Capítulo 06

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INSÔNIA

Um carneirinho, dois carneirinhos, três carneirinhos...

Leah sempre dizia que contar carneirinhos poderia me ajudar a dormir mais rápido.
Infelizmente, essa história de carneirinhos nunca funcionou comigo, mas não há mais nada que eu possa fazer dentro do meu Olo, apenas dormir.
Estou aqui há três dias por ter, contra minha vontade, desfigurado o rosto da minha irmã mais velha.
Ontem Sophi veio me visitar. Ela diz que agora somos duas rebeldes encostadas.
Estou sentindo falta das loucuras de Lu. A culpa me consome a cada dia que passo sem notícias dela. Foi por minha causa que fomos até a cidade abandonada, por minha causa as meninas sumiram e Kat está ferida.
As vezes tenho vontade de me matar só para silenciar a dor que causo nas pessoas, mas estou acomodada a este mundo e as poucas coisas boas que tenho nele. 
Ontem também estive pensando na conversa que tive com Sophi.
Eu seria capaz de quebrar a promessa que fiz a Leah e a Eve?

Faltam dois dias para a colheita.
Hoje fiquei observando Eve através da janela. Ela finalmente está treinando. Metade do rosto dela estava com um corte lateral, o mais doloroso é saber que foi eu quem fiz esse corte.
Quero pedir desculpas, mas acho melhor esperar mais um tempo. Não é do fetiche de Eve perdoar com tanta facilidade.
Estou cansada de ficar parada aqui sem fazer nada. Quero correr, lutar, fugir e treinar.
É quando um pensamento ousado me vem a mente. 

E se eu sair escondida hoje a noite para procurar as meninas que estão desaparecidas. É arriscado, eu sei, mas se eu conseguir poderia ganharia pontos com Leah e quem sabe deixaria de receber tantos olhares de desgosto.

Se eu fizer isso, talvez consiga me perdoar. E finalmente, poderia dormir em paz.

Horas mais tarde...

Fiquei esperando da janela cada luz de cada Olo se apagar, só para ter a certeza de que todos já foram dormir. Para que, eu entre em ação.
Já preparei minha arma com algumas balas e amolei minha faca.
Vesti uma calça jeans preta e uma blusa moletom cinza, nada muito chamativo. Amarrei meu cabelo em rabo de cavalo e peguei uma mochila. Encontrei uma capa presa no fundo do meu baú, visto-a para esconder meu rosto e a mochila nas minhas costas.
Por um instante observo a foto de Laura sobre a mesinha. 

Espero vê-la novamente.
Saio do meu Olo. 

Que o poder da lua me proteja.

Hoje a lua está mais distante, mas sua luz se mantém forte.
Infelizmente, os espinhos continuam afiados. Tenho que tomar cuidado, não quero que saibam que eu sai caso consiga ao menos voltar. 
Melhor ir até o rio para encher meu cantil com um pouco água, a viagem pode ser um pouco longa, já que Grace não está aqui para me guiar.

Sigo uma trilha mais curta e por isso logo chego no rio.
Tiro minha capa e me ajoelho na beirada. Afundo o cantil na água gelada e depois de cheio, o retiro.

Os lobos estão quietos de mais esta noite. Espero não encontrar uma besta pelo caminho.
Faz apenas alguns minutos que entrei na floresta e a fagulha de medo já atingiu. Tenho vontade de voltar para ficar na cama contando carneirinhos.

Não. Carneirinhos não, já estou cansada destes bichos imaginários na minha cabeça.

Começo a me lembrar do que Sophia me disse a poucas noites átras.

"Esconda seu maior medo para que os outros campeões não vejam".
Mergulho o rosto água e me recomponho para prosseguir com a viagem.
Sinto corujas me vigiando do alto das árvores.
Parecia estar tudo bem até eu ouvir gritos e chamados de socorro.
Seguindo a voz, saio correndo. É uma voz feminina.

Talvez seja uma das meninas.
Pego minha arma. Estou perto.
Em passo mais leves e silenciosos, me escondo atrás de uma rocha enorme.
A dona da voz não era de nenhuma das meninas do Limiar, na verdade é de uma menina que eu nunca havia visto por aqui.
Ela luta contra um homem grande e forte que usa uma máscara preta e um uniforme medonho. Vejo um broche preso no bolso da jaqueta de algodão dele. Tem o formato de uma águia dourada com um L em letra cursiva no peito. Ele me parece familiar mesmo com a máscara.
Ainda assim, creio que nunca vi nenhuma dessas pessoas por aqui, principalmente a menina.

De repente, um jovem entra em cena.
Ele certamente é mais velho que a menina e pela estrutura corporal, mais novo que o homem mascarado.
Ele pula de uma árvore e cai sobre o homem. Ambos caem no chão, libertando a menina dos braços do homem mascarado.
Quando menos espero o homem e o jovem já estão de pé.
Os dois começam a lutar, até que o homem retira uma arma do sinto. O que demonstra que o jovem não está tão preparado quanto ele.
Essa é a minha deixa. Saio de trás da rocha e chego por trás do homem. Aponto minha arma por trás do pescoço dele, ameaçando-o:
- Larga a arma! - digo.

O homem se abaixa lentamente e quando está prestes a colocar sua arma no chão, o jovem o ataca novamente

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O homem se abaixa lentamente e quando está prestes a colocar sua arma no chão, o jovem o ataca novamente.
Estava tudo sob controle, até esse maldito jovem querer tentar dar uma de herói.
O homem me dá um empurrão de surpresa. Caio no mesmo instante.
Ele revida todos golpes do jovem com socos e chutes.
Até que finalmente, o homem pega a arma novamente e aponta para o jovem que já está caído no chão.
Mas, eu levanto rapidamente e pulo nas costas do homem .
Ele cambaleia, porém começa a me jogar três vezes contra árvore enquanto estou em suas costas. Tento aguentar a dor, mas logo caio novamente.
A última coisa que vejo é o jovem caído no chão com seu rosto ensanguentado. O homem fica diante dele e então aperta o gatilho.
O barulho da bala me faz sentir dor de cabeça. Por fim, minha visão começa a escurecer e minha mente para de funcionar.

TREINADA PARA LUTAROnde histórias criam vida. Descubra agora