Cuidado durante a noite

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Desabando, ela já não podia acreditar ser possível sentir tanta angústia. Nunca parecia ser suficiente. Tudo doía. Sua cabeça, seu corpo, seu coração inexistente. Anahí não conteve o choro quando caiu abraçando o chão do seu quarto. Os soluços que dava a cada nova sequência era agoniante. Ela sabia que o que tinha dito a Alfonso eram metade verdades e mentiras. Sabia também que o amava, só não entendia porque. Sempre houveram homens bonitos interessados nela, mas ele era diferente.
Ela se apaixonou rápido demais por um homem que a fazia se sentir no céu e no inferno ao mesmo tempo. Agora sim ele ia odiá-la. Talvez fosse mesmo o correto a ser feito. Sua nova fase era difícil e as mudanças se agravavam e ele precisava estar longe dela ou com certeza ia ser morto por suas mãos. Isso sim seria impossível de lidar.

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...
— Cada transa era comum, eu não sentia prazer em me envolver com esses caras. Eu era da vida. Minha função era essa. 
Depois de mais um cliente, fui me limpar e me vestir.
" vou comer algo" mesmo sendo noite, eu não ligava. A noite fazia parte da minha rotina e era comum jantar as uma da manhã. Coloquei um casaco bem agasalhado e fui ao restaurante mais perto da Boate, ao qual eu sempre frequentava. A noite naquela cidade sempre era nublada.
Quando entrei no beco mais estranho do trajeto, senti uma espécie de sombra se movimentar com rapidez. Olhei curiosa, mas decidi continuar a andar. Pluckley era cheia de histórias ruins, e eu não devia ficar tanto tempo parada. Mas antes que eu pudesse me defender, duas mãos firmes me puxaram com avidez. Nem tive tempo de pedir ajuda. Minha boca foi logo amordaçada por mãos frias. Aquele par de olhos vermelhos me fizeram debater-me o máximo que pude. Gritei por socorro, tantas vezes, mas minha voz não tinha som. A pressão sobre o meu corpo era forte demais. Imaginei que as cobras devias fazer sua presa se sentir igual.
Então o meu pescoço ardeu como fogo. "Não podia ser. Não era real".

No fim, depois de tanta luta vã, o frio e a escuridão me corroeram inteiramente.
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A manhã estava mais iluminada que de costume. O sol bateu no corpo dela e a fez ter uma falsa impressão de estar aquecida. Nesses momentos ela agradecia ter seu colar de verbena. Se espreguiçando, levantou e foi a janela abrir as cortinas. Nossa! realmente estava claro. Aquela situação não era comum naquela cidade, geralmente o sol só aparecia às oito e ainda eram seis. Anahí decidiu ir tomar uma ducha e fazer suas higienes matinais. Vestiu uma roupa apropriada, calçou seu tênis claro, amarrou o cabelo no alto e foi se exercitar.
Ela percorreu cerca de 6 km. Isso era uma das vantagens de ser vampira. Seu fôlego e disposição era incrível. Nem ofegante estava. Terminando o percurso se permitiu admirar alguns pássaros, lagos e pessoas que também praticavam exercícios. A única forma de esquecer as suas lamentações era ocupando a mente. já fazia mais de uma semana desde a conversa com Alfonso, e ela fez questão de não evita-lo. Retornando para casa foi até a cozinha beber um pouco de água e se deparou com Maite preparando o café da manhã. Ela estava contente, cantando alguma coisa que ela não conseguiu identificar, enquanto a TV falava no jornal local.

Anahí: Bom dia – cumprimentou abandonando o copo de água sobre a pia.

Maite: Nossa. Você caiu da cama.

Anahí: Não seja tão exagerada. Sempre gostei de caminhadas.

Maite: Não a essa hora, e muito menos no sábado.

Anahí: E você, parece que também amanheceu animada - disse se sentando na cadeira do balcão onde Maite cortava o pão para rechear.

Maite: Culpada - gargalhou - Ele me pediu em namoro.

Anahí: Ele quem?

Maite: Como quem, Annie. William! Quem mais poderia ser - Maite parecia respirar devagar toda vês que pronunciava aquele nome.

Anahí: Que bom. Fico feliz por vocês - Anahí se atreveu a pegar uma fatia de pão, mas Maite lhe deu um tapa na mão em repreensão.

As duas sorriam relaxadas. A fada odiava ser interrompida quando cozinhava.

Maite: A propósito, Dulce ligou dizendo que está tudo bem e que mais tarde retorna para falar com você.

Anahí: Estava na hora. Ela não liga a dias. E pra piorar resolve prolongar a viagem - Anahí parou o raciocínio quando se deu conta do que acabara de dizer - May, você acha que aconteceu alguma coisa pra ela querer passar mais tempo na tia Lucy?

Maite: Eu acho que não. Se tivesse acontecido, ela nos diria.

Anahí: Pode ser.

A conversa das duas foi interrompida pelo som da TV. A música do plantão de notícias sempre assustava os moradores. Maite que adora jornal, aumentou o volume para entender o que a repórter dizia.

— O caso da jovem, identificada como Louise Brown, desaparecida a 4 dias, ainda não foi esclarecido pelo delegado de polícia, o que faz permanecer o mistério. Alguns amigos da vítima falaram tê-la visto da última vez durante a madrugada da noite de quarta-feira, indo ao restaurante Bona grado.. Até então, o único que se tem ao certo é o DNA do sangue encontrado num beco próximo ao loca, que é compatível com o da jovem.

Anahí: Não sei para que assiste essas bobagens. As notícias são sempre as mesmas. Mortes, acidentes. Pura desgraça.

Maite: A cidade anda bem perigosa ultimamente. Pessoas somem, morrem, são assaltadas.

Anahí: Isso faz parte da vida. Veja pelo lado bom... Seria quase impossível algo assim nos afetar.

Maite: Mas nossos amigos podem sofrer.

Anahí: Seus amigos. Corrigindo. Eu não tenho amigos e você sabe o porquê.

Maite: Que tal tomarmos um bom café? Vou pôr esses pães no forno.

Anahí que ainda beliscava uma fatia de pão roubado, mudou o semblante quando sua irmã virou de costas. Ela ficou distraída, inquieta, seus pensamentos agora eram fixados na notícia que acabara de ouvir. A ingenuidade de Maite era tanta enquanto olhava o forno e cantarolava que chegava a ser um crime.
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