Debaixo da chuva

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Era exatamente meio dia, e embora á alguns minutos atrás o sol estivesse forte na pequena cidade, de repente, a atmosfera do lugar modificou. As nuvens escuras e carregadas recobriram todo o céu, insinuando o início de uma nova tempestade.

Alfonso permanecia encurralado pela criatura enigmática que estava bem na sua frente, mas mesmo receando por sua vida, ele não experimentou o medo, muito pelo contrário.

Os olhos cor de rubi o enfeitiçaram;

Ela o encarava como se combatesse o seu interior. Era possível ver como Anahí estava atordoada e perdida por detrás da figura ameaçadora em que havia se transformado.

Alfonso: O que você é? - sua voz apareceu, hesitante, quase imperceptível.

Ela não respondeu.

O homem permaneceu entorpecido, trocando olhares até sentir a primeira gota de chuva cair sobre sua testa, dando seguimento as demais que vieram em uma enxurrada. Como reflexo Alfonso virou o rosto para se proteger, proporcionando a Anahí uma imagem perfeita da sua, jugular pulsante e vulnerável. Percebendo, ele tornou a antiga posição, depressa, mas já era tarde demais.

As presas dela já haviam surgido como uma arma. Agora sim, o seu tão temido final estava traçado. "Uma Vampira" foi o que refletiu.

Todas as imagens horripilantes que assistiu no seu computador invadiram sua mente bruscamente. Pareciam até machucar.

Ele sabia bem o risco que estava correndo "mas se ela quisesse me atacar, já teria feito isso" nas suas contas já tinha se passado cerca de três minutos desde que foi abordado, até o momento atual. Sem ataques ou violências.

Aproveitando essa percepção, Alfonso arriscou se utilizar de um último experimento. Tentou se erguer, mas ela pressionou ainda mais seus punhos, com força. Com certeza aquilo lhe deixaria marcas.

Anahí: Não se mexa! - falou em repreensão.

Por mais que Anahí quisesse sugá-lo, ela não sabia como fazer isso. Nunca tinha pegado um humano antes, e os animais não podiam falar ou implorar por socorro. E muito menos eles lhe atraiam daquela forma.

Alfonso: Seja lá o que for fazer, faça de uma vez – confrontou - Se quiser me matar vá em frente. Mate de uma vez. - numa tacada de sorte, ele resolveu apostar no incerto. Não havia alternativa.

Anahí sentiu uma onda de emoções envolverem sua essência desalmada "não consigo" repetiu várias vezes a si. Em reposta, Alfonso notou que os olhos da vampira ardiam. Vermelhos como fogo. E então, a mulher começou a balançar a cabeça, negativamente, enquanto o dilúvio os deixava encharcados, dando um salto para se levantar e correr, abandonando a presa sobre o chão, sozinho.

Alfonso permaneceu deitando por mais alguns segundos, tentando acreditar no que acabara de acontecer. Depois de um tempo ele se levantou e buscou a direção em que ela poderia ter fugido. Decidido tentar alcançá-la, caminhou, mesmo com a certeza de que seria quase impossível.

Anahí correu o mais rápido que pôde indo parar debaixo de uma árvore de Ypê. Ela era velha e grande. Com uma proteção mais eficaz. Suas mãos seguravam sua garganta como se sufocasse. Ela se apoiou e deslizou propositalmente no caule, pois tudo dentro do seu corpo parecia inflamar.

"Porque aconteceu isso... Ele vai me denunciar e toda minha família estará comprometida" Pensou, amaldiçoando o seu comportamento insensato.

"Porque não consegui matá-lo?".

Ela sabia a resposta, mas se recusava a acreditar nela.

****

Maite, preocupada com o sumiço da irmã logo após todos os alunos delatarem a sua saída, não conseguia deixar de ter maus pressentimentos "Deve ter ido para casa" se fez crer.

Pondo a bolsa sobre os ombros e se preparando para ir embora ela se interrompeu ao avistar William se aproximando, dentro de uma das suas calças jeans justas, que tanto tiravam a atenção da anja, e uma camisa polo na cor azul.

Ele era realmente bonito.

Willian: já ia embora sem se despedir, senhorita?

Maite: Não foi por mal. Pensei que você já tinha ido.

William: Fui à sua sala e me disseram que estava aqui – esclareceu sugestivo – Vamos, juntos, eu posso te deixar em casa - concordando, Maite o seguiu.

A mão direita de William abraçou a esquerda dela, deixando a anja totalmente envergonhada. Todos admiraram a demonstração de afeto dos dois, aos cochichos. Os novos alunos sabiam chamar atenção, tanto pela beleza quanto por suas atitudes. Era uma novidade quase peculiar para os estudantes do campus o contato deles com as irmãs antissociais.

****

No bosque, Alfonso já estava exausto de tanto correr e andar. Durante mais uma de suas paradas para recuperar o folego, ele observou como a chuva estava cada vez mais forte e com trovões que faziam o solo tremer. "Tenho que ser rápido. Se ficar mais tempo aqui pode ser mais perigoso" calculou.

Soava até engraçado pensar naquilo, levando em consideração o fato de estar correndo atrás de alguém que há alguns minutos atrás queria lhe matar.

Voltando à ativa, ele continuou seu destino até que, de longe, visualizou Anahí sentada a beira de uma árvore, com o rosto enterrado nas mãos. Ele torceu para não voltar à situação de antes, se aproximando dela novamente, devagar, receoso. Questionando a cada novo passo o porquê da sua obsessão por aquela mulher.

Assim que sentiu o cheiro dele, Anahí ergueu a vista levantando o corpo logo em seguida. Completamente inquieta.

Anahí: O que faz aqui? Está maluco?!

Alfonso: Eu não podia te deixar sozinha.

Anahí: Você é suicida ou o quê? Sai daqui e vai embora... Ou eu não me responsabilizo pelo que pode te acontecer.

Alfonso: Eu não tenho medo.

Anahí: Mas devia - contestou aborrecida - Sabe do que sou capaz?

Alfonso: Sei.

Anahí: Vou te dar mais uma chance – falou, virando de costas para ele, e não se importando mais em ser desmascarada.

Só o queria distante, o máximo que pudesse. Aquilo já a estava afligindo.

Anahí: Corra para longe... Antes que eu me vire.

Alfonso se aproximou mais de Anahí, apanhando-a pelo braço e a obrigando a se virar para ele. Estando os dois frente a frente a vampira arregalou os olhos completamente imóvel.

Alfonso: Não quero chances de fugir... – com uma das mãos vagas, ele puxou a nuca dela e lhe arrancou um beijo forçado.

Mesmo pensando em se soltar a vampira não pôde afrontar o seu próprio desejo. Suas mãos abrandaram e envolveram-se em torno dele, juntando seus corpos molhados. Anahí sentiu sua pele aquecer conforme era puxada com mais força a cada instante que o beijo se intensificava.

Os papéis agora estavam inversos. Ela agora era à presa e não a caçadora.

A alegria, a angústia e o conflito invadiram a alma daquela mulher desalmada, entregue aos braços de um homem impossível.

A vontade de beijá-lo e suga-lo batalhavam dentro dela, tornando aquele beijo o pior dos seus testes.

Supernatural Love (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora