82 - O Reencontro (AYRTON SENNA)

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In Memoriam

"Talvez isso seja um pensamento desejoso, provavelmente um sonho sem sentido, mas se nós nos amássemos novamente, eu juro que te amaria direito

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"Talvez isso seja um pensamento desejoso, provavelmente um sonho sem sentido, mas se nós nos amássemos novamente, eu juro que te amaria direito."

***

Anos haviam se passado desde a última vez que vi Ayrton. O tempo, com sua natureza cruel, havia feito o que parecia impossível: apagado as cicatrizes do meu coração, mas também mantido o eco de seu nome sempre presente. Eu havia me acostumado com a ideia de que ele era parte do meu passado, algo irremediável, como um sonho distante que não se realiza. Porém, o destino, com toda a sua estranheza, tinha planos diferentes para nós.

O reencontro aconteceu de maneira tão inesperada que parecia irreal. Eu estava em um evento beneficente, com a missão de acompanhar alguns pacientes e ajudar na organização, quando, ao atravessar a sala, meus olhos encontraram os dele. Ayrton. De pé, em meio a um grupo de pessoas, ele estava mais maduro, mais impessoal de algum jeito, mas o sorriso... aquele sorriso era o mesmo. O sorriso que sempre me fez perder a noção do tempo e do espaço.

Eu congelei por um segundo, o meu coração disparando de maneira imprevista. Ele estava mais distante agora, mais famoso, mais envolto na aura que a fama cria. Mas, naquele momento, nada parecia importar. Ele me viu e, por um instante, nossos olhares se cruzaram. Eu quase podia ouvir a batida dos meus próprios pensamentos tentando encontrar o equilíbrio.

Ayrton sorriu timidamente e caminhou até mim. Ele estava mais elegante, com o traje social perfeitamente ajustado, mas a aura de sinceridade que sempre o cercou ainda estava ali.

— Sn... — disse, com uma voz suave e cheia de uma ternura que eu nunca esqueci.

— Ayrton... — respondi, quase sussurrando, tentando manter a compostura. Não sabia o que dizer, não sabia como agir depois de tanto tempo, depois de tanto silêncio entre nós.

Ele deu um pequeno sorriso, como se estivesse tentando quebrar o gelo da distância que o tempo tinha criado.

— Quanto tempo, não? — ele começou, e seus olhos brilharam de maneira familiar. — Parece que foi ontem.

Eu ri, mas era uma risada sem alegria. Como poderia ser ontem, quando o ontem parecia ser uma vida inteira atrás?

— Sim, parece que o tempo... — comecei a dizer, mas a voz me faltou por um instante. Como explicar anos de silêncio, de distância, de lembranças? — Parece que o tempo passou rápido, mas também não passou, sabe?

Ele assentiu, olhando-me com uma expressão que eu não podia decifrar. Não era mais o jovem sonhador de antes. Era um homem agora, e essa mudança estava visível em cada gesto. Mas, de algum jeito, ainda havia algo nele que me fazia lembrar de quem ele realmente era.

— Eu terminei com a Xuxa, faz alguns meses — disse ele, como se isso fosse uma parte importante da conversa. Sua voz estava calma, mas havia algo nela que denotava um peso.

Meu coração deu um salto. Não esperava ouvir isso, e a revelação me deixou momentaneamente sem palavras. A Xuxa... aquela parte da vida dele sempre pareceu tão imutável, tão visível para o mundo. Agora, ele estava ali, me contando que o relacionamento deles tinha chegado ao fim. E eu, que já havia vivido a dor de vê-lo se afastar, não sabia o que pensar.

— Eu não sabia... — murmurei, ainda tentando processar a informação.

— Não sei se isso muda alguma coisa, Sn — ele disse, com um olhar mais sério agora. — Eu... nunca deixei de pensar em você. Em tudo que aconteceu. E não sei o que isso significa, mas não posso negar.

As palavras caíram sobre mim como uma onda inesperada. Como ele podia dizer isso depois de tanto tempo? Depois de tanto tempo em que eu me acostumei a não esperar nada mais dele? Eu não estava preparada para isso. Mas algo dentro de mim, algo profundo, me disse que ele estava sendo sincero. Ele sempre foi direto, sempre foi transparente, e dessa vez, não parecia diferente.

Eu respirei fundo, tentando recobrar minha compostura.

— Eu também... nunca te esqueci, Ayrton. Mas... o tempo passou, e eu... não sei se ainda posso acreditar em tudo o que fomos. — A dúvida, finalmente, saiu da minha boca, mesmo que eu estivesse me esforçando para encontrar palavras que fizessem sentido.

Ele me olhou intensamente, como se estivesse tentando ler o que estava por trás da minha hesitação.

— Eu sei que a gente tem um passado... complicado. Mas, se você me der a chance, eu quero tentar, mesmo que seja aos poucos. A amizade, pelo menos... — Ele pausou, como se estivesse ponderando as palavras. — Quero que sejamos amigos, se você puder. E, quem sabe, depois, a gente descubra o que é possível.

Eu tentei entender as implicações daquilo. Amizade? Depois de tudo? Eu queria acreditar que ele ainda sentia algo por mim, mas não sabia se eu estava pronta para enfrentar outra decepção, ou se ele realmente tinha mudado, ou se seria apenas mais um erro.

E então ele fez algo que me pegou completamente desprevenida: ele me tocou o braço, de forma gentil, mas firme, como se estivesse me convidando a acreditar em algo que ele próprio talvez ainda não soubesse.

— Eu não sei o que o futuro nos reserva, mas sei que não quero mais viver com essa dúvida. Eu ainda te amo, Sn. Quero te dar a chance de recomeçarmos.

As palavras dele estavam recheadas de uma sinceridade que eu não podia ignorar. Ele havia dito tudo, sem rodeios, como sempre fez. E, naquele momento, eu percebi que talvez não fosse o amor que precisávamos de volta, mas a confiança. O tempo que passamos separados nos tinha moldado de maneiras que nem eu nem ele podíamos prever.

Algumas semanas depois, nossas conversas se tornaram mais frequentes. Ele começava a me mandar mensagens de texto, perguntando sobre minha rotina, sobre o trabalho no hospital, como eu estava. Eu fazia o mesmo, mesmo com aquela pontinha de receio que sempre me acompanhava. Vez ou outra, ele me convidava para tomar um café ou jantar. A cada encontro, a conexão entre nós dois parecia mais forte, mais evidente, como se a amizade fosse o primeiro passo para algo que ainda não podíamos compreender.

E então, em uma noite tranquila, depois de um jantar simples, mas delicioso, ele me olhou de uma forma que fez meu coração acelerar.

— Sn, eu sei que já dissemos tantas coisas um para o outro, mas não posso mais esconder. Eu ainda te amo, e sei que não posso voltar atrás. Quero uma nova chance, se você me permitir.

Eu olhei para ele, para aquele homem que ainda tinha a mesma intensidade, mas agora com um olhar mais maduro. A dor do passado, das separações, das perdas, parecia finalmente ser superada. Mas ainda havia uma dúvida, um receio em mim. Será que o amor que eu sentia por ele seria suficiente para enfrentarmos tudo o que o tempo nos impôs?

Eu hesitei por um momento, mas então, com um suspiro profundo, respondi:

— Vamos dar um passo de cada vez, Ayrton. Não sei o que o futuro nos reserva, mas estou disposta a tentar. Juntos. Se você ainda quiser...

Ele sorriu, e naquele sorriso eu vi todas as respostas que precisava. O futuro, finalmente, parecia possível.

***

Continua...

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