Nêmesis

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「TRAILER」

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TRAILER

PARTE 1

A força do vento empurrou as janelas, abrindo-as com violência. O assovio penetrante, combinado com o estrondo, fez com que pulasse da cama e corresse para fechá-las. A pele arrepiou-se quando rajadas gélidas alastraram por seu corpo, sorrateiramente rastejando por debaixo do suéter laranja. Não foi necessário muito esforço para trancá-las, e desta vez conferiu se os trincos estavam bem aferrolhados.

O frio lá fora era enlouquecedor. As pessoas passavam pela rua, completamente agasalhadas, vestindo pesados casacos, cachecóis enrolados várias vezes ao redor do pescoço, luvas grossas e gorros puxados até as sobrancelhas. Suas respirações saíam em nuvens brancas e densas, um vapor que se dissipava rapidamente no ar cortante. Os olhos lacrimejavam com o frio intenso, e alguns se esforçavam para enxugar as lágrimas com mãos trêmulas.

Afastou-se das vidraças e abraçou o próprio torso, desesperadamente tentando se esquentar. Com o maxilar tremendo, cogitou ligar o aquecedor, mas rapidamente lembrou-se que ligá-lo o traria uma dívida que não poderia pagar. Decidiu manter apenas a geladeira ligada, pelo menos até enquanto pudesse arcar com a conta. Cada respiração era um esforço, o ar frio entrando pelos pulmões e queimando como gelo.

Sentia-se envolvido por uma espécie de manto de frio, que parecia penetrar até os ossos. Cada movimento era lento e doloroso, como se o próprio ar estivesse conspirando para torná-lo estático. O silêncio do ambiente, quebrado apenas pelo vento e pelo ocasional rangido das janelas, parecia amplificar a solidão daquela noite gélida. Ele sabia que precisava encontrar uma maneira de aquecer-se, mas a realidade da conta de luz pairava como uma sombra constante, lembrando-o de seus limites.

Jogou-se na poltrona marrom de encosto alto, acreditando que o couro pudesse aquecê-lo. O assobio do vento ficou cada vez mais agudo, gritando sem cessar como uma presença fantasmagórica. Constatou que aquela era a noite mais fria desde que se mudara para Nova York, e que muitas outras assim viriam. Por um momento, desejou uma lareira e paredes com isolamento térmico, uma estrutura completamente diferente da oferecida pelo prédio onde morava. O prédio velho e mal conservado, com suas paredes finas, parecia ser uma piada cruel diante do inverno implacável.

O vento soprou com mais intensidade, esgueirando-se pelas frestas da porta e espalhando todos os papéis que estavam soltos pelo flat. Reparou que a pilha de correspondências empilhadas na escrivaninha voou, boa parte caindo próximo de onde estava sentado. Evitava olhar para aquele amontoado de cartas — a maioria eram cobranças e recusas aos seus currículos. Não queria introjetar mais dívidas na cabeça, não quando já precisava se preocupar com o aluguel e o crédito universitário.

DEZ CONTOSOnde histórias criam vida. Descubra agora