A PARTIDA
Enquanto isso na parte menos favorecida da cidade...
Eu estava dormindo quando minha mãe me acordou, em desespero ela dizia que os guardiões estavam invadindo a cidade e tirando todas as jovens a força de suas casas.
O governo vinha avisando que assim aconteceria caso fosse necessário, mas o povo acho que eles estivessem blefando.- "Roubar nossas filhas de nós? Impossível!" - diziam.
E agora, Loudenberg está sendo atacada por seu próprio governo. Com um puxão de orelha minha mãe me arrasta até a cozinha onde meu pai nos espera segurando uma espingarda.
- Mãe, o que está acontecendo? - pergunto, mas ela não responde, apenas coloca um casaco em mim e me entrega uma cesta palha muito pesada. Mesmo que eu ajudasse meu pai a levar os sacos de farinha para a padaria e por conta disso tivesse me tornado o jovem mais forte com 9 anos da escola, eles pareciam mil vezes leves do que essa cesta.
- O governo disse que muitos soldados estão morrendo e por isso precisam de mais pessoas para lutar por nós e preencher a falta desses soldados. Eles escolheram usar nossas meninas pra essa tarefa. - explica minha mãe seguida de um olhar triste em saber que tem uma filha ainda bebê com seu destino já traçado.
- Mas mãe, Vega ainda é um bebê, fez um ano de vida a poucos dias!
- É melhor fugir agora do que correr um risco ainda maior de ser pego Max! - explica papai. - Vocês podem tentar ir pra outro país ou algo assim, não sei!- Fugir como Jhon? O mundo inteiro está sofrendo com esse sistema! - exclama mamãe. - Max, meu filho, quem nos garante que os guardiões não vão capturar meninas antes mesmo atingirem a idade necessária e leva-las para a Central. Assim, desde pequenas elas seriam treinadas como futuras 'máquinas de matar'!
Ficamos em silêncio por alguns instantes.
- Só... não confie em ninguém Max, principalmente no governo.
Minha mãe ajeita a gola do casaco, é nesse momento que consigo ver a dor está além do seu olhar, está também no seu toque.
- E quando ela crescer mãe? Quando ela tiver 13 anos e atingir a idade necessária, o que eu vou fazer? - começo a ficar desesperado. - Não posso fugir para sempre! Não posso cuidar dela!
- Maxron, eu sei como é difícil, mas não vai ser pra você! Você pode fazer isso. Por favor querido, fuja com Vega para a floresta ou para qualquer lugar longe o suficiente desse caos. - diz ela.
- E vocês, não vão fugir com a gente? - pergunto.
Meu pai me observa por alguns segundos com um olhar vazio e triste.
- Não, meu filho, vamos ficar aqui.
Minha mãe me empurra com pressa pela porta dos fundos e sem dizer uma palavra fecha a porta, me deixando sozinho com minha irmã dentro de uma cesta de palha.Me viro e começo a caminhar em silêncio, então dou uma última olhada para trás e vejo meus pais através da janela, acenando sem expressão.
Está vai ser minha última lembrança deles: minha mãe aos prantos e meu pai com uma espingarda nas mãos enquanto espera os guardiões invadirem nossa casa.Quando me dou conta do caos ao meu redor, minha esperança se esconde por detrás do medo.
Pessoas estão correndo desesperadas de um lado para o outro. Alguns até estão escolhendo o suicídio como fuga de um futuro pior.Rebeldes colocando fogo em em lixeiras e queimando casas abandonadas como forma de protesto ao ataque do governo, o que só piora a situação.
Alguns guardiões estão espancando pessoas na rua por diversão, se aproveitando da situação em que se encontram, para eles o sofrimento dessas pessoas é motivo de piada.
Como se tivesse acordado em um pesadelo, corro o mais rápido possível.
A floresta não fica muito longe daqui, eu apenas teria que correr mais alguns quarteirões e atravessar a avenida principal. Corro sem parar, o mais rápido que posso com essa cesta, tentando esquecer seu peso.
Um quarteirão, dois quarteirões, três quarteirões... o próximo quarteirão é o último, estou quase chegando. Eu vou conseguir pela minha irmã, pelos meus pais e pelo meu futuro...- Ei, está temporariamente é proibido sair da cidade garoto. - diz um guardião de sorriso amarelado e doentio. Ele ergue uma espada e se apronta pra me cortar em milhões de pedacinhos.
Então, no mesmo instante um civil pula nas costas do guardião, derrubando-o e abrindo caminho pra que eu fuja. Saio correndo diante da cena, até chegar no meio da avenida principal. Já a uma distância segura, olho para trás, para observar meu herói e tentar pelo menos dar um aceno em agradecimento.
O guardião está no chão, enquanto o civil em pé a sua frente sorri para mim. De repente, numa agilidade o guardião pega sua espada e de onde está finca-a no peito do civil que cai no mesmo instante.
De olhos arregalados, chocado com o que acabei de ver, corro floresta a dentro.Já sem aguentar o peso das lágrimas que não permiti que caíssem desde o momento em que meus pais me jogaram na rua, corro em meio as árvores cheias de espinhos cumpridos e afiados sem me importar com os cortes, na verdade não me atrevo nem se quer a olhar pra eles. Corra Max, apenas corra.
Tropeço em algo e exausto caio em meio as folhas cheias de sereno. Na queda, acabo batendo a cabeça com força em uma pedra e de repente tudo fica escuro e silencioso. Mas fico desacordado por pouco tempo. Logo quando abro os olhos vejo a frente, a cesta que estava carregando. Me levanto em um pulo quando me lembro de Vega.
Retiro a manta que está sobre a cesta para ver se ela estava bem. É quando minhas lágrimas vem sem pedir licença, de novo. Meu pai costumava dizer que homens não devem chorar, mas eu precisa chorar naquele momento.
Vega está dormindo tranquilamente. Olho ao redor e avisto um espinho de árvore seco caído sobre as folhas, deve ter uns 50 cm. Encosto a ponta do espinho meio do peito dela, sem pressionar.
Engulo em seco. Eu seria capaz de fazer isto? Não quero ver minha irmã sofrendo... Mas isto não significa que tenho o direito de mata-la.As dúvidas rodeavam minha mente, até que aos poucos os olhos verdes de Vega vão se abrindo.
Olho para aqueles olhos, e por meio deles vejo um menino assustado segurando um espinho, panejando matar sua irmã para se livrar de um peso maior do que uma cesta ou os sacos de farinha que carregava.
Solto espinho e pego Vega no colo.
- Não, não sou assim. Não sou um assassino. Por favor Vega, não me deixe voltar a pensar assim. Eu te amo muito irmãzinha. Eu preciso de você e você precisa de mim.
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TREINADA PARA LUTAR
Science FictionAmy Young é uma jovem de dezessete anos que vivia na pequena cidade Loudenberg até ser obrigada a fugir com suas irmãs, uma vez que o mundo se tornou um grande campo de batalha. Porém, como em toda guerra mundial, houve uma queda no número de soldad...