque decidido, mas cuidadoso. Eu estava apoiada contra um peito largo, o som abafado de passos firmes contra o chão de folhas me deixava claro que estávamos nos movendo rapidamente pela mata.

A dor me golpeava com cada balançar, como uma lâmina cravada nas minhas costelas, e meu ombro latejava tanto que parecia prestes a explodir. Eu tentei mexer os braços, mas estavam fracos, como se o peso de meu próprio corpo estivesse me puxando para baixo.

O rosto da pessoa que me carregava estava parcialmente oculto pela escuridão, mas os contornos eram familiares... Quem era ele? Minha mente vagava entre a realidade e o delírio, lutando para conectar as peças. A brisa da floresta batia no meu rosto, misturada ao cheiro de terra úmida e musgo, enquanto eu era levada por aquele estranho conhecido.

Tentei falar, mas minha voz saiu como um murmúrio, quase inaudível. A dor nas costelas tornou até respirar um desafio.

— N-não... — foi o máximo que consegui forçar para fora.

Ele não respondeu, mas continuou a andar, determinado. Meus pensamentos tentavam se organizar, lembrar de tudo o que havia acontecido, de Davian, Eli... e o lobo. O lobo negro.

A memória de seus olhos, tão profundos e conscientes, me atingiu como um raio. Eu me sentia conectada a ele de uma maneira inexplicável. Ele havia me protegido, de alguma forma. Mas agora... onde estava ele? E onde estavam Davian e Eli? A dor me dominava de novo, e o mundo ao meu redor ficou embaçado.




[...]




Minha mente flutuava entre sombras e fragmentos de memória, perdida no nevoeiro da dor. A cada balançar do corpo, sentia as costelas latejarem, e o som abafado de passos ao meu redor era o único elo que ainda me mantinha consciente. Mas, aos poucos, comecei a emergir daquela escuridão, e a realidade voltou a se desenrolar diante de mim.

Minha bochecha estava pressionada contra algo quente. O calor envolvia meu rosto, me puxando para a superfície da consciência. O toque era firme, sem hesitação, e o cheiro — um cheiro familiar e reconfortante — me preencheu outra vez. Agora, mais claro, eu o reconhecia: era o cheiro de pinho, uma fragrância suave, mas marcante, que misturava o calor natural da pele com algo mais profundo, quase amadeirado, mas de uma forma sutil. Tinha uma nota terrosa, como a leve lembrança de folhas secas no outono, um toque salgado e fresco. Um perfume natural, limpo, como o próprio coração da floresta. Senti minha respiração se aprofundar, como se aquele aroma fosse a âncora que me conectava ao mundo.

Minha pele estava contra algo macio e, quando abri os olhos, percebi que era o peito dele. O homem que me carregava estava sem camisa, e o calor da sua pele parecia me envolver como um manto de proteção. Seu peito se movia de maneira ritmada, o som de sua respiração forte e constante. Eu tentei mover os dedos, mas o corpo não respondia direito. O peso da exaustão e da dor ainda me segurava.

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