𝟖𝟓 ⌁ 𓈒 ֹ LORENZO MATTIOLI ˳ׄ ⬞

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Lorenzo lutava contra as próprias emoções, tentando sufocar qualquer fagulha de esperança em relação a Angelina. Eles haviam cedido ao desejo mais uma vez, mas ela foi clara ao partir: aquilo não voltaria a acontecer. Por mais que quisesse acreditar que as palavras dela eram apenas uma fachada para esconder o que sentia, Lorenzo sabia que insistir seria inútil. Ele desejava, com todas as forças, exigir que ela ficasse, que aceitasse ser sua, que não o deixasse mais. Mas, depois de tudo o que havia acontecido, sabia que não tinha o direito de exigir nada.

Ainda assim, ela o assombrava. O silêncio de Angelina era um tormento, uma cicatriz que latejava incessantemente. Lorenzo, acostumado a ter controle absoluto sobre tudo e todos, se via impotente diante daquele vazio. Como aceitar que ela não o queria mais? Como viver com a certeza de que ele era o único responsável por isso?

Enquanto isso, Theodoro tornava tudo ainda mais difícil. Ele não parava de pressionar, exigindo reuniões, ameaçando viajar até a Itália para discutir sobre Donnatela e Angelina. E, acima de tudo, queria que a filha mais nova retornasse a Chicago, alegando que o acordo de casamento fora quebrado. Lorenzo, porém, não estava disposto a abrir mão de mais ninguém, ainda que isso significasse outra guerra com mais uma máfia. Cabia a Vincenzo o ingrato papel de mediador. Ele era a voz da razão, o único que conseguia impedir que Lorenzo explodisse e transformasse tudo em um caos irreversível. Várias vezes, Vincenzo interveio, evitando que Mattioli, tomado pela raiva, resolvesse a situação de forma definitiva ou que simplesmente puxasse o gatilho contra o velho chefe da Outfit. Mas o que mais corroía Lorenzo era Donnatela. Ela estava morando no apartamento de Giorgia, longe da mansão Mattioli, e aquilo tirava todos da família do sério. Donnatela não era uma mulher fácil; sua teimosia e seu temperamento explosivo faziam dela uma presença difícil de administrar. Ela era como um furacão, e Lorenzo sabia que, a qualquer momento, poderia causar estragos ainda maiores.

Naquela manhã, Giorgia fez um pedido inesperado: queria que Lorenzo as acompanhasse ao ultrassom. Donnatela faria o exame morfológico e, talvez, descobriria o sexo do bebê. A solicitação o desarmou por completo, trazendo de volta memórias que ele tentava a todo custo enterrar. Lucy havia feito aquele mesmo exame antes de morrer. O filho que ela carregava teria nascido perfeito, forte e saudável, se a vida não tivesse sido tão cruel com eles. A lembrança o esmagava. Tudo o que poderia ter sido, tanto com Lucy quanto com Angelina, pesava sobre ele como uma condenação. Enzo sentia que, por mais que tentasse, suas ações sempre acabavam causando dor. Ele queria proteger, queria cuidar, mas parecia incapaz de fazer isso sem machucar quem mais amava. O passado o perseguia como um fantasma, e o presente só parecia reforçar seus erros. 



Lorenzo estacionou o carro com um movimento preciso, quase automático, enquanto o aperto no peito revelava o turbilhão que se desenrolava em sua mente. Decidira, contra o desejo de todos, vir sem seus habituais soldados, incluindo Francisco. A decisão não fora bem recebida, mas o Don era um homem que confiava plenamente em sua habilidade de se defender, mesmo que isso significasse enfrentar o silêncio e o peso da solidão que agora parecia o acompanhar. Diante dele, o hospital particular da Cosa Nostra erguia-se como uma fortaleza impessoal, carregada de lembranças que ele preferia manter enterradas. Lorenzo respirou fundo, ajustou o paletó com calma e consultou o relógio. A pontualidade habitual estava intacta, mas, naquela manhã, os minutos pareciam arrastar-se como um fardo. Ao atravessar as portas, foi imediatamente engolfado pela atmosfera estéril: o som abafado de passos ecoando pelos corredores, murmúrios quase inaudíveis de conversas furtivas e o cheiro clínico e persistente de desinfetante, que parecia invadir até seus pensamentos. Com a expressão impassível, caminhou pelos corredores, ignorando os olhares furtivos que reconheciam sua presença. Sua figura, embora discreta, carregava um peso que parecia reverberar pelo ambiente.

𝗙𝗜𝗥𝗘 𝗔𝗡𝗗 𝗕𝗟𝗢𝗢𝗗 - @𝗅𝟢𝗌𝗍𝗋𝖾𝗂𝖽Onde histórias criam vida. Descubra agora