93 - Um Encontro do Destino (AYRTON SENNA)

47 7 0
                                    

In Memoriam

"O que quer que faça seu coração acelerar, é isso que você deve perseguir

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

"O que quer que faça seu coração acelerar, é isso que você deve perseguir."

***

O Grande Prêmio de Mônaco não era apenas a principal corrida da temporada de Fórmula 1, mas para mim, princesa do Principado, era algo ainda mais profundo. Era o ritmo de nossas vidas, o pulso do que acontecia ao redor, o símbolo de tradição que me acompanhava desde a infância. Cresci vendo os carros cortarem as ruas apertadas do principado, sentindo os motores rugirem pelas avenidas e observando os altos prédios que pareciam, durante aqueles dias de maio, se curvar para dar passagem ao espetáculo da velocidade.

Eu não podia ser mais diferente da imagem que as pessoas tinham de uma princesa. Não me via como alguém que apenas participava de compromissos e eventos sociais. Minha paixão por Mônaco vinha das ruas de cascalho, das suas escadarias sinuosas e, claro, das pessoas que faziam o principado pulsar de vida. Mas naquele ano, a corrida parecia ter um outro significado para mim. Estava acompanhando meu irmão, o príncipe, em um compromisso oficial nos bastidores, em um momento que ele considerava mais do que importante: a visita à garagem da McLaren.

Ele era um verdadeiro entusiasta do automobilismo, sempre em busca de contatos com as grandes estrelas da F1. Eu, por outro lado, tinha sempre um leve tédio com as formalidades dos compromissos reais, então, aceitei o convite e resolvi acompanhá-lo, com a esperança de me distrair um pouco da etiqueta que rodeava nossas funções.

Quando chegamos à garagem, fui imediatamente tomada por um novo universo. O cheiro de borracha queimada e a energia elétrica no ar eram intensos. O lugar estava cheio de mecânicos, engenheiros e uma eletricidade palpável. Mas havia algo ali que, mesmo entre tantas figuras importantes, me fez parar no tempo: o som dos motores e a presença de um homem em particular.

Ayrton Senna.

Ele estava em pé, concentrado, ajustando suas luvas com a calma de quem não deixava nada ao acaso. Os olhos de Senna estavam focados no que estava fazendo, mas, quando percebeu minha presença, seu olhar encontrou o meu. E naquele momento, uma espécie de magia se instalou. Tudo ao redor parecia desaparecer, e o tempo, que antes corria acelerado, parou. Seu sorriso era sereno, mas carregava uma força silenciosa que fazia minha respiração falhar por um segundo.

A voz dele, suave mas carregada de respeito, ecoou no ambiente.

— Princesa — disse ele, fazendo um pequeno gesto de cabeça, como um reconhecimento da minha presença. Era uma saudação simples, mas a confiança que transparecia naquela palavra fez meu coração bater mais rápido. — É uma honra tê-la aqui.

Eu não sabia exatamente o que responder. Sentia como se minhas palavras tivessem perdido seu significado diante de tanta intensidade. Mas, forçando-me a recuperar a compostura, respondi, tentando soar natural.

— A honra é minha, Ayrton. Sempre admirei sua habilidade na pista.

Ele sorriu novamente, um sorriso discreto, mas que parecia dizer mais do que qualquer palavra. Era o sorriso de quem reconhecia a sinceridade naquelas palavras e se sentia confortável com a troca. Mas logo ele voltou sua atenção para o que estava fazendo, e, enquanto meu irmão fazia perguntas técnicas sobre o carro, eu me vi distraída, com os olhos fixos nele. Havia algo magnético na sua presença, algo que me fazia querer conhecê-lo mais do que qualquer estrela da F1 que eu já tivesse visto.

Nos despedimos de forma breve, mas antes de ele se afastar, ele me estendeu a mão. Eu a apertei, firme, como se já soubesse que aquele momento não seria um simples encontro casual.

Ao sair da garagem, algo dentro de mim dizia que seria impossível não nos encontrarmos novamente.

Naquela noite, eu ainda estava pensando em Ayrton. A sua maneira tranquila, mas decidida, de se comportar, a forma como parecia ser capaz de absorver a pressão da corrida e ainda manter um certo distanciamento emocional... tudo nele era fascinante. Para ele, a Fórmula 1 era mais do que um esporte. Era uma busca incessante pela perfeição, uma guerra silenciosa onde ele era tanto guerreiro quanto estrategista. E de alguma maneira, ele parecia ter essa habilidade rara de me fazer sentir como se também estivesse dentro daquela batalha, mesmo que de fora.

Mas o que mais me impressionou foi sua energia. Era como se ele estivesse sempre focado no que fazia, como se nada pudesse desviar sua atenção. Isso, claro, era o que o tornava tão único. Todos falavam sobre sua precisão, seu domínio na pista, mas havia algo que ia além disso. Ele era... diferente.

Nos dias seguintes, eu continuei me perdendo nos detalhes da corrida. O Grande Prêmio de Mônaco era um espetáculo inebriante, mas não importava o quanto eu tentasse, não conseguia deixar de pensar nele.

Até que, inesperadamente, vi-o novamente.

Estávamos em uma cerimônia pré-corrida, uma reunião de pilotos e patrocinadores, quando ele entrou na sala. Suas mãos estavam levemente suadas, seus olhos fixos no horizonte, e, assim que entrou, algo no ambiente mudou. Ele era a atração, mas não pelo que as câmeras queriam capturar. Não eram os holofotes que o chamavam; era sua presença que tomava conta da sala, silenciosa, mas palpável.

Dessa vez, fui eu quem o procurou. Ele não me viu de imediato, mas quando nossos olhares finalmente se cruzaram, ele fez aquele gesto simples com a cabeça, como se estivesse dizendo "Olá". E foi o suficiente para que meu coração disparasse novamente.

— Princesa — disse ele, sua voz calma, mas carregada de algo que eu não conseguia decifrar.

— Ayrton — respondi, e pela primeira vez, meu tom de voz foi mais firme, mais seguro. Havia uma conexão crescente entre nós, uma curiosidade que ultrapassava a barreira da formalidade.

O que começava a surgir ali, naquele pequeno espaço de tempo, era algo que eu não esperava, algo que não se via nas histórias de princesas e príncipes, mas talvez fosse ainda mais poderoso: uma admiração mútua e uma ligação que não fazia sentido, mas que, ao mesmo tempo, parecia inevitável.

A corrida estava prestes a começar. Eu me encontrava na beira da pista, observando a adrenalina de todos os pilotos se preparando para o que seria, sem dúvida, mais uma batalha épica. Mas meu olhar sempre se voltava para ele. Ayrton Senna estava ali, imponente, mas sereno, como se estivesse prestes a mergulhar em algo que só ele entendia. E, de certa forma, eu queria entender também.

O motor da McLaren rugiu, e com o som que preencheu todo o ambiente, eu senti uma explosão de emoção que era difícil de descrever. Mas foi a visão dele acelerando pelas curvas de Mônaco, desafiando o tempo e a gravidade, que fez meu coração bater mais forte. Ele era pura perfeição na pista, uma força da natureza.

E eu, por um momento, me senti como se estivesse ao lado dele naquela corrida, lutando contra o vento, desafiando os limites, indo além do que eu achava ser possível.

A corrida terminou, e, embora eu soubesse que Senna havia vencido, havia algo muito maior acontecendo. A magia daquele dia, de vê-lo correndo em Mônaco, se estendia para mais do que o simples resultado. Ele havia se tornado, de uma maneira quase mágica, parte do meu mundo, assim como eu, sem querer, havia me tornado uma parte do seu.

Eu sabia que aquele encontro – ou talvez aquele destino – ainda estava só começando.

***

Continua...

Imagines Fórmula 1Onde histórias criam vida. Descubra agora