Hora de caçar pensamentos

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A chuva não se fazia cessar.

As três agora estavam sentadas a sala, cercadas por candelabros que iluminavam ao seu redor.

Anahí: Silas? Já mandou chamar alguém para concertar a fiação?

Silas: Não senhorita, desculpe. Mas estou aguardado o pessoal especializado.

Ele era um homem estranho. Aliás, todos naquela casa eram. Menos Nora, que agora já havia partido.
Ele era alto, com as pernas marcadas por cicatrizes, seu dedo indicador era amputado. O perdeu durante uma briga da qual nunca falava sobre. Silas sabia a condição das meninas e não se importava com isso.
A mãe delas era assim.
Acolhia tudo o que era excluído e abandonado pela sociedade.

Anahí: Diabos! Vamos ficar no escuro por quanto tempo?

Silas: Não sei ao certo. Vou tentar resolver enquanto chegam. - saiu às pressas, puxando sua perna danificada -.

Dulce: Estou assustada, odeio muita escuridão.

Maite: Eu também. Não quero dormir sozinha.

Anahí: Que absurdo dizem. Eu sou uma vampira, você Dulce, é uma fada e você May, uma anja, e estão com medo do escuro? Façam-me o favor. Deviam ter medo de si mesmas. Somos monstros.

Dulce: Não fale assim. Não somos monstros... apenas diferentes dos outros.

Anahí: Tanto faz, eu vou dar uma volta.

Maite: Vamos com você.

Anahí: Eu posso ir sozinha. Não vou muito longe

Maite: Está de noite, praticamente toda a cidade foi atingida pelo blecaute, e você está com aquele probleminha, lembra?

Anahí: Eu já disse que estou bem, e agora vou caçar - elas a olharam, temerosas - Animais, é claro - esclareceu revirando os olhos - se estiverem a fim de ver sangue...

Dulce: Vamos te dar meia hora - explanou com autoridade - Se não voltar antes disso vou atrás de você, está ouvindo?

Anahí: Mas que inferno! Eu agora vou ser monitorada, é isso mesmo? Sei me controlar sozinha! Não é porque agora sabem o que aconteceu que tenho que sair acompanhada á todo lugar. - Anahí bufava de ódio, ela odiava se sentir presa e isso fazia parte do seu vampirismo -.

Dulce: Não preciso repetir, você me conhece, sabe que não vou mudar de ideia.

Anahí: Sim, eu sei muito bem. Em meia hora - disse irônica - Estarei aqui.

Finalmente a vampira se viu livre do ambiente pesado que estava na sala, quando saiu de lá sem olhar para trás.

A noite era o seu horário favorita - logicamente - mas esse prazer ia além da sua condição. Ela adorava o cheiro da madrugada, do vento frio, e como estava chovendo, o clima se tornou ainda mais confortável. Anahí não corria o risco de adoecer, pois não sentia frio, e essas eram algumas das maiores vantagens. Se direcionando para o local de caça: Os Bosques que Gritam.
Era assim que os moradores da pacata cidade chamavam o local, que eles consideravam mal assombrado.

Avistando um belo servo, seus olhos brilhavam o vermelho sangue ao olhar para o animal ali, indefeso e prestes a virar jantar de alguém.
Ela odiava ter que fazer isso, mas era a única forma de não ferir humanos. Foi assim que Nora a criou.

Em um único salto ela subiu na árvore que estava acima do animal, e pulou em seguida, sobre ele, o pegando com um só golpe. Suas presas surgiram e foram direto para a jugular do animal, onde estava concentrada a maior parte do sangue. Ela continuou segurando-o com força enquanto o servo se debatia, colocando o peso do seu corpo sobre ele, mesmo assim, foi inevitavel abafar o seu rugido.

"As imagens de seus pulos sobre a floresta era divina. Eu agora estava cercada de filhotes, todos eles me pediam comida, mas eu não tinha nada para dar, a única saída seria me arriscar na noite para caçar algo. O macho se encarregou de protegê-los enquanto eu saia, porém, estava muita neblina, mal se podia enxergar. Minha ultima visão foram um par de olhos vermelhos que eu percebi me encarar".

Anahí saiu de cima do animal como que de imediato. Assustou-se ao perceber o que estava sobre a sua mão. Era o pescoço do servo. Agora decapitado, a sensação de asco era gigante.
"eu absorvi suas ultimas lembranças" pensou, ainda desacostumada com o efeito colateral de sempre..
Era uma fêmea, que tinha filhotes a espera-la, e ela a matou, "agora são órfãos como eu" refletiu.
Odiava essa parte do seu poder: sugar o sangue, e ainda de sobra à culpa a consumia, porque ficavam na sua cabeça os últimos pensamentos da vítima. Carma era o que a definia.

Cavei um buraco bem fundo, para enterrar os restos do corpo do animal que acabara de matar. Aquilo era muito cansativo.
Assim que terminei, fui até um fio de lagoa que ultrapassava o bosque. Limpando minhas mãos e boca que estavam puro sangue, levantei-me fixando o olhar à correnteza que existia lá e arrastava as folhas que caiam das arvores a todo instante. Foi aqui, onde nora nos encontrou. Não éramos irmãs de sangue, mas elas corriam risco pela minha mais recente mudança. Isso tinha que passar. E logo.
Preparei-me para retornar, mas ouvi o barulho de passos bem apressados seguindo na minha direção, só me dando tempo de pular para uma árvore e no meio dos ganhos me esconder.
Eram dois rapazes. Um estava rendido por uma arma nas suas costas, e o outro parecia eufórico ao utilizar o objeto de ferro. O cheiro de ambas me atraiu, mas um em especil, cheirava de diferente. Eu não conseguia imaginar algo parecido com aquilo.

Foi ai que minha sede voltou com toda a força.

"inferno! Eu acabei de beber a maior dose do dia".

Meus pensamentos foram interrompidos.

Desconhecido 1: Vamos! Passa tudo o que você tem de valioso. Agora! Rápido!

Desconhecido 2: A única coisa que tenho aqui é esse relógio e alguns trocados. - A voz era trêmula. Eu sentia o medo nela -.

Desconhecido 1: Como que não tem mais?! Você é rico, eu sei que é!

Desconhecido 2: Deve estar me confundindo. Sou novo aqui. Por favor, leve o que eu dei e me deixe ir.

Desconhecido 1: Eu sei que é novo na cidade, e que é muito rico. Escolheu a lugar errado meu parceiro.

Nesse instante fui surpreendida pelo som da coronhada que o bandido dera na cabeça do rapaz, que agora estava desmaiado ao chão. O outro correu em direção ao fim do bosque. Pensei em segui-lo, mas o cheiro do sangue que saía do local da pancada de quem estava no chão era tentador demais. Fui para perto do corpo desfalecido, devagar. Tentei conferir seu sinal vital e como imaginei, ele estava vivo, mas o sangue sujou minha mão na hora em que o toquei.
Vagarozamente levei a mão ao nariz "como cheirava bom" era daqui que vinha o cheiro mais forte.
Aquele sangue era quente e pulsava dentro das veias dilatadas dele, tentadoras, dava para ouvir o som do coração bombeando, fazendo cada troca...

Supernatural Love (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora